Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>O ministro fala, a imprensa gosta
>>A velha e boa reportagem

O ministro fala, a imprensa gosta

Os jornalistas foram ontem ao aeroporto do Galeão, no Rio, receber o futuro ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, que retornava de viagem à França.

Minc desembarcou com dez idéias que, segundo anunciou, seriam as condições que apresentaria hoje ao presidente da República para aceitar o cargo.

Depois, alertado por algum conselheiro, refez o discurso e observou que seria indelicado apresentar em público exigências que seriam discutidas em caráter privado com o chefe do Executivo.

Declarou, então, que se tratava de dez propostas que tentaria implementar durante sua gestão.

A imprensa relevou essa gafe.

A primeira medida anunciada por Carlos Minc, e a mais polêmica, seria colocar as Forças Armadas para atuar no patrulhamento das reservas ambientais e outras unidades de conservação da floresta.

Como o futuro ministro chegou muito cedo, os jornais ainda tiveram tempo, no domingo, de ouvir representantes das Forças Armadas, assessores do presidente Lula e o Ministério da Defesa.

Em princípio, constatam os jornais de hoje, a proposta de Carlos Minc não encontra grandes oposições, uma vez que o Exército já atua na Amazônia, geralmente em conjunto com o Ibama e com a Polícia Federal.

Além disso, já está em estudos, no Ibama, a criação da Força Nacional de Segurança Ambiental, uma espécie de polícia ambiental para a Amazônia.

O futuro ministro ignorava que essa proposta já está sendo elaborada há alguns meses, assim como ignora muitas outras coisas importantes sobre a Amazônia e a questão do desenvolvimento sustentável.

A rigor, Carlos Minc é um ambientalista típico dos anos 80, mais conhecido por sua participação em manifestações do que por estudos sobre os conflitos entre o crescimento econômico e a preservação ambiental.

Nos últimos anos, os jornalistas que se interessam pelo tema sustentabilidade têm acompanhado o surgimento de muitos estudiosos envolvidos com a questão, e Carlos Minc não é um desses protagonistas.

Enquanto se desenvolvia o novo debate, que coloca a questão ambiental como o ponto central de qualquer plano de desenvolvimento, ele se ocupava com a política do Rio.

O Globo cita hoje assessores do presidente Lula, dizendo que Carlos Minc tem o estilo de falar muito e que seria preciso ele assumir primeiro para entender sua estratégia para o Ministério.

Talvez ele devesse, antes de anunciar seus planos, ouvir o que tem a dizer sua antecessora.

A entrevista da ex-ministra Marina Silva ao Estado de S.Paulo neste domingo serve como ponto de partida.

Mas alguns dos maiores desafios que Minc vai enfrentar estão longe da Amazônia.

Mais exatamente em Brasília, onde parlamentares, sob o comando do governador do Mato Grosso, Blairo Maggi, tentam abrandar as exigências legais para a atividade econômica na região amazônica.

Um dos objetivos do grupo ruralista é derrubar uma resolução do Conselho Monetário Nacional que, a partir de 1º de julho, obrigará o sistema financeiro a exigir regularidade ambiental como condição para o crédito rural na Amazônia.

Questões como essa vão exigir do novo ministro e da imprensa muito mais do que belas palavras.

A velha e boa reportagem

A Folha de S.Paulo, investiu em reportagem na edição do final de semana.

O resultado é uma história interessante, recheada com o testunho do repórter.

Alberto Dines:

Veja evidentemente tinha obrigação de cobrir o escândalo envolvendo o deputado Paulo Pereira. IstoÉ, não poderia deixar de tratar dos sonhos e seus segredos, Época teve acesso à intimidade da mãe de Isabella e não poderia ficar calada – o último fim de semana seria absolutamente rotineiro em matéria de jornalismo se a Folha não tivesse publicado com grande destaque a reportagem de Raphael Gomide, que fez o curso de formação da Polícia Militar do Rio e contou tudo o que viu e aprendeu como recruta.

Num panorama jornalístico dominado pelos dossiês clandestinos, vazamentos de denúncias, declarações bombásticas e colunas opinativas, o trabalho de Gomide se destaca naturalmente porque é uma reportagem, reportagem clássica e o que falta ao jornalismo brasileiro, é a reportagem clássica, experiência pessoal transformada em palavra impressa, testemunho.

O leitor jamais se cansará de reportagens de rua, o que cansa são as matérias burocráticas produzidas na redação A Folha e Gomide investiram tempo e dinheiro, o repórter agüentou os sete meses de testes e os 23 dias como recruta.

Seu relato não chega a ser emocionante nem trepidante como o do filme ‘Tropa de Elite’ ou do livro Elite da Tropa.

É um testemunho sobre os bastidores da ‘polícia que mais mata e morre’. Sem testemunhos, jornal fica longe dos fatos, sem testemunhos, o leitor fica longe do jornal.