O balanço da catástrofe
Os jornais e as revistas de informação mergulharam na tentativa de explicar a catástrofe que se abate sobre o Estado de Santa Catarina há uma semana.
Veja escolheu para a capa o retrato da primeira vítima, uma menina de três anos, soterrada em Blumenau.
Época evitou personalizar a tragédia na capa, mostrando um panorama de Itajaí, em foto feita no dia 24, quando praticamente toda a cidade estava tomada por água e lama.
As duas principais revistas semanais tentam explicar as causas da tragédia, mas Época mergulhou mais fundo, mostrando como os desmatamentos contribuiram decisivamente para que o efeito das fortes chuvas fosse tão devastador.
A publicação da Editora Globo observa que Santa Catarina foi o Estado campeão de desmatamento da Mata Atlântica entre os anos de 2000 e 2005.
Além disso, observa a revista, a substituição da mata nativa por plantações de pinheiros em todo o Vale do Itajaí agravou o problema do escoamento da água.
O resto da tragédia se deve à ocupação desordenada de morros e encostas, em muitos casos com invasão de áreas de preservação permanente.
A análise feita pelas revistas derruba algumas afirmações precipitadas de colunistas de jornais, que apontaram a falta de obras federais e estaduais como causa do desastre.
O que agravou o efeito das chuvas foi exatamente o excesso de intervenção humana numa região já vulnerável.
Detalhes apresentados por especialistas também esclarecem de vez que os alertas de ambientalistas não se referem simplesmente à necessidade de preservar a natureza, mas ao fato de que a ocupação inadequada de áreas cobertas com florestas pode ser fatal para o ser humano.
A catástrofe no Sul do Brasil entra agora no período da reconstrução.
A rápida movimentação das redes de solidariedade tornou desnecessário o envio de mais alimentos e roupas, mas as autoridades sanitárias estão preocupadas com a possibilidade de surtos de doenças.
Pelo menos 100 mil pessoas, em toda a região, podem ter sido contaminadas e já se registram 21 casos suspeitos de leptospirose.
Além disso, a paralisação da economia em algumas cidades cria exércitos de pessoa desocupadas e desesperadas pela perda de suas casas.
Agora é hora de um jornalismo mais cuidadoso e menos espetaculoso.
Sem direito a recesso
As chuvas de verão mal começaram.
A catástrofe que se abateu sobre o Sul do Brasil está longe de terminar.
A imprensa deve continuar atenta e cobrar medidas de longo prazo.
Alberto Dines:
– Começa hoje o último mês do ano: 2008 já era. Governo e imprensa, ultimamente tão próximos e assemelhados, só pensam em 2009. Significa que Dezembro passará em branco? Os próximos 31 dias serão interditados e a vida só recomeçará no dia 5 de janeiro, já que o dia 2 cai numa sexta-feira? Significa que a catástrofe catarinense é assunto encerrado? Os desaparecidos vão aparecer ? Em dezembro não chove, as estradas já estarão recuperadas, a safra agrícola garantida? A mídia, é verdade, movimentou-se, deixou o bem-bom dos estúdios e redações, enfiou-se na lama – parabéns. O chefe do governo movimentou-se, foi lá, viu tudo de helicóptero e adiantou dois bilhões para obras de socorro. Mas tanto a mídia como nossos governos são vocacionados para o varejo, para o factual, não têm apetite para problemas ou ações conjugadas de grande porte. Mesmo que o Estado de S. Catarina comece imediatamente um mutirão para recuperar os estragos, ainda tem pela frente um verão chuvoso. O Estado é rico, sua produção pesa no PIB, a população é alfabetizada, capaz de ser mobilizada para uma empreitada coletiva mas sem um plano de emergência a catástrofe pode agravar os presságios e pressentimentos para 2009 que não são poucos nem desprezíveis. Nosso sistema federativo por acaso impede a intromissão do governo central? Impede mesmo? O governador se oporia a uma reunião ministerial de emergência in loco? Nossa imprensa por acaso já cobrou uma colaboração mais efetiva entre o Estado catarinense e a União? Nos próximos 31 dias muita coisa ainda pode acontecer.