Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Noticiário equilibrado
>>Crise além do calendário

Noticiário equilibrado


A divulgação da reunião ministerial foi feita ontem na televisão de modo equilibrado. Os porta-vozes do governo tiveram garantida sua palavra para defender o governo. Foi dada a palavra ao senador Artur Virgílio, do PSDB, na TV Globo, para breves críticas. Os jornais seguem nesta terça-feira, 20 dezembro, o mesmo padrão. Um noticiário aberto aos argumentos do governo e comentários a cargo de colunistas. Mas, dado o horário em que terminou a reunião fechada, ao longo do dia de hoje surgirão novas análises.


Sob a influência das urnas


A comunicação oficial dos resultados da reunião do presidente Lula com o primeiro escalão de seu governo, feita pelos ministros da coordenação política, Jacques Wagner, e da Integração Regional, Ciro Gomes, reflete a influência da campanha eleitoral antecipada de 2006.


Wagner garantiu que não haverá aventuras macroeconômicas. É um dos recados principais do presidente Lula, algo que só depende principalmente dele.


Ciro se encarregou da comparação com o governo anterior, o que parece ser uma preocupação constante do presidente Lula. O próprio fato de Ciro ter sido escalado para falar sinaliza que ele pode ser um nome oficial alternativo ao de Lula. No Rio de Janeiro, o ex-ministro José Dirceu anunciou que só vota em Lula se ele mudar a política econômica. E isso o presidente não está disposto a fazer. O episódio dá a dimensão do conflito no interior do PT e da dúvida que ainda paira sobre a candidatura do presidente à reeleição.



Crise além do calendário


O Alberto Dines chama a atenção para o desafio que a mídia tem agora. Encerrar um ano que não termina com a troca do calendário.


Dines:


– Nesses últimos dias de dezembro sempre foram obrigatórios nos jornais os balanços e os prognósticos. A imprensa sentia-se obrigada a oferecer uma perspectiva maior sobre o que havia acontecido e os desdobramentos futuros.


Pois é. Faltam apenas onze dias para que o ano termine e ainda apareceram os clássicos balanços e os prognósticos. Uma das causas é que ainda estamos no olho do furacão.


O ano termina oficialmente mas a crise continua. E isso a imprensa está sem coragem de encarar. Pois é exatamente isso que o Observatório da Imprensa vai discutir hoje à noite, às dez e meia na rede da TV-E e às onze na Rede Cultura.



Balanço deve ser isento


O governo tem razão em cobrar da mídia que divulgue os fatos positivos da gestão Lula. Isso não é serviço para o governo. É parte do serviço público que a mídia presta. Nos próximos dias a mídia provavelmente organizará balanços setoriais que permitirão avaliar melhor os êxitos e as falhas da administração federal petista em 2005 e durante os primeiros três anos de governo, algo como os 1.000 dias de Lula.


Ética ameaçada


Acelera-se o movimento para ampliar a área de impunidade dos envolvidos em irregularidades e corrupção no Congresso Nacional. O jornal Valor chama hoje a atenção para a manobra que consistiria em substituir integrantes do Conselho de Ética da Câmra considerados excessivamente independentes por deputados que aceitem submeter seus votos à lógica dos comandos partidários. O ensaio foi feito com a tentativa do PT de tirar do Conselho os deputados Chico Alencar e Orlando Fantazzini, que trocaram o Partido dos Trabalhadores pelo PSOL.


Varig nas sombras


Se existe uma história em que é difícil achar um mocinho, é a história da Varig. Com um agravante: ficou cada vez mais obscura a noção do que é justo ou injusto. A opinião pública assiste com pasmo à transformação do Judiciário em instância de um conflito empresarial, com credores, com prestadores de serviço, com o governo e trabalhista.


A precariedade da cobertura jornalística do caso Varig é antológica. Nenhum veículo fez um balanço das origens dos problemas, nenhum contou simplesmente a história da empresa, de onde ela veio e por que chegou à situação atual. O tempo todo o noticiário foi marcado por estocadas, alusões, retratos muito restritos do panorama.


A ampla reportagem que ganhou manchete no jornal Valor de hoje – sob o título “Auditores apontam fraudes em cinco empresas da Varig” – sintomaticamente começa falando da luta pelo poder no interior da Fundação Ruben Berta. E segue: “O que poucos vêem são as várias decisões dessas facções que provocaram sangrias de milhões de reais dos caixas das companhias do grupo Varig”.


Retratos de Morales


Evo Morales começa a ser apresentado pela mídia com duas faces. A do radical e a do nem tão radical. Demonizar o presidente eleito da Bolívia cria dois problemas. Primeiro, um choque com a votação democrática do eleitorado do país. Segundo, a redução da margem de compreensão e entendimento necessária para enfrentar os problemas da Bolívia. Que são gravíssimos e não comportam soluções milagrosas. Ou alguém tem dúvida disso?