Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

>>Mudança de rumo
>>Ouvindo o leitor

Mudança de rumo

Os jornais receberam com estranheza a reação do mercado à decisão do governo de substituir o presidente do Banco do Brasil.

As colunas especializadas informam que o dirigente anterior já estava na corda bamba havia meses, por sua insistência em direcionar a estratégia do banco para um lado que não agradava o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e, por conseguinte, o próprio presidente da República.

Desde que a crise financeira se espalhou pelo mundo, trazendo suas ondas para o Brasil, todo esforço das autoridades econômicas tem sido o de garantir o fluxo de crédito que vinha estimulando os negócios.

Portanto, o Banco do Brasil supostamente andava na direção oposta, ao priorizar seus lucros e manter os juros no mesmo padrão de seus concorrentes do setor privado.

Se os colunistas já sabiam que, mais dia, menos dia, haveria mudança na direção do Banco do Brasil, é porque ouviam rumores no mercado.

E esses rumores vinham provavelmente dos próprios analistas.

Assim, o movimento de queda no valor das ações do banco, registrado ontem com destaque ao longo do dia, nos sites dos jornais, quase não se justifica.

Ou, pelo contrário, justifica-se mas não induz a preocupações maiores quanto à capacidade do banco de repor rapidamente o valor original das ações.

Afinal, tratando-se de um banco sob controle do Estado e integrante essencial da estratégia financeira do governo, nada mais natural que o controlador assuma as rédeas eventualmente para recolocar a instituição no rumo mais adequado.

No caso do Banco do Brasil, seu papel é assegurar o fluxo de crédito, principalmente para os setores da economia que não podem ficar submetidos à ganância da banca privada.

Muito simples assim.

A imprensa não pode tratar o Banco do Brasil como trata os bancos privados.

O desempenho brasileiro na crise demonstra que possuir um banco estatal forte com função social relevante passa a ser uma grande vantagem, mesmo que isso contrarie certos dogmas que se estabeleceram há alguns nas cabeças do jornalismo econômico.

Ouvindo o leitor

Alberto Dines:

– A Folha está mudando ou, se quiserem, estão mudando a Folha. O “Painel do Leitor”, de ontem, quarta, foi um exemplo das importantes alterações em curso. A enorme carta de um entrevistado que deveria ter sido publicada na segunda-feira acabou sendo reproduzida de forma abreviada ontem depois de um acordo entre o editor da seção e o missivista.

Este inédito compromisso foi assumido publicamente, o que também é inédito. O pivô da questão foi a matéria publicada no domingo (5/4) sobre a suposta participação da ministra Dilma Roussef no suposto seqüestro do ministro Delfim Netto durante a ditadura militar [v. abaixo].

A Folha sempre seguiu os dogmas do seu Manual de Redação e jamais admitiu que seus procedimentos pudessem ser impróprios e injustos. Não publicava os questionamentos mais candentes e não dava satisfações. Os críticos mais encarniçados entravam na lista negra e seus nomes desapareciam de suas páginas.

Desta vez, o missivista [Antonio Roberto Espinosa, jornalista e cientista político] divulgou a carta em diversos sites – inclusive no “Observatório da Imprensa” – e diante da repercussão o jornal foi obrigado a recuar.

A Folha também foi obrigada a recuar e desculpar-se há poucas semanas por ter se referido à ditadura militar como “ditabranda”.

O desgaste desta vez durou apenas dois dias. Antes assim. A partir do momento em que a pendência torna-se pública, a Folha certamente prosseguirá na trilha da sensatez e dará divulgação a seus desdobramentos — não na seção de cartas, mas nas páginas do noticiário.

Ganha o leitor, ganha o jornal e, sobretudo, desvenda-se um novo paradigma na imprensa brasileira em substituição à velha arrogância e à incivilidade.