O presidente blindado
A Folha de S.Paulo investe hoje em manchete sobre pesquisa Datafolha que revela novo recorde de aprovação do governo Lula.
Na mesma consulta, o instituto de pesquisa observa que a maioria dos brasileiros tem uma expectativa absolutamente contrária ao que induz o noticiário sobre os efeitos da crise econômica na vida das pessoas.
A persistente popularidade do atual presidente da República, que não apenas resiste mas cresce quase ininterruptamente desde 2005, está merecendo uma reflexão mais cuidadosa da imprensa.
Principalmente se for considerado que, em todo esse período, ele tem sido o protagonista preferencial em praticamente todos os fatos que produziram noticiário negativo.
A aprovação da população a Lula da Silva vai na direção oposta à avaliação que faz dele a imprensa, tanto em editoriais quanto nas escolhas dos artigos e no viés escolhido para os títulos de reportagens.
No período de março de 2007 até setembro deste ano, em que a avaliação positiva do governo deu um salto significativo, o presidente da República esteve envolvido em muitas notícias controversas.
O acidente com o Airbus da TAM, ocorrido em julho do ano passado, praticamente foi atirado pela imprensa no colo do governo durante uma semana, até as primeiras investigações revelarem que poderia ter havido uma combinação de erros e problemas técnicos entre as causas do desastre.
O longo e frustrado processo de cassação do ex-presidente do Senado, Renan Calheiros, também respingou no governo.
O debate que levou ao fim da CPMF, as campanhas eleitorais nos municípios, o processo contra o banqueiro Daniel Dantas e muitos outros eventos foram noticiados com referências negativas ao presidente e seu governo.
E nada disso consegue afetá-lo.
Lula agora tem a aprovação majoritária também dos mais ricos e dos mais educados, e chega a ser apoiado por 56% de adeptos do PSDB.
A pesquisa Datafolha também indica que a população é muito mais otimista que a imprensa com relação ao futuro imediato: nada menos do que 78% dos brasileiros acreditam que sua vida vai melhorar em 2009, apesar da grave crise financeira internacional.
Essa constatação, aliada ao índice recorde de 70% da aprovação ao governo Lula, coloca sobre a mesa a seguinte questão: quanto a imprensa ainda influencia a opinião pública?
Faltou solidariedade
A Tribuna da Imprensa deixa de circular.
E a imprensa silencia.
Alberto Dines:
– É incrível a frieza e o distanciamento com que a chamada grande imprensa recebeu a notícia da interrupção das atividades da Tribuna da Imprensa. Mesmo que a interrupção seja superada e o jornal volte a circular, o fato em si merecia ser examinado e analisado com atenção. Em primeiro lugar porque o jornal parou como sempre viveu – atirando. É grave, gravíssima, a denúncia do editor da Tribuna, Hélio Fernandes, contra o ministro do STF, Joaquim Barbosa. A rapidez com que a suprema corte concede um habeas corpus ao banqueiro Daniel Dantas contrasta dramaticamente com a acusação de que o pedido de indenização requerido pelo jornal está há três anos parado nas mãos do ministro, um dos magistrados mais respeitados daquela corte. Só isto já merecia um pouco de atenção da imprensa. É fato histórico, público, notório que o jornal foi o mais perseguido e o mais prejudicado durante os 21 anos da ditadura militar. Este pedido de indenização – independente dos valores e das alegações – está intimamente relacionado com um dos períodos mais negros da história republicana. Convém não esquecer que dentro de oito dias a imprensa estará lembrando os 40 anos do nefasto AI-5 e a Tribuna foi uma das suas maiores vítimas. Uma imprensa que não trata da imprensa não pode pretender a qualificação de isenta, objetiva nem inteligente. Os quase 60 anos da Tribuna não podem ser soterrados com registros distantes de algumas linhas. O leitor, sobretudo o leitor jovem, tem o direito de saber o que aconteceu e o que vai acontecer com o jornal fundado por Carlos Lacerda para combater o getulismo e tinha a lanterna de Diógenes como seu símbolo e inspiração.