O tamanho da indignação
Pesquisa Datafolha mostra hoje recuperação da imagem do Congresso Nacional. Tomara que não seja interpretada erroneamente como sintoma de que duas cassações e quatro renúncias possam ter sido uma resposta suficiente à indignação do povo, que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso subestimou ontem no programa Roda Viva, da TV Cultura.
Fernando Henrique e o PT
Fernando Henrique tentou no Roda Viva dourar a pílula da declaração agressiva contra o PT. Disse que a frase “A ética do PT é roubar” foi uma deformação de suas palavras feita pela IstoÉ para colocar uma manchete na capa da edição desta semana.
É assim a frase, reproduzida literalmente no texto da entrevista: “É paradoxal, mas a ética do PT é roubar”. Por alguma razão incompreensível, o redator chefe da IstoÉ, Mario Simas Filho, não contestou Fernando Henrique . No dia 30 de janeiro, na reinauguração do Instituto Social Democrata, o ex-presidente havia dito “Ladrão, nunca mais”.
Fernando Henrique, como Lula, faz um jogo político bruto balizado pelas pesquisas e pelas conveniências partidárias. Ele mesmo explicou, ontem: na hora em que seu partido sofre ameaça de divisão, lança a ofensiva contra o adversário. Alegou que a pesquisa Datafolha mostrando recuperação de Lula ainda não tinha sido divulgada quando deu a entrevista, o que é verdade. Mas em 19 de janeiro foi divulgada pesquisa do Ibope apontando a mesma tendência.
O mais clamoroso na entrevista de ontem foi a ausência de uma palavra sobre o futuro, excetuada a óbvia menção à importância da educação. O ex-presidente e a bancada de entrevistadores só falaram do passado e do presente.
O SBT e o RDB
O Alberto Dines não está satisfeito com a maneira como a mídia cobriu a tragédia do RDB no estacionamento do supermercado Extra.
Dines:
– A explicação da diretoria do supermercado Extra e da gravadora EMI é um escárnio à dor dos enlutados. As três vítimas fatais e os 41 feridos – dois deles em estado grave – foram pisoteados por fãs “exaltados e eufóricos” que compareceram à apresentação da banda juvenil mexicana RBD. Acontece que a mídia novamente está tentando proteger uma empresa de mídia – no caso, o SBT, em cuja novela Rebelde atua o grupo. Se foram distribuídas apenas 102 senhas para a apresentação do grupo e apareceram cinco mil pessoas, de quem é a culpa? Apenas do supermercado e da gravadora ou principalmente da rede de televisão que fez a convocação? Se os fãs estavam exaltados e eufóricos, quem é o responsável pela exaltação e pela euforia? Não faz sentido que a mídia tente minimizar a participação culposa de uma empresa de mídia nesta tragédia. Corporativismo tem limite.
Domingo compungido
Dines, o Estado de S. Paulo desta terça-feira, 7 de fevereiro, repisa em editorial a indignação com a explicação dada pelo Grupo Pão de Açúcar e pela EMI, e pede punição para os responsáveis. O jornal traz cobertura extensa sobre o episódio com o RDB. Diz que só houve solicitação de policiamento em cima da hora.
Em pequena nota de correção, o Estado diz que errou ao publicar, no domingo, que o SBT teve participação direta na organização do evento. A emissora evitou fazer o previsível sensacionalismo com o assunto no programa dominical de Gugu Liberato.
TV digital pode demorar
O Painel da Folha especula hoje que o presidente Lula poderá atrasar a escolha do padrão de TV digital para obter durante o período da campanha eleitoral uma atitude de expectativa, digamos, simpática das redes de televisão, Globo à frente. Na sexta-feira serão conhecidas as conclusões técnicas coordenadas pelo CPQD, instituição de pesquisa subordinada ao Ministério das Comunicações. Antes disso, representantes de diferentes setores farão um debate no plenário da Câmara dos Deputados.
A provocação
Continua-se a discutir de maneira quase abstrata o grave episódio das charges dinamarquesas. Falta na mídia brasileira conhecimento do contexto sociopolítico da iniciativa do jornal da Dinamarca e do apoio recebido de outros. Liberdade de imprensa não combina com irresponsabilidade. No caso, foi pior, foi provocação. Radicais no mundo islâmico aproveitaram para redobrar a virulência das manifestações. No Boston Globe, dos Estados Unidos, um articulista escreveu: “Agora, somos todos dinarmarqueses”. Não, senhor. E quem sabe quantos dinarmarqueses foram contra a provocação?
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