Nem crianças escapam
Não terá dificuldade quem quiser encontrar sintomas de descarrilamento das normas de convívio social no Brasil: os exemplos vão desde crianças de uma escola feridas em tiroteio numa favela até crianças levadas para um ataque selvagem ao Congresso Nacional. Essas coisas começam com gritos bestiais e terminam em orações fúnebres.
Risos extemporâneos
O Alberto Dines mostra o contraste entre os belos sorrisos de apresentadoras da TV Globo na Copa e o feio retrato da realidade nacional. Fala, Dines.
Dines:
– De que se ri a apresentadora Fátima Bernardes nas suas aparições no Jornal Nacional? Mistério. Parece que foi ordem “de cima”, da direção da emissora, para transmitir otimismo, tanto que a Cristiane Pelajo, no Jornal da Globo, faz a mesmíssima coisa. Se estivessem aqui talvez não mostrassem tanto os seus belíssimos dentes com tanta freqüência. O país vive um dos seus piores momentos. O motim do MLST na Câmara Federal iguala-se aos atentados ao Estado de Direito perpetrados pelo PCC há três semanas. O deputado e ex-jornalista Miro Teixeira em seguida à violência declarou à TV Câmara que os amotinados queriam usar a mídia para chamar a atenção para as suas reivindicações. Conseguiram outra coisa: mostraram que a mídia não pode ficar refém deste tipo de terrorismo político.
Páginas pluralistas
Na edição online do Observatório da Imprensa, Marinilda Carvalho ouviu Eucimar Oliveira, diretor do O Dia, sobre o lançamento do jornal Expresso da Informação pelas Organizações Globo, que já publicam o Globo e o Extra. Para Eucimar, a ausência de pluralismo na imprensa carioca é um problema gravíssimo. Agostinho Vieira, do Globo, responde que ninguém é obrigado a comprar esse ou aquele jornal.
De todo modo, o Globo de hoje oferece pluralismo em suas próprias páginas. Tereza Cruvinel, de Brasília, solidariza-se com os partidos políticos contra a interpretação sobre verticalização nas campanhas eleitorais dada pelo Tribunal Superior Eleitoral. Merval Pereira, do Rio, diz que a decisão do TSE “pode ser a dose de bom senso que faltava para que a vida partidária do país se transforme em alguma coisa menos disforme e incongruente do que é hoje”. Imagine-se a confusão na cabeça dos cidadãos.
Grandes reportagens
Roberto Gazzi, um dos editores executivos do Estado de S. Paulo, falou ontem do caderno bimestral de reportagens criado pelo jornal.
Gazzi:
– Nós tivemos a idéia de fazer um caderno, chamado Retratos do Brasil, para resgatar as grandes reportagens sobre temas variados. O último é sobre futebol, mas já fizemos um caderno sobre armas, próximo do plebiscito [referendo], fizemos um caderno sobre consumo, um caderno sobre mulheres e um caderno chamados Fábricas, que era a propósito do Primeiro de Maio. O que a gente quer com esse caderno, que agora vai ter um esforço grande, para ter uma periodicidade ao menos bimestral, um novo formato, que a gente chama aqui de A4, um formato mais “guardável”, mais próximo de revista, com esse intuito, mesmo, um caderno para ser lido durante vários dias.
Com este princípio: resgatar as grandes reportagens na imprensa diária brasileira. Temos aqui na casa um jornal que era muito identificado com isso, o Jornal da Tarde, conhecido como jornal de grandes reportagens. O Estado também sempre teve grandes reportagens.
Troca-troca capixaba
Victor Gentilli, colaborador do Observatório da Imprensa, chama a atenção para reportagem publicada ontem na Gazeta, de Vitória, sobre nepotismo cruzado. A repórter Gabriela Rölke debruçou-se sobre os diários oficiais dos três poderes e descobriu que espertalhões trocam nomeações de parentes.
Pedestal abaixo
A mídia derrubou do pedestal, após ato fascistóide na Assembléia Legislativa de São Paulo, o menino de ouro do governo Alckmin, o secretário de Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho. A política de segurança já havia sido derrotada pelo crime.
Privatização da autoridade
A história do MLST é tristíssima. O petista Bruno Maranhão é um sobrevivente de velhas e obtusas concepções políticas. A imprensa nunca entendeu a natureza de Frankenstein político do PT. Hoje, no Estadão, Rolf Kuntz escreve que, no governo, o partido “privatizou o patrimônio público mais importante, a autoridade”. O maior risco agora é que o presidente Lula não enxergue para onde isso leva o país.
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