Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>O espetáculo da fome
>>A imprensa dos emergentes

O espetáculo da fome

A ONU anuncia uma campanha internacional para a coleta de fundos destinados a evitar que a inflação de alimentos produza uma tragédia nas comunidades mais pobres de todo o mundo.

Segundo os cálculos de técnicos da FAO, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentos, serão necessários 2 bilhões e meio de dólares para assegurar a nutrição dos povos mais vulneráveis neste momento de emergência.

Não há como não recordar as grandes campanhas lideradas por cantores pop na década de 1980, contra a fome em Bangladesh.

E é exatamente esse o espetáculo que já se desenha em palcos da Europa.

Hoje, a imprensa que se dedica ao entretenimento já começa a especular quem seria o líder da campanha da ONU.

Os nomes dos cantores Bono Vox e Sting lideravam as primeiras listas.

Pode parecer estranho a quem não esteja observando as mudanças que marcam a imprensa nas duas últimas décadas, mas é fato notório que cada vez mais se consolida a mescla entre a informação dita séria e o entretenimento.

Os americanos até cunharam a expressão equivalente a ‘infotenimento’ para identificar o fenômeno.

Trata-se da mobilização de grandes multidões a partir de notícias relacionadas ao mundo do espetáculo e do lazer, em ondas que afetam a economia e a política.

Nesse universo, as celebridades são os novos oráculos e um escândalo envolvendo o jogador de futebol Ronaldo pode atrair mais leitores do que uma nova encíclica do papa.

Nesse cenário, faz sentido o lançamento de uma campanha contra a fome que receba o aval de celebridades.

Num período em que faltam lideranças políticas e se esgarçam as ideologias, a necessária mobilização das vontades tem que acontecer da maneira que for possível.

E a imprensa joga um papel fundamental nesse movimento.

Há um mês, desde quando foi feito o primeiro alerta sobre as conseqüências da inflação de alimentos, a imprensa considerada séria vem batendo cabeça, incapaz de informar seus leitores sobre a gravidade e as razões da emergência – e nem mesmo ensaiou uma proposta de solução para o problema.

Agora que a fome está na iminência de virar espetáculo, com certeza o tema vai encher páginas e mobilizar corações e mentes.

Tudo bem, desde que a imprensa fiscalize o movimento do dinheiro até os pratos dos famintos.

A imprensa dos emergentes

Lançados sob grande espectativa na década passada, os jornais gratuitos se tornaram objeto de estudo dos observadores da mídia em todo o mundo.

No Brasil, o movimento cresceu há pouco mais de um ano, e vem se juntar ao renascimento dos jornais chamados populares, que se dirigem à nova classe média que se consolida neste período de crescimento com estabilidade econômica.

Mas um sinal de alerte se acende no cenário internacional: os gratuitos não andam bem das pernas, e a empresa pioneira do setor está fazendo água.

Luiz Egypto, editor do Observatório da Imprensa:

– Coqueluche do mercado de mídia no fim da década passada, tidos como alternativas poderosas à crise da imprensa diária no século 21, os jornais gratuitos estão agora provando o gosto amargo da diminuição de receitas.

Fenômeno nascido Europa em 1995, com a pioneira empresa sueca Metro, o modelo espalhou-se pelas principais cidades do continente e ampliou seu raio de ação para o mercado americano. Até o ano passado vinha em marcha batida de crescimento, mas o refluxo do mercado publicitário na Europa e nos Estados Unidos atingiu em cheio o negócio.

No primeiro trimestre deste ano, a agora transnacional Metro perdeu 73,4 milhões de euros nas operações que mantém em 23 países, nos quais produz uma circulação diária média de 23 milhões de exemplares. Resultado do baque: corte de custos, redução de empregos, extinção de títulos e redações ainda mais enxutas.

No Brasil, os poucos jornais gratuitos em circulação vão bem, obrigado, embora o modelo de maior sucesso aqui seja o dos jornais de baixíssimo preço de capa, como os distribuídos principalmente em São Paulo, Rio e Belo Horizonte. Estes estão surfando na onda da estabilidade e do crescimento da economia. E a tendência é que continuem assim.