O nome do terrorista
Está no Globo desta sexta-feira um belo exemplo da investigação em jornalismo.
Em pleno período eleitoral, quando o Brasil celebra o amadurecimento de sua democracia, o repórter Chico Otavio desvenda um dos episódios mais obscuros do período da ditadura militar – a formação de um grupo terrorista dentro do aparato estatal, cujo objetivo era interromper o processo de redemocratização.
Sua ação mais ruidosa foi o atentado ao Riocentro, fracassado pela inabilidade de um especialista em bombas, o sargento Guilherme Pereira do Rosário.
O sargento Rosário morreu na ocasião, quando explodiu em seu colo a bomba que deveria provocar uma tragédia durante um show de música popular na noite de 30 de abril de 1981, em comemoração ao Dia do Trabalho.
Meses antes, às 13h40 do dia 27 de agosto de 1980, uma carta-bomba enviada à sede da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro havia provocado a morte da secretária da entidade, Lyda Monteiro.
O governo da época, dirigido pelo general Ernesto Geisel, obstruiu as investigações e a autoria dos atentados continuou restrita ao cadáver do sargento Rosário no Riocentro.
O Globo revela o nome do provável parceiro de Guilherme Pereira do Rosário nos atentados terroristas que se sucederam entre 1970 e 1980: segundo a reportagem, ele se chama Magno Cantarino Motta, tem hoje 65 anos de idade e vive na reserva como segundo-tenente.
Procurado pelo repórter, ele se negou a falar, mas certamente não deverá permanecer mudo por muito tempo.
Os oficiais superiores que o protegiam e de quem ele recebia ordens são bastante conhecidos como os integrantes da chamada “linha dura”, que queriam manter o Brasil sob o regime ditatorial.
Os siderados de plantão vão alegar que a anistia perdoou a todos e que o criminoso deve ser deixado em seu sossego.
Mas não se deve esquecer que ele, seus companheiros e líderes usavam o aparato do Estado para cometer atentados, com a intenção de aterrorizar a população.
O Brasil mudou, as Forças Armadas se afastaram de aventuras políticas e a sociedade não está disposta a tolerar o autoritarismo.
Agora é hora de todo o resto da imprensa seguir o Globo, aprofundar a investigação, revelar o passado do terrorista e de seus apoiadores, e exigir que se faça justiça, enfim, a dona Lyda Monteiro.
O humor é livre
Alberto Dines:
– Com a sua fala mansa e ar sisudo, Carlos Ayres Brito vai oferecer um pouco de descontração a esta tensa e penosa campanha eleitoral. O ministro do STF foi coerente com todos os votos, pareceres e relatórios que submeteu à suprema corte sobre liberdade de expressão e ontem suspendeu a legislação que proibia o uso do humor em programas sobre política e políticos.
O ministro Ayres Brito é um dos mais apreciados pela sociedade graças à sua linguagem clara, posturas inequívocas, vocação didática. A decisão não é definitiva, o mérito do caso será julgado pelo plenário do Supremo provavelmente na próxima semana mas até lá a TV e o rádio ficarão mais leves, espectadores e ouvintes vão sentir-se menos tutelados.
A liberação não afeta o horário eleitoral onde partidos e candidatos apresentam seus programas e postulações. Também não afeta a imprensa – que não depende de concessão e goza de total liberdade. Humoristas, satiristas e chargistas dos veículos impressos mostraram que a legislação agora suspensa não tem cabimento, é inaceitável. Candidatos, partidos e políticos, estes cometeram abusos e foram punidos pela Justiça Eleitoral.
A imprensa, embora liberada, soube comportar-se responsavelmente sem abusos ou atropelo de direitos. Sorrir e rir não fazem mal a ninguém. O verdadeiro humor é amplo, giratório, apontado em todas as direções, socializado. O perigo está na mentira e isto quem julga é o eleitor na hora de votar.