O congresso é a pauta
Os jornais e revistas do final de semana mantiveram aceso o tema da falta de controle nos gastos do Congresso Nacional, ou, em outras palavras, o escândalo da gastança na Câmara e no Senado.
Nenhuma das reportagens aponta a mais remota possibilidade de mudança de hábitos.
A Folha de S.Paulo fez um retrato da disputa dos grupos de poder pelo espólio da “máfia” criada no Senado Federal pelo ex-diretor Agaciel Maia, que mandou na casa por nada menos do que 14 anos.
O Estado de S.Paulo registra o esforço do senador Renan Calheiros para arrumar um bom posto para o ex-advogado geral do Senado, Alberto Cascais, demitido por defender o nepotismo.
O Globo investiu numa denúncia contra o senador Gérson Camata, do PMDB do Espírito Santo, levantando o fio de uma velha prática: a de cobrar parte dos salários de funcionários para indicá-los a cargos de confiança.
A história ainda tem detalhes escabrosos como o submundo do caixa 2 e as propinas mensais de empreiteira como recompensa pela construção de uma ponte.
As revistas de maior circulação investem nas irregularidades com bilhetes aéreos denunciadas ao longo da semana.
Veja afirma, sobre o Congresso Nacional: “Virou agência de viagem”.
Época emplaca no título da reportagem: “Uma farra paga com nosso dinheiro”.
De quebra, a revista do Grupo Globo ainda dá sobrevida a um tema que os jornais anunciaram e depois esconderam: a proposta do senador Christovam Buarque para que o Congresso seja avaliado por um plebiscito popular.
Quando percebeu que muita gente havia entendido que ele propunha simplesmente o fechamento do Congresso, o senador recuou, mas a idéia ainda fica viva por aí, como uma ameaça no ar.
De todas as manifestações da imprensa nos últimos dias, a da Folha de S.Paulo foi a que mais se aproximou do centro do problema: a questão no Parlamento brasileiro não é apenas o mau uso de passagens de avião, a nomeação de parentes para cargos bem remunerados ou a falta de transparência na prestação de contas.
O problema é a transformação do Congresso Nacional em território de ninguém, onde grupos de poder disputam o direito de explorar as oportunidades de negócio com o dinheiro público.
Mas a imprensa também tem suas preferências e nem tudo está sendo contado aos leitores.
A filial do retrocesso
Alberto Dines:
– Começa amanhã o ano do cinqüentenário da criação de Brasília que se completará em 21 de Abril de 2010. Temos, portanto, um ano para rever o processo que culminou com a transferência da Capital para o Planalto Central. Brasília significava muita coisa para o presidente Juscelino Kubitschek sendo que o significado maior foi a sua transformação em marco do processo de desenvolvimento.
Motivo estratégico menos ostensivo era livrar a Nova Capital das pressões populares em cima do Congresso e do Executivo. O Rio era uma cidade aberta, convite aos comícios e pressões populares.
Agora, com os escândalos em série produzidos no Congresso, temos condições de perceber como Brasília ficou longe do escrutínio dos jornais e da opinião pública. Antes de 1960 uma manchete produzida por um jornal impresso na Rua do Lavradio (ou ali perto na Avenida Gomes Freire) levava multidões ao Palácio do Catete ou à Câmara Federal onde os deputados logo a transformavam em crise nacional. Há dois meses acompanhamos diariamente as estarrecedoras denúncias sobre os abusos cometidos pelos parlamentares com o dinheiro público e nada acontece.
Pior ainda é saber que as irregularidades e ilícitos são antigos e que a imprensa sempre conviveu com eles. Brasília é uma Ilha da Fantasia e da prosperidade, onde todos são amigos, inclusive aqueles que deveriam ser inimigos ou pelo menos adversários, como seria o caso da imprensa e seus fiscalizados. Nesta temporada de denúncias que envolvem o Congresso não há inocentes, todos são culpados ou cúmplices: os que sabiam e calaram e os que não sabiam porque não queriam enxergar.
Brasília começou como um pujante projeto de progresso, hoje num dos ângulos da Praça dos Três Poderes está a filial do retrocesso.