O popular e a mídia
Apesar de ser um tema batido e debatido, não deixa de instigar os analistas da política e da imprensa a permanência da popularidade e da aprovação do presidente Lula em níveis tão elevados.
Os jornais também já não surpreendem e, a cada nova avaliação, voltam a repetir que os brasileiros, em grande número, aprovam Lula e seu governo por causa da percepção de bem-estar econômico.
E acresentam sempre o comentário de especialistas, a afirmar que o bom momento econômico do Brasil se deve ao cenário favorável da economia mundial.
Só que desta vez existe um elemento novo que obriga a análises mais cuidadosas: o cenário internacional apresenta graves turbulências há quase um trimestre, e a nau brasileira segue flutuando sobre o Atlântico.
O quadro das pesquisas CNT/Sensus publicado hoje, que leva em conta o período desde dezembro de 2003 até fevereiro deste ano, mostra que a avaliação positiva do governo Lula sofreu duas quedas importantes, em 2004 e em 2006.
Nessas ocasiões, o presidente e seu governo se encontravam sob intenso bombardeio da mídia, por conta de escândalos envolvendo a cúpula do Partido dos Trabalhadores e a base aliada.
Mas as respostas do presidente a essas crises sempre resultaram em grandes impulsos à sua popularidade, o que pode ser visto pelo ângulo de subida de sua avaliação positiva em todo o período.
O quadro que os jornais apresentam hoje deixa algumas questões a serem digeridas pelo leitor.
Pelo menos por aquele leitor que não se deixa contaminar pelo partidarismo e pratica o interessante exercício da análise da imprensa.
E uma das questões que podem intrigar o leitor é a seguinte: se a mídia, de modo geral, mantém um viés de crítica permanente ao presidente – o que é seu papel –, seja por suas barganhas no Congresso, seja por suas frases de gosto duvidoso, por que a influência da imprensa não se faz sentir na avaliação do governo?
Lula é realmente muito talentoso na arte do convencimento, ou é a imprensa que não está fazendo os questionamentos fundamentais?
A mensagem da Antártida
O presidente Lula aproveitou contato com a imprensa no extremo Sul do continente para fazer aquilo que é sua especialidade: conversar.
E conversou com os jornalistas sobre um tema espinhoso, o caso dos cartões corporativos do governo, assumindo o crédito pela divulgação dos números usados pela mídia para fazer as denúncias de abusos.
Alberto Dines:
– O frio parece que fez bem ao presidente Lula e lá nos confins da Antártida, pela primeira vez em muitos meses, ofereceu um rasgado elogio à imprensa. No domingo, referindo-se ao trabalho dos jornalistas nas revelações sobre os abusos cometidos com os cartões corporativos, o presidente agradeceu à imprensa por ter aproveitado as informações disponibilizadas pelo Portal da Transparência. Graças a isso – disse – o governo consertou o que estava errado. Evidentemente nem todos no governo aprovaram o desempenho da imprensa no caso da farra dos cartões de crédito, um deles é o ministro Jorge Hage, da Controladoria Geral da União, que no Roda Viva de ontem à noite não demonstrou a mesma simpatia pelo trabalho da mídia. Qualquer que seja a opinião dos envolvidos, o caso dos cartões de crédito corporativos será o assunto do Observatório da Imprensa de hoje à noite com a participação da repórter Sonia Filgueiras, do Estado de S.Paulo, a primeira a investigar o assunto. Hoje pela TV-Brasil às 22:40 e pela internet, ao vivo, no site www.tvbrasil.org.br.