A partir de hoje até 18 de março, Luciano Martins-Costa será substituído pelo jornalista Mauro Malin.
O debate obscurecido
O jogo de cena da votação de hoje do novo valor do salário mínimo deixa na penumbra dois pontos capitais. Um deles é a situação das prefeituras, mencionada no noticiário desta semana. Muitas já infringem a Lei de Responsabilidade Fiscal devido a aumentos anteriores do salário mínimo.
O outro ponto é de natureza estrutural. O governo diz que não tem sentido fazer corte de gastos e aumentá-los com uma elevação do salário mínimo superior à que prevê a regra em vigor. O corte de gastos é um requisito para se poder reduzir, mais à frente, a taxa de juros sem comprometer a política de controlar a inflação. Se a inflação fica fora de controle, volta o aumento dos juros básicos e o crescimento do país tem que ser contido. O que não estará em discussão hoje no palco do Congresso é saber se o país consegue livrar-se da histórica bifurcação: crescer aceleradamente ou controlar a inflação.
Um sistema podre
Acusações feitas pela Polícia Federal a pessoas da cúpula policial fluminense ensinam que não existe uma banda podre, como se costuma dizer, mas um vasto e intrincado sistema de bandidagem e corrupção que é manipulado politicamente. Não existe no Estado do Rio um segmento policial que não abrigue servidores acusados de práticas criminosas ou ilegais. Isso é fruto da democratização atrasada e restrita do país na área da segurança pública. A mídia, ao tomar pelo valor de face declarações e explicações das autoridades, não ajudou o país a avançar.
O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, que é delegado da Polícia Federal, de certa forma ilhado no vértice da pirâmide, procura a cada episódio fazer aliança com auxiliares que estejam de acordo com seus propósitos: combater organizações de traficantes e de milicianos e conseguir, com isso, transmitir à população uma sensação de segurança, ou de menor insegurança. Isso tem que reverter em votos para o governador ou seu candidato à sucessão. De cima para baixo vão se fazendo essas alianças dentro das polícias Civil e Militar. Logo chega-se a um segmento comprometido. Às vezes, bem perto da cúpula. Quando não é a própria cúpula, como no caso dos ex-chefes da Polícia Civil Álvaro Lins e Ricardo Hallak, presos pela Polícia Federal em 2006.
A escolha da delegada Marta Rocha para chefiar a Polícia Civil foi o que Beltrame conseguiu depois da saída de Allan Turnowski, acusado pela Polícia Federal de ter avisado um investigador sobre a Operação Guilhotina, realizada no fim de semana. Turnowski não havia sido escolhido por Beltrame, mas pelo governador Sérgio Cabral Filho.
Não há atividade criminosa importante no Brasil sem participação da polícia. Quando a ditadura deu a militares e policiais carta branca para julgar, condenar e executar, liberou-lhes o território da ilegalidade. E, nesse território, quem determina a lógica são bandidos e suas atividades criminosas.
Oficialismo na TV Cultura de São Paulo
No Jornal da Cultura de ontem (15) à noite houve um episódio constrangedor, mas construtivo. Foi exibida uma reportagem sobre a intenção do governo paulista de regionalizar o atendimento médico em todos os níveis, para evitar a sobrecarga dos centros de excelência da capital com pacientes de cidades do interior. Em seguida, os dois convidados da apresentadora Maria Cristina Poli deram uma bronca no jornalismo da emissora. Demétrio Magnoli e Engênio Bucci – este, colaborador do Observatório da Imprensa – puseram o dedo numa ferida antiga da emissora pública mantida pelo governo paulista. Criticaram o fato de que a reportagem, ao anunciar intenções do governo, funcionava mais como marketing do que como jornalismo. É uma característica que marca o noticiário da TV Cultura há muitos anos.
Maria Cristina Poli argumentou, em defesa da matéria, que o fato de anunciar uma promessa do governo cria a possibilidade de haver cobrança por parte da população. Ela foi elegante ao respeitar escrupulosamente a palavra de seus interlocutores.
(por Mauro Malin)