O poder de informar
Hoje estamos conversando com a jornalista Sandrine Lage, autora do livro baseado na pesquisa que se chama O Poder de Informar.
Luciano Martins: – Sandrine, como surgiu a idéia de discutir a cobertura da imprensa a respeito dos temas da sustentabilidade?
Sandrine Lage: – Surgiu em uma altura em que, devido ao poder reconhecido da mídia influenciar mudança de comportamentos e pela constatação de que de fato tem mídias que faziam pouco seu papel inicial. Então o contributo tem estado um pouco como que adormecido, de fato. Foi daí que surgiu o interesse em trabalhar esta área.
Luciano Martins: – Como você definiria o interesse social da mídia na questão da sustentabilidade? Como a mídia idealmente deveria se comportar?
Sandrine Lage: – Um dos casos aqui abordados foi precisamente o exemplo britânico
Luciano Martins: – Como é que a concentração da propriedade dos meios de comunicação pode influenciar no papel ou exercício do jornalismo?
Sandrine Lage: – Influencia na medida em que põe em questão, em alguns casos, a independência. Fica difícil, até porque, quando se procura a questão também do lucro, entre os anunciantes por exemplo e entre aquilo que é publicado em nível editorial, há um conflito. Então, por exemplo, um dos tópicos que o Guardian defende é propriedade sem fins lucrativos no caso da imprensa, que tem o papel de ser, tem a obrigação moral de ser independente. Até porque não há um meio de referência que não possa ter a confiança dos leitores e, cada vez mais, nós vemos que essa propriedade privada que defende os seus próprios interesses está a perder essa confiança na mídia.
Luciano Martins: – A mídia é responsável pela criação da agenda pública, principalmente. Como é que você vê o efeito da falta de interesse da mídia na sustentabilidade, diante da necessidade de discutir coisas cruciais: como a própria sustentabilidade, questões ambientais e sociais no nível da sociedade?
Sandrine Lage: – Algumas das respostas que eu tive em outros meios que não o do Guardian, na realidade, e mesmo no próprio Guardian, elas confrontam-se com a dificuldade, por exemplo, de quererem trazer uma agenda em que muitas as próprias pessoas não estão interessadas. Então há aqui um exercício: muitas vezes poderá não ser manchete, mas eles têm feito um esforço em ir incluindo cada vez mais essa temática nas várias editorias. Mas não é assim tão óbvio e sendo que a abordagem muitas vezes é mais no sentido de apontar o dedo, ou as soluções fáceis, que não existem. Então há aqui um papel do jornalista de investigação, em estudos que estão em análise de ciclo de vida, em vez de estar a apresentar soluções fáceis. O primeiro passo era que aparecessem artigos; isso já foi visto nos últimos anos. Então agora é a questão da qualidade da informação.
Luciano Martins: – Você toma o Guardian como uma espécie de exemplo de vanguarda nesse processo de aproximação da mídia com a questão da sustentabilidade. Do outro lado: quais seriam as características da mídia não-sustentável?
Sandrine Lage: – Eu mantive o foco aqui mais na parte positiva, ou seja, o que é que é preciso fazer para se tornar mais sustentável. Tive algumas experiências traumáticas com alguns dos outros editores com que eu falei. Houve por exemplo uma revista de referência em Portugal que chegou a dizer que eles, na área da sustentabilidade, não tinham currículo, mas tinham cadastro, para você ter uma idéia. É difícil você discutir essa questão com quem não está sequer minimamente receptivo, e daí eu ter recorrido a um bom exemplo para poder, pelo menos, ter a oportunidade de discutir esse assunto; coisa que não é tão viável com outros meios.
Luciano Martins: – Então o bom exemplo é o Guardian?
Sandrine Lage: – Será, sim. Com certeza tem práticas muito inovadoras.