O Brasil é todo ouvidos
O caso do grampo telefônico que atingiu o presidente do Supremo Tribunal Federal aparece no noticiário de hoje como o furacão Gustav: muito barulho para pouco vento.
As edições de hoje indicam que o afastamento temporário do diretor da Abin, Agência Brasileira de Inteligência, Paulo Lacerda, pode ter sido medida suficiente para desviar do Palácio do Planalto mais este vendaval, sem maiores conseqüências.
Se, por um lado, alivia-se o risco de uma crise institucional, por outro lado também se abrem as janelas para nova acomodação que pode empurrar para adiante a solução do problema de origem.
A indignação das autoridades atingidas pelos bisbilhoteiros foi devidamente registrada pela imprensa, mas a falta de indícios sobre a autoria do abuso multiplica o número de suspeitos e prejudica o foco do tiroteio.
Os jornais tendem a apostar que os autores dos grampos ilegais são agentes da Abin, mas ninguém se arrisca a afirmar que eles estariam em missão oficial.
Na versão defendida pelo general Jorge Félix, chefe do Gabinete Institucional da Presidência da República, algum setor ‘degenerado’ da Agência pode ter sido cooptado pelo banqueiro Daniel Dantas para gerar a crise e levar ao descrédito os sistemas judiciário e policial federais.
O caso pode ficar sem solução por excesso de suspeitos.
O Globo lembra reportagem publicada em julho passado, mostrando que em 2007 houve no Brasil 409 mil operações de escuta telefônica, segundo os registros das empresas de telefonia.
A Polícia Federal só admitia, na época, ter patrocinado 48 mil dessas operações, todas com autorização da Justiça Federal.
Por exclusão, o jornal conclui que 361 mil grampos foram autorizados por juízes estaduais, o que pode dar uma idéia de como a bisbilhotice anda solta.
Pela lei, apenas juízes criminais podem autorizar a quebra do sigilo das comunicações, mas a realidade mostra que a escuta tem sido liberada até em causas cíveis, trabalhistas e nas varas de família.
O que a imprensa ainda deixou de fora, provavelmente pela dificuldade de investigar, é o uso privado do grampo de telefones e da comunicação eletrônica.
O caso que envolveu o banqueiro Daniel Dantas e seus oponentes na empresa Brasil Telecom mostra como o Brasil se transformou numa imensa fofoca.
Mas a imprensa também tem sua dose de culpa, ao reproduzir indiscriminadamente informações colhidas pelos bisbilhoteiros e promover o jornalismo dos dossiês.
O bebê republicano
A fotografia da filha mais nova da candidata a vice-presidente do Partido Republicano nas eleições americanas, Sarah Palin, está reproduzida em toda a imprensa .
Acompanham a foto as especulações sobre a vida da família da candidata, governadora do Alasca e esperança dos republicanos de virar o jogo contra o democrata Barack Obama.
Pode parecer exagerado o interesse da imprensa nacional nos detalhes da disputa eleitoral no Estados Unidos, mas existem razões muito sólidas para que os brasileiros prestem atenção nas escolhas que fazem nossos vizinhos do norte.
O crescente protagonismo do Brasil no cenário mundial, aliado às expectativas em torno da crise financeira americana e aos novos sinais de distúrbios na política internacional, aconselham a olhar para além do nosso próprio quintal.
Lá, como cá, um detalhe sobre a vida privada de um candidato pode fazer a diferença.
E essa diferença pode produzir transformações importantes, num momento em que os países emergentes cobram mudanças na pauta do comércio global.
Alberto Dines:
– Impossível discutir neste momento qualquer questão política, em qualquer parte do mundo, sem levar em consideração as eleições presidenciais americanas. O confronto Obama-McCain não é apenas partidário, envolve uma extensa pauta que, na realidade, é a pauta do mundo contemporâneo. No caso brasileiro, com eleições municipais dentro de um mês, a referência ao pleito americano é obrigatória e didática. Hoje no ‘Observatório da Imprensa’. À meia noite e dez na TV-Cultura e, ao vivo, às 22:40 pela TV-Brasil.