Obama com os pés no chão
A comunicação de massa é realmente um interessante laboratório do comportamento humano.
Até outro dia, a mídia internacional, em peso, e a imprensa brasileira, a reboque, tratavam o novo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, como um ‘messias’.
Alguns tropeços depois, e meia dúzia de desacertos nas indicações de seus assessores, e o clima entre Obama e a imprensa começa a se alterar.
Artigos e reportagens se aproximam, afinal, da incontestável verdade de que o presidente americano é um ser humano que, por mais habilidoso e qualificado, tem pela frente uma tarefa sobre-humana.
No entanto, se o leitor prestar atenção aos fatos, deixando de lado a natural propensão de mistificar as personagens que pontificam na mídia, há de observar que as notícias sobre a ações de Obama à frente da mais poderosa nação do planeta revelam um senso de realidade muito concreto.
Primeiro: confrontado com as controvérsias provocadas pela indicação de assessores enroscados em problemas fiscais, ele soube recuar diante das primeiras suspeitas.
Um sinal de humildade, mas que também indica a fragilidade do sistema de informações que o atende.
(Compare-se, por exemplo, com a insistência do ex-presidente George Bush de manter no governo auxiliares sob suspeita.)
Segundo: sensível à onda de contrariedades provocada pela emenda do Congresso americano ao seu pacote de emergência econômica, que rescendia a protecionismo, ele se posicionou rapidamente no sentido de acalmar os demais países.
A cláusula protecionista exigindo que, no pacote de estímulo à economia, fosse proibida importação de produtos que competem com a indústria americana, acabou sendo amenizada pelo Senado dos Estados Unidos depois que Barack Obama manifestou sua preocupação com o risco de uma guerra comercial.
Embora não garanta a abertura do mercado americano, em seu esforço de recuperação, a versão aprovada pelo Senado pelo menos evita o acirramento dos ânimos.
Outra medida de impacto, que diz muito sobre a verdadeira natureza do governo de Obama, é o estabelecimento de um limite de 500 mil dólares por ano para a remuneração de executivos de empresas socorridas pelo dinheiro público.
Considerados pela própria imprensa como intocáveis sacerdotes do deus mercado, esses executivos são apontados entre os principais responsáveis pela crise financeira que assombra o mundo.
A decisão de impedir que eles sejam premiados por seus fracassos é um grande passo para restabelecer alguma confiança no governo.
A escolhas de cada um
Quanto antes a opinião do público for confrontada com as limitações do presidente dos Estados Unidos, e do próprio Estado, no enfrentamento da crise econômica, melhores as possibilidades de engajamento da sociedade nos novos paradigmas de comportamento que podem ajudar a superá-la.
Um dos pontos cruciais desse desafio é o estado de espírito do chamado mercado – aquela expressão da sociedade que se realiza nos atos de produzir e negociar.
Uma sociedade bem informada, mas otimista, supostamente irá reagir com mais eficiência às medidas oficiais de combate à crise.
Uma sociedade otimista, mas desinformada, pode levar a um consumismo irresponsável.
Uma sociedade pessimista pode simplesmente paralisar o mercado.
Os jornais têm noticiado que o brasileiro é um dos povos mais otimistas do mundo, diante da possibilidade de superação da crise em prazo relativamente curto.
As pesquisas sobre o otimismo dos brasileiros não combinam com o pessimismo geral do noticiàrio, e algumas ponderações precisam ser feitas a respeito dessa contradição.
É preciso observar, por exemplo, que os dados disponíveis ainda não produzem massa crítica suficiente para que os analistas e observadores da cena econômica cheguem a conclusões ou previsões seguras.
No entanto, os jornais insistem em produzir ‘pensatas’ mais ou menos alucinadas sobre o que vai acontecer no Brasil neste e nos próximos anos.
Não há registro de momentos como esse na história do capitalismo.
Portanto, existem poucos paradigmas disponíveis para comparação, mas o choque de alguns indicadores extremamente negativos, destacados isoladamente no noticiário, pode induzir a conclusões precipitadas.
O cenário, segundo alguns analistas ouvidos durante esta semana em programas de TV especializados e reproduzidos pela imprensa escrita, é bastante divergente daquele que vem sendo apresentado por apresentadores e comentaristas com cadeira cativa nas emissoras.
É razoável supor que, diante das expectativas mais otimistas reveladas pelos brasileiros, analistas a serviço dos bancos temem parecer excessivamente cautelosos.
O que resta ainda inexplicado é por que, na comparação, os jornalistas de economia seguem sendo muito mais pessimistas que os economistas que eles entrevistam.