Mudança no clima
Há exatamente dez dias, quando se noticiou que Estados Unidos e China, a duas nações mais poluidoras do mundo, haviam decidido adiar um compromisso formal, internacional, para a redução das emissões de gases que contribuem para o efeito estufa, a imprensa brasileira se apressou em vestir-se de luto e decretar o fim da convenção de Copenhague.
O Globo chegou a publicar que a deliberação basicamente jogava “pelo ralo” as esperanças de uma definição de metas na conferência de dezembro.
A despeito de diversas manifestações de especialistas afirmando que o recuo poderia significar a oportunidade de avanços mais significativos em curto prazo, a imprensa brasileira seguiu puxando os ânimos para baixo.
Faltavam, então, 22 dias para o início do encontro em Copenhague.
Nesse período, outros países, como o Brasil, fizeram avançar suas agendas para ocupar o espaço deixado pelo aparente recuo de americanos e chineses.
Estava claro, segundo o noticiário, que a COP-15, sigla pela qual é denominada a conferência de Copenhague, seria basicamente um encontro para a definição de posições políticas dos países e que, a partir desse entendimento básico, seria possível um consenso sobre metas específicas para 2010.
Para a maior parte dos analistas selecionados pela imprensa brasileira, o evento de Copenhague já era contado como um momento de fracasso.
Nesta quinta-feira, todos os jornais anunciam, com destaque, que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, vai comparecer ao encontro com um compromisso específico: os americanos se propõem a reduzir suas emissões em 17%, até 2020, em relação aos níveis registrados em 2005.
A proposta contém os mesmos números que já foram aprovados na Câmara dos Representantes e tramita no Senado americano devendo ser votados no começo do ano que vem.
È considerada pouco ambiciosa, mas representa uma mudança significativa: o governo Bush era contra o comprometimento com metas numéricas definidas em acordos multilaterais e o Congresso dos Estados Unidos nunca chegou a ratificar o Protocolo de Kyoto, firmado pelos países industrializados em 1997.
Trata-se, portanto, de um grande avanço.
Pessimismo doentio
Parece uma história de suspense que se aproxima de um final feliz.
Mas o noticiário nesse período revela como a imprensa ainda se aproxima do tema aquecimento global de uma forma pessimista e superficial.
Quando americanos e chineses anunciaram sua decisão de adiar a definição de metas, o secretário-executivo da Convenção do Clima das Nações Unidas, Yvo de Boer, declarou considerar a medida saudável, por criar a possibilidade de um entendimento político que daria mais consistência ao que fosse acertado entre os países.
Ele estava repetindo afirmações de cientistas, que alertam para o fato de que a humanidade não terá uma segunda chance para amenizar o processo de mudanças climáticas.
Em poucos dias, revelou-se que ele tinha razão: o Brasil aproveitou o recuo aparente de americanos e chineses e divulgou o compromisso que irá levar a Copenhague.
A União Européia, o Japão, a Rússia e outras comunidades importantes também trataram de definir suas metas.
Na prática, avançou-se rapidamente para um consenso que não havia no começo de novembro.
Ainda há quem discuta o alcance de cada um dos números que será levado a Copenhague.
Também há espaço na imprensa para pessoas que não acreditam no aquecimento global.
De longe, a Noruega é o país que parece estar levando mais a sério a necessidade de interromper o ciclo de aquecimento do planeta. Vai propor um corte de 40% nas suas emissões em relação aos índices de 1990.
Mas, de qualquer maneira, as propostas devem ser consideradas em relação ao atual estado das atividades industriais e dos hábitos da população.
Existe ainda uma margem para avanço representada pelo desenvolvimento de tecnologias mais limpas, que deverá ganhar grande estímulo a partir da conferência de Copenhague.
O mais importante no compromisso coletivo das nações é sinalizar para a mudança de paradigmas na economia e nos negócios.
Com os compromissos multilaterais, estará sendo inaugurada uma nova ordem econômica, que poderá conduzir a humanidade a tempos mais esperançosos.