Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>O primeiro terremoto
>>Focas pelo ambiente

O primeiro terremoto

A terra tremeu em Minas Gerais, e o Brasil registra sua primeira vítima de terremoto.

A menina Jessiane Oliveira da Silva morreu quando uma parede  desabou sobre sua cama na comunidade de Caraíbas, município de Itacarambi.

Os jornais destacaram a notícia, manchete no Estado de S.Paulo e na Folha, mas trataram o caso como tratam todos os desastres naturais: não há responsáveis, apesar do registro de tremores na região desde o mês de maio.

Uma das características trágicas dos terremotos é que eles não podem ser previstos com exatidão, embora exista a possibilidade de medidas preventivas em regiões próximas de falhas geológicas.

No caso de Caraíbas, geólogos da Universidade de Brasília vinham registrando abalos menores na região há sete meses.

Ao contrário da maioria de seus vizinhos de continente, o Brasil não tinha registro de mortes causadas por terremotos.

Até ontem, a imprensa chamava os casos anteriores de ‘abalos’ ou ‘tremores’, mesmo quando alcançavam graus mais elevados do que aquele que destruiu as casas de Caraíbas.

A morte da menina Jessiane mudou a terminologia. Para a imprensa, o Brasil agora tem terremotos.

Focas pelo ambiente

O Estadão publicou sábado o caderno produzido por alunos do 18o. Curso Intensivo de Jornalismo Aplicado, a chamada ‘escolinha de focas’. Para quem não sabe, ‘foca’ é o apelido que se dá ao jornalista iniciante – supostamente porque, pela inexperiência, acaba ‘levantando a bola’ para o entrevistado, em vez de questionar suas afirmações.

O resultado é um retrato da situação ambiental em São Paulo e sua inserção no problema do aquecimento global.

Estão ali os números das mudanças climáticas nos últimos anos, opiniões de especialistas e depoimentos de moradores.

São oito páginas de bom jornalismo.

Alguma esperança de que a nova geração de profissionais finalmente dê ao assunto a urgência e o cuidado que ele merece.

Grandes jornais

As edições dos jornais paulistas nos finais de semana vêm cada vez mais infladas por anúncios.

Esse é o período em que a imprensa precisa colher o melhor do mercado publicitário, mas é preciso cuidar para que a necessária busca por receita não venha a prejudicar a qualidade editorial.

Dines:

– As edições da Folha e do Estado de ontem, domingo, tinham cerca de 300 páginas cada uma. Além dos cadernos de classificados, ofereciam cerca de 200 páginas, distribuídas no caso do Estadão em 12 cadernos, no caso da Folha em 10. Para ler aqueles calhamaços inteiros seriam necessárias algumas horas, muitas horas, adeus domingo. Ninguém se habilitou ao sacrifício, mesmo porque os dois jornalões chegaram aos assinantes em S. Paulo hermeticamente fechados em pesados envelopes, cortesia de uma poderosa rede de eletrodomésticos. No lugar de facilitar a leitura, atrair os leitores e servir à sociedade, os jornais submetem-se à delirante criatividade dos publicitários e resignam-se a esta clandestinidade forçada. E diante da maciça publicidade, sobretudo imobiliária, a informação torna-se secundária, mero recurso para separar anúncios. As cooperativas de catadores de papel para reciclagem agradecem a generosa oferta de papel, mas o jornalismo e o jornal como instituição são prejudicados. Mesmo as empresas saem perdendo porque com tantas páginas para encher, fica visível a queda da qualidade da informação. Em janeiro, virá o troco: depois da farra natalina, os anunciantes terão que adotar dietas rigorosas e o leitor vai sentir a diferença. Enquanto critica a nova TV-Brasil que só tem uma semana de vida, a mídia impressa entrega-se a uma insana orgia comercial mais perigosa do que a limitada audiência da rede pública de TV.