O réu está nu
Daniel Dantas agora á réu.
Essa é uma notícia destacada em todos os grandes jornais brasileiros. Também há manchetes sobre a declaração do presidente Lula, que se mostrou indignado com o diz-que-diz sobre o afastamento do delegado Protógenes Queiroz do caso Opportunity e exige que ele conclua o relatório.
Mas o fato mais interessante hoje é o processo administrativo que corre no Banco Central apontando indícios de lavagem de dinheiro no Opportunity.
Interessante porque revela o óbvio.
Mais interessante ainda porque esses indícios foram levantados em 2007 e até hoje não haviam sido divulgados.
Além disso, se Dantas não tem demonstrado preocupação com o destino da ação policial que caiu sobre seu império, talvez se sensibilize com o risco de perder algum dinheiro.
Os jornais informam que muitos clientes continuam retirando seus investimentos do banco de Dantas.
Até segunda-feira, o Opoportuniy já havia perdido quase 8% do seu patrimônio.
O Estado de S.Paulo informa em manchete que ‘BC suspeita de lavagem no banco de Daniel Dantas’, explicando que uma das contas investigadas pertence à mulher do banqueiro, Maria Alice, cujo cadastro registra uma renda, não comprovada, de menos de 1.500 reais, mas que chegou a manter um saldo de aplicações de 850 milhões de reais.
O Globo noticia que a Polícia Federal descobriu no disco rígido de um computador do Grupo Opportunity uma lista de pessoas, ONGs, empresas e grupos brasileiros que investiram ilegalmente no banco de Daniel Dantas.
Todos são suspeitos de evasão de divisas.
Mas a notícia mais preocupante para o banqueiro está na Gazeta Mercantil.
O tradicional jornal de negócios informa que a Polícia Federal vai fazer uma vasta varredura nos fundos de investimento do Opportunity, com atenção especial para os 84 cotistas.
Muitos desses cotistas são empresas criadas pelo próprio Dantas, mas outros são brasileiros que podem estar usando o esquema do Opportunity para remeter ilegalmente dinheiro para o exterior.
Se e quando essas informações vierem a público, a sociedade poderá conhecer a verdadeira natureza de muitas fortunas lustrosas.
Radiografia do Brasil
O escândalo que envolve o dono do grupo Opportunity escancara, para quem queira observar a imprensa com atenção, alguns aspectos pouco edificantes da perversa mistura entre negócios públicos e interesses privados no Brasil.
Mostra também que a interpretação das leis pode variar segundo quem está no banco dos réus.
Consideremos, por exemplo, a história contada hoje pela Folha de S.Paulo: no dia 29 de junho passado o jovem Jeferson Herminio Coelho Monteiro, de 18 anos, tentou arrancar uma corrente de ouro do pescoço do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, quando este caminhava em Fortaleza.
O desastrado delinqüente estava desarmado e nem notou que o ministro vinha cercado de seguranças.
Ele não tem antecedentes criminais, não há indícios de que represente grave perigo para a sociedade.
No entanto, mesmo tendo o Ministério Público aprovado seu pedido, o jovem teve negada a solicitação de habeas-corpus.
Segundo a intrepretação vigente nas cabeças coroadas da Justiça brasileira, o candidato a trombadinha é mais perigoso nas ruas do que o banqueiro que coloca sob risco alguns bilhões do tesouro público.
Outro aspecto interessante do noticiário é a sujeira que vaza toda vez que a imprensa reproduz um novo trecho do inquérito sobre o dono do Opportunity.
As gravações e outros documentos coletados pela Polícia Federal já haviam colocado em situação delicada senadores e deputados de partidos variados.
Além disso, brilha no noticiário o advogado e ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh, que a cada dia aparece mais empenhado na defesa dos interesses de Daniel Dantas.
Hoje, a Folha reproduz a gravação de um suposto diálogo entre o cunhado do banqueiro e o porta-voz do Grupo Opportunity, no qual um deles acusa a senadora Kátia Abreu de haver recebido 2 milhões de reais do grupo OAS.
A senadora garante que se trata de uma mentira.
Mas, diante da enxurrada de sujeiras que escorre do inquérito sobre as atividades de Daniel Dantas, vai demorar para a imprensa separar os vilões daqueles que a máfia do banqueiro pretendeu desmoralizar.
A novela não tem data para acabar, e o enredo pode se complicar nos próximos capítulos, com a entrada em cena de um novo personagem.
Salvatore Cacciola vem aí.
Sem, algemas, claro, que ele não é trombadinha.