Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Onde começa a violência
>>Uma revisão histórica

Onde começa a violência

Entre 18h25 e 18h30 de ontem, a Rede Globo manteve no ar uma cena de violência, na qual um rapaz agredia uma jovem dentro de um banheiro.

Duas horas depois, o Jornal Nacional exibia uma reportagem sobre violência.

A cena anterior é parte da rotina de novelas, minisséries e filmes apresentados pela emissora.

A reportagem é o início de uma série que pretende denunciar a banalização da violência a partir de fatos do cotidiano.

A primeira reportagem da série abordou os casos de assédio nas escolas, que a imprensa está tratando pela expressão em inglês ‘bullying’, mostrando como pequenos atos de intolerância entre crianças e adolescentes podem evoluir para casos de violência grave.

A edição foi elaborada com cuidado para mostrar a relação entre esses atos aparentemente banais, muitas vezes tolerados pelas direções das escolas, e os números que fazem do Brasil um dos lugares mais violentos do mundo.

Mas, pelo menos no trabalho inicial, a série prometida pela emissora se limita a uma escola de classe média de Minas Gerais.

Quando os jornalistas chegarem às escolas públicas vão constatar que 83,4% dos estudantes declaram estudar em ambientes submetidos a atos de violência.

A pesquisa foi feita em 2004 pela Unesco, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura.

Houve 50 mil mortes violentas no Brasil em 2006.

Para se ter uma idéia de proporção, no Iraque em guerra 34 mil civis foram mortos no mesmo período.

Entre 10% e 12% dos assassinatos em todo o mundo ocorrem no Brasil, que possui apenas 3% da população mundial.

A primeira reportagem da Globo, que tem transcrição e vídeo no site globo.com, enuncia que o grau de civilidade de um país se mede pelo número de crimes com mortes.

Os estudiosos citados pelos jornalistas dão fundamentação teórica consistente à tese da banalização de pequenas agressões como causa importante do grande problema nacional.

A Globo anuncia o proesseguimento da série de reportagens. Só não se espere que a emissora, seu site, sua central de informações e seus jornais um dia consigam enxergar alguma relação entre o fenômeno da banalizacão da violência e certas cenas apresentadas em novelas liberadas para horário infantil.

Uma revisão histórica

A imprensa brasileira está produzindo uma importante revisão dos fatos que antecederam a decretação do Ato Institucional número 5, há quarenta anos, consolidando o endurecimento da ditadura militar.

As reportagens estão esclarecendo o papel cumprido pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Congresso Nacional no processo de supressão das liberdades democráticas que lançou o Brasil no período sombrio que durou vinte anos.

O trabalho é importante, porque a partir dele pode-se observar as fragilidades da jovem democracia brasileira.

O Observatório da Imprensa na TV também vai discutir o tema, analisando o papel da imprensa no episódio e certas heranças que o jornalismo brasileiro resiste em assumir.

Alberto Dines:

– Os 40 anos da decretação do AI-5 estão sendo rememorados pela mídia com muita intensidade. Muito mais intensidade do que há 10 anos. A grande imprensa não esperou o fim de semana 13-14 de Dezembro (que seria a data certa) e antecipou a cobertura história por uma semana. Isso é muito bom.

Quanto mais tempo nos debruçarmos sobre os fatos históricos, mais dimensão poderemos dar à revisão. Mas o que chama a atenção nesta rememoração conjunta são sutis semelhanças: todos os jornais a começaram no domingo e nenhum tratou da auto-censura aceita em diferentes graus pela maioria dos jornais.

Esta e outras questões sobre o abominável AI-5 serão discutidas hoje no OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA. Na TV Cultura à meia-noite e dez e na TV Brasil, ao vivo, às 22:40. Em S.Paulo, neste mesmo horário, pelo Canal 4 da Net.