Opinião pública e povo
Em discurso na Câmara em março, o deputado Roberto Brant, do PFL mineiro, acusado de ter sido beneficiado pelo valerioduto mas absolvido no plenário, estabeleceu uma distinção entre opinião pública e povo. Dava a entender que a imprensa dialoga com a opinião pública de classe média, mas não com o povo, que elege os parlamentares. Esse tópico voltou recentemente à berlinda. Se a tese fosse verdadeira, a opinião pública, em sintonia com a imprensa, não teria conseguido reverter a descalibrada decisão das Mesas do Congresso.
Malha fina na radiodifusão
Ontem, pela primeira vez, a Comissão de Ciência, Tecnologia e Comunicação da Câmara rejeitou em massa pedidos de renovação e concessão de novas outorgas de rádio e televisão. É um trabalho liderado pela deputada Luíza Erundina, do PSB paulista, com apoio do presidente da Comissão, deputado Vic Peres Franco, do PFL paraense. O Ministério das Comunicações, acostumado a ter sinal livre no Congresso, passou recibo. O ministro Hélio Costa disse, segundo o Estadão: “Isso aqui é uma provocação porque não deixamos a comissão agir intempestivamente e prejudicar 225 emissoras”. Ele se referia aos processos de outorga ou renovação retirados da Câmara pelo governo quando a Comissão começou a examiná-los detalhadamente.
Editora com foco
A jornalista Renata Borges, que dirige a editora Peirópolis, foi uma das participantes do I Fórum Brasil Memória em Rede, realizado no início do mês em São Paulo. Ela explica que a estratégia da editora consiste em ter um foco preciso.
Renata:
– A gente considera que uma editora é um nó de rede. Tem que ter um ponto de partida muito forte, uma boa localização, ou seja, uma missão, uma orientação muito forte, de forma que você possa manter uma rede de relacionamentos tanto com seu público leitor quanto com os seus possíveis autores e parceiros institucionais. Ou seja, você tem que saber exatamente como editar esse manancial, essa infinidade de assuntos e temáticas que é necessário tratar no mundo de hoje. E a Peirópolis tem um ponto de partida muito bem definido, um perfil muito bem definido, e trabalha em parceria com organizações sociais justamente na identificação dos conteúdos e aprendizados dessas instituições, para poder disseminar esses aprendizados.
Mauro:
– Renata, da editora Peirópolis, diz que há pouco espaço para divulgar muitos livros na mídia.
Renata:
– Eu acho que a mídia não dá espaço para o livro. A mídia não trata bem o livro. Existe uma impossibilidade entre oferta e demanda. São publicados centenas de títulos por dia que a mídia não dá conta de noticiar. Da mesma forma que a gente edita a nossa missão, a gente tem que editar a nossa atuação em relação à imprensa. Como comunicadores que somos, temos que escolher os veículos certos para atingir aquele público segmentado, aquele público que a gente sabe que é para quem a gente está publicando.
Corrupção e jornalismo
É grande o constrangimento na redação da TV Globo e na sucursal da Folha de S. Paulo no Rio de Janeiro, por onde passou o repórter José Messias Xavier, acusado pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal de vender informações para o crime organizado. Ainda na sexta-feira, dia em que foi desencadeada a primeira operação contra policiais acusados de envolvimento com o narcotráfico, ele estava com outros jornalistas na sede carioca da Polícia Federal.
A consternação é tanto maior porque a corrupção é considerada um fenômeno cada vez mais distante das atuais gerações de jornalistas.
Fim de festa
Jogo de empurra, no noticiário, entre a governadora Rosinha Matheus e seu ex-secretário de Segurança, Marcelo Itagiba, deputado federal eleito, a respeito das denúncias há muito feitas contra o ex-chefe da Polícia Civil, Álvaro Lins, deputado estadual eleito. Os três são do PMDB, o partido do governador eleito, Sérgio Cabral. O delegado de Polícia Alexandre Neto faz hoje no Globo um balanço crítico da área de segurança de todos os governos fluminenses desde 1983. Poderia ter recuado mais.
Bom dia, Paraguai
A imprensa brasileira, para variar, acorda um belo dia e descobre que ignorou solenemente a realidade política de um vizinho. O jornal Valor avisa hoje que um possível candidato de oposição à presidência do Paraguai, o bispo Fernando Lugo, é favorito e, se concorrer e ganhar, vai querer rever os contratos de Itaipu. Como no caso da Petrobrás na Bolívia, são contratos que líderes paraguaios consideram lesivos aos interesses de seu país.