O debate que falta
O governo federal acaba de tomar decisão importante para a compreensão da estratégia de desenvolvimento que o Brasil adota.
Dos grandes jornais diários de circulação nacional, apenas a Folha de S.Paulo registrou a medida.
Trata-se da redução do valor que as empresas devem pagar por obras como rodovias e hidrelétricas, a título de compensação por danos ambientais.
O valor estabelecido há quase dez anos era de no mínimo 0,5% sobre o custo total da obra.
O Ministério do Meio Ambiente defendia o aumento do piso para 2%, mas, ao contrário das expectativas e da opinião dos ambientalistas, o decreto presidencial noticiado nesta terça-feira pela Folha revela que o Executivo decidiu que 0,5% será o teto máximo da taxa de compensação.
O Estado de S.Paulo ignora o acontecimento, e também não traz outras informações sobre a questão ambiental, porque dedica apenas uma seção fixa, semanal, para o assunto.
O Globo traz hoje o tema meio ambiente, no pé do noticiário científico, mas também deixa passar em branco o decreto presidencial.
Trata-se de medida essencial para sinalizar a verdadeira disposição do governo de preservar o patrimônio biológico do País ao mesmo tempo em que procura acelerar o crescimento econômico.
E o sinal emitido com esse decreto não é verde.
As grandes obras já em andamento ou planejadas no Plano de Aceleração do Crescimento – pacote de empreendimentos com os quais se pretende melhorar e ampliar a infraestrutura de transportes e geração de energia – , têm sido tema constante na imprensa, mas em geral o noticiário se refere a custos ou à conveniência de determinadas escolhas técnicas.
Em raros momentos, no período de quase dois anos em que se desenvolve o PAC, os jornais e revistas colocaram em debate público a estratégia de desenvolvimento no que se refere à sustentabilidade.
O decreto presidencial reduzindo as exigências para a compensação ambiental de grandes obras seria uma grande oportunidade para aprofundar o debate.
Mas a imprensa adora perder oportunidades.
Avançando para trás
O valor das compensações ambientais não é o único elemento para se avaliar as intenções de planos de desenvolvimento no que se refere à preservação ambiental, mas essa questão não deveria ser descartada dos debates econômicos.
No noticiário recente sobre o tema, os jornais têm dado mais atenção às performances midiáticas do ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, do que às medidas efetivas que poderiam resguardar o patrimônio do País nos locais onde há grandes obras em andamento.
A mais recente participação do ministro no espetáculo noticioso foi seu apoio público às tímidas manifestações que ocorreram em algumas cidades em defesa da descriminalização de drogas.
A continuar nesse estilo, Carlos Minc acaba celebrizado como o ministro do meio ambiente que se dedicou à defesa de apenas uma espécie vegetal, a cannabis sativa.
A imprensa parece se divertir, ou pelo menos se distrai com o desempenho pouco convencional do ministro.
Enquanto isso, em termos ambientais o Brasil anda para trás, sob os olhares complacentes da mídia.
Alberto Dines:
– O Brasil não gosta de avançar. O exemplo mais recente são as transmissões ao vivo dos julgamentos do Supremo pela TV-Justiça.
O país é pioneiro neste tipo de transparência, outros países estão copiando o modelo e, de repente, porque dois ministros trocaram insultos diante das câmeras, resolve-se recuar e abrir mão dos avanços.
Já está armado o lobby que defende o fim das transmissões ao vivo e até se montou uma doutrina para reforçá-lo: em transmissões contínuas, sem cortes, os magistrados poderiam sentir-se constrangidos em emitir suas opiniões ou, ao contrário, seriam tentados a esquecer suas convicções para agradar a chamada “galera”.
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