O meio ambiente nos negócios
O trabalho de observar a imprensa exige dois tipos básicos de atenção: o olhar sobre o detalhe, que implica registrar as escolhas de cada dia, o tamanho proporcional das unidades de informação e sua colocação entre os destaques, e a atenção para o todo, o conjunto de notícias de todo dia em relação ao conjunto das edições, por um período mais longo.
No sentido da visão mais ampla, pode-se afirmar que os jornais brasileiros, de modo geral, estão evoluindo no que se refere à abordagem da questão ambiental, mas continuam patinando diante do desafio da desigualdade social.
Tomemos como exemplo a notícia publicada nesta quarta-feira por alguns dos principais jornais do País, dando conta de que a empresa Braskem vai expandir a produção do plástico de etanol a outros países.
A viabilidade da produção industrial do chamado “plástico verde” foi anunciada em junho de 2007, e saudada como uma iniciativa favorável ao meio ambiente.
Nesse período, apenas três anos atrás, o desenvolvimento de tecnologias alternativas para substituir derivados de petróleo e outras iniciativas voltadas para a mudança das matrizes industriais e de energia eram temas de jornalismo científico ou das seções sobre meio ambiente, então ainda incipientes na imprensa brasileira.
O fato de os jornais passarem a incluir os grandes negócios com tecnologia “verde” entre as notícias gerais da economia mostra que, aos poucos, a imprensa brasileira vem admitindo o fato de que um novo paradigma – o da defesa do meio ambiente – está se consolidando nas empresas.
A questão ambiental deixa o nicho onde era isolada e passa a transpassar naturalmente o noticiário econômico, como fator cada vez mais condicionante dos negócios.
Falta acontecer o mesmo com a questão social.
Por enquanto, os jornais ainda tratam o desafio das desigualdades e da pobreza como um problema do governo.
A imprensa evolui, mas de forma lenta, segura e gradual.
Uma ameaça à neutralidade
Luiz Egypto, editor do Observatório da Imprensa:
– Originalmente concebida no âmbito do aparato militar americano, e depois apropriada pela área acadêmica, a internet ganhou enorme popularidade a partir do início de sua exploração comercial, pouco menos de 20 anos atrás. Do surgimento do primeiro computador pessoal, em 1981, até a criação da web, dez anos depois, o impacto das novas tecnologias alterou a compreensão das referências de tempo e espaço e abriu uma vertente nova e infinita para a aventura do conhecimento humano. Em contrapartida, gerou também muito lixo além de modalidades criativas de comportamento criminoso.
Uma característica, porém, permanece inalterada: a neutralidade da rede mundial de computadores. Na internet há garantia absoluta de igualdade de acesso aos conteúdos disponíveis, não importando se este acesso se deu por conexão de banda larguíssima ou por uma simples conexão discada. Independente do serviço que se utilize – e pelo qual em geral se paga – o acesso é amplo e irrestrito. Democrático, a bem dizer.
Não é assim que pensam, contudo, os conglomerados globais de telecomunicações. A noção de neutralidade, para essas companhias, está em rota de colisão com a ideia da ampliação do lucro, via cobrança de novos serviços. De acordo com esta visão, abre-se uma porta para discriminação entre usuários e para a censura ou impedimentos a determinados conteúdos.
Operadoras de telefonia móvel nos Estados Unidos, por exemplo, fazem pressão para que os órgãos reguladores admitam a cobrança de novos serviços para telefones de última geração, verdadeiros computadores de bolso. E há provedores de acesso que dão preferência de tráfego a quem paga as tarifas mais altas.
Tudo depende, claro, de alguma regulação. E, aí, entra o Estado. O governo da Finlândia, por exemplo, conseguiu sancionar uma normativa que considera a banda larga como um direito público. No Chile, o Congresso aprovou em julho medidas que proíbem a discriminação de usuários e de qualquer tipo de bloqueio do acesso à rede. São iniciativas exemplares que visam mais os cidadãos que as empresas. Como deve ser, aliás.
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Referência: ‘¿Quién quiere acabar con la neutralidad en la Red?’ (El País, 9/8/2010)