Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>O Brasil sobe na tabela
>>A influência da mídia

O Brasil sobe na tabela

O ingresso do Brasil no seleto clube dos países de primeira classe como destino de investimentos é o inevitável destaque de hoje nos mais importantes jornais brasileiros e na imprensa internacional.

Ao alcançar o chamado grau de investimento, o Brasil se qualifica para integrar o roteiro do capital global como alternativa segura, por ter conseguido modernizar seu sistema financeiro, melhorar suas contas públicas, oferecer garantias legais ao assumir e cumprir acordos internacionais e por oferecer uma bolsa de valores classificada entre as mais inovadoras e confiáveis do mundo.

As primeiras conseqüências dessa conquista já estão nas primeiras páginas de hoje.

O Estadão anuncia que as ações de empresas brasileiras voltadas ao mercado interno subiram até 9,2% na Bolsa de Nova York.

O Globo vai no mesmo tema, noticiando que títulos do Brasil disparam nos Estados Unidos.

Apenas a Folha de S.Paulo, para não desmentir seu temperamento ranzinza, conseguiu escapar do ufanismo. O jornal paulista preferiu dar como manchete o temor dos exportadores brasileiros de que o País sofra uma invasão de dólares.

Essa conquista era prevista por profissionais do mercado de ações há mais de dois anos.

O presidente do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores, Geraldo Soares, dizia, pelo menos desde 2006, que esse objetivo seria alcançado em meados de 2008.

Mas os jornais de hoje parecem não ter se preparado para a notícia.
Quem se interessar em conhecer melhor o que significa entrar na elite dos destinos do capital internacional terá que esperar as edições de final de semana.

Trata-se, de fato, de um momento histórico.

No meio de uma crise financeira que tem como epicentro a maior economia do mundo, e na iminência de uma onda de instabilidades provocadas pelo aumento dos preços de alimentos básicos, a conquista de um dos mais elevados grau de investimento coloca o Brasil em condições de se lançar num longo processo de desenvolvimento.

Isso significa que os recursos externos para financiar projetos estarão mais disponíveis.

Mas por enquanto a alegria é de poucos.

O Brasil ainda não tem uma estratégia sustentável de desenvolvimento, que assegure uma distribuição melhor das oportunidades.

Os jornais anunciam a oferta de mais uma dezena de bilhões de dólares em financiamentos pelo Banco Mundial.

Mas boa parte dos projetos do PAC, por exemplo, esbarra em riscos ambientais aos quais a imprensa não dá muita importância.

A palavra-de-ordem é crescer, e o mercado está em festa.

A sociedade espera ser convidada.

A influência da mídia

Existirá alguém no Brasil que não tenha sido induzido pela mídia a condenar liminarmente o pai e a madrasta da menina Isabella Nardoni?

Quando se discute a influência da imprensa, aparecem poucas oportunidades como esta para se entender como ela funciona.

O destino do casal será decidido em júri popular.

Onde encontrar jurados que ainda não tenham opinião formada pelo modo espetaculoso com que a tragédia foi tratada, principalmente pela televisão?

Alberto Dines:

– Quase 99% dos entrevistados pela sondagem CNT/Sensus afirmaram que acompanham o caso Isabella Nardoni pela mídia. Esta preocupante adesão sugere algumas questões muito graves no tocante ao julgamento dos acusados. A primeira delas: o júri popular ao qual será entregue o caso terá condições de julgar os réus com a necessária isenção e imparcialidade? Será possível encontrar um jurado que ainda não tenha opinião formada sobre um caso virado e revirado com tamanha intensidade pelas autoridades policiais e pela mídia? Para que servirão os autos, os laudos periciais, as testemunhas, os argumentos do promotor e dos advogados de defesa se o julgamento já está em curso há algumas semanas? Mais importante ainda: o juiz togado que presidirá o júri terá condições de resistir às pressões produzidas por esta exposição tão intensa? Está evidente agora que este Observatório da Imprensa tinha razão quando reclamou logo na primeira semana contra a quebra do segredo de justiça por todas as partes, a começar pelo representante do ministério público. Para que se faça justiça é indispensável o respeito a certos ritos e entre estes ritos talvez o mais importante seja o sigilo. A confusão, o barulho e o circo só favorecem aqueles que não desejam um julgamento correto e justo. Justo e definitivo.