Luciano:
Os jornais abrem a semana estampando entrevistas com ministros do Supremo Tribunal Federal e ainda dando repercussão à decisão da semana passada, quando foram aceitas as denúncias contra ex-dirigentes do PT envolvidos no chamado escândalo do ‘mensalão’.
Mas os jornais ficam devendo uma análise mais rica sobre os efeitos do julgamento no futuro do partido do governo.
A segunda-feira está morna de notícias.
Alberto Dines:
– A semana que passou vai certamente inscrever-se de forma gloriosa na história do judiciário. Mas na história da imprensa representou a continuação de um conflito que começou no ano passado e parece condenado a manter-se aceso por muito tempo. Quanto mais o governo, seu partido e seus aliados acusam a imprensa de parcialidade mais se amplia uma crise que tem tudo para ganhar conotações institucionais. O erro destes falsos observadores da imprensa é presumir que jornalistas não têm brios profissionais nem consciência. Para os detratores da imprensa o fotógrafo que faz um flagrante incômodo ou a repórter que registra uma conversa telefônica num restaurante não são profissionais zelosos, cônscios de seus deveres na busca de fatos. São mercenários, títeres nas mãos de interesses escusos que comandam a mídia. A imprensa, para estes observadores, seria uma entidade abstrata, sem gente, sem alma, sem noção de cidadania enquanto que os quarenta denunciados pelo Ministério Público e agora réus, estes merecem solidariedade, apoio, compreensão. Esta forma de desumanizar e diabolizar instituições assemelha-se àqueles espasmos que desde meados do século passado são conhecidos pelo nome de totalitarismo.
Luciano:
Novidade nas bancas
Chegou às bancas na semana passada a Revista da Semana, nova publicação da Editora Abril.
O leitor estranha seu perfil esquálido – apenas 52 páginas, quase um desses encartes que vêm no jornal de domingo. Mas o próprio presidente e editor da Abril, Roberto Civita, esclarece em editorial: trata-se de um produto quase dietético, sem maiores pretensões do que fazer um resumo das principais notícias que circulam durante a semana, algumas das quais temperadas por opiniões escolhidas.
Quem costuma ler jornais diariamente fica com uma sensação de déjà-vu. Quem não leu jornais recebe um aperitivo que pouco acrescenta em termos de informação.
No entanto, o lançamento é sinal de vitalidade da editora.
A Revista da Semana se propõe a ancorar o noticiário que flutua ainda sem referência na internet.
Pode dar certo.
O herói brasileiro
Veja e Época quase se clonam mutuamente neste final de semana.
Em ambas, o Brasil é apresentado ao seu novo herói, o ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa, relator no processo que levou a julgamento os acusados no escândalo chamado de ‘mensalão’.
De modo geral, as duas revistas fazem um bom trabalho ao destrinchar os votos e tendências dos ministros do STF e esclarecer detalhes do caso.
No entanto, o perfil que fazem do relator Joaquim Barbosa deixa vazar certo deslumbramento com o afrodescendente que subiu na vida e venceu no mundo dos brancos.
Época consegue tratar o ministro com mais naturalidade, destacando sua dedicação aos estudos e sua militância contra o racismo.
Veja destaca que Barbosa fala alemão e adora ternos feitos em Paris.
Só faltou chamá-lo de ‘o Pelé da Justiça’.
A imprensa parece ainda se surpreender com afrodescendentes que se destacam na sociedade sem um pandeiro na mão ou uma chuteira nos pés.
Renan se complica
Veja e Época avançam na história da mais recente pedra no sapato de cromo do senador Renan Calheiros.
As revistas requentam uma denúncia feita no ano passado à Polícia Civil de Brasília por um afilhado de casamento de Renan, e que ganha maior repercussão com a investigação da Polícia Federal.
Bruno Miranda Ribeiro Brito Linz, que Renan ajudou a conduzir ao altar, contou que seu ex-sogro, o empresário Luiz Carlos Garcia Coelho, montou um esquema de coleta em ministérios sob controle do PMDB e lavagem de dinheiro para o presidente do Senado.
Como no caso que levou à cadeia o ex-juiz Nicolau dos Santos Neto, o genro acusa o sogro, vira peça-chave e pode se transformar no tiro de misericórdia contra a carreira política de Renan.
Quarta é dia de julgamento
Os jornais lembram que quarta-feira o Conselho de Ética do Senado vai examinar o primeiro processo, aquele que deu início ao inferno astral do senador Renan Calheiros.
Se os conselheiros entenderem que Renan mentiu, e que as despesas de sua ex-amante, a jornalista Mônica Veloso, foram pagas pelo lobista da empreiteira Mendes Júnior, ele será submetido a julgamento no plenário do Senado.
Existem ainda três outras acusações contra o senador alagoano que poderão ser juntadas ao processo a qualquer momento: o suposto favorecimento à cervejaria Schincariol, a compra de emissoras de rádio em nome de ‘laranjas’ e o envolvimento com esquema de lavagem de dinheiro.
Visita de Jobim
A visita que recebeu do ministro da Defesa, Nelson Jobim, não ajuda em nada o presidente do Senado.
Como rescaldo da conversa com Jobim, Renan teve apenas a sugestão para encerrar logo a fase de discussões no Conselho de Ética, pois quanto mais ele adia a decisão, mais denúncias aparecem.
Jobim apenas aproveitou para se manter no noticiário, na mesma semana em que o Partido dos Trabalhadores discute as alianças para a eleição presidencial de 2010.
Os jornais tratam esses movimentos como se não estivessem relacionados entre si, mas o leitor sabe que, em política, não existe cafezinho sem segundas intenções.
Observatório na TV
A partir desta terça, o programa Observatório da Imprensa na TV passará a ser transmitido ao vivo, as 22:40, tanto na TV-E como na TV-Cultura.
Suprema transparência
O Estado de S.Paulo e a Folha trazem hoje entrevistas exclusivas com dois ministros do Supremo Tribunal Federal.
O Estado entrevistou Celso de Mello e destaca, em página inteira, uma mudança no estilo dos magistrados, que no chamado caso ‘mensalão’ anteciparam juízos de valor ainda na fase de análise da aceitação da denúncia.
Tanto Mello como o entrevistado da Folha, ministro Carlos Ayres Britto, negam interferênias políticas no julgamento.
Britto fez uma declaração polêmica, ao afirmar que a expectativa da sociedade por ética na política influenciou o voto do STF.
Disse que vivemos hoje na ‘idade mídia’, e criticou tanto a divulgação da troca de mensagens eletrônicas entre ministros como a da conversa do ministro Ricardo Lewandowski ao telefone celular.
Para Carlos Britto, que foi filiado ao PT durante dezoito anos, o partido não foi contaminado pelos indícios de delito que aparecem no escândalo do ‘mensalão’.
Ressaca
Os jornais parecem ter usado a segunda-feira para tomar um fôlego.
Nenhum deles traz hoje uma revelação mais relevante ou uma análise mais profunda sobre os acontecimentos dos últimos dias.
Os textos sobre o congresso realizado pelo Partido dos Trabalhadores no final de semana ficam devendo uma interpretação mais clara sobre os rumos que o partido do governo deverá tomar, com a possível condenação de seus ex-dirigentes.
Os títulos são mornos, os textos estão cheios de lugares-comuns.
É como se a imprensa estivesse de ressaca.