Os bons negócios eleitorais
A cassação do prefeito paulistano Gilberto Kassab foi suspensa pelo mesmo juiz que a havia decretado, e a imprensa aproveita para discutir o sistema de financiamento de campanha.
O Globo observa que as mesmas empresas que fizeram as doações consideradas ilegais para o prefeito também ajudaram outros candidatos, com quase R$ 30 milhões, nas eleições de 2006 e 2008.
A diferença na interpretação da Justiça, explica o jornal, é que, no caso de São Paulo, tais empresas são também prestadoras de serviços à prefeitura, e suas doações certamente influenciam nas escolhas do prefeito, à revelia dos interesses do município.
O Estado de S.Paulo havia publicado, na segunda-feira, que Kassab favoreceu as empresas que o ajudaram na campanha, com contratos no valor total de R$ 243 milhões de reais.
A notícia, que foi reproduzida também pelo telejornal local da TV Globo e em sites jornalísticos, demonstra que a principal motivação dos doadores é estabelecer pré-contratos com a administração pública, que serão cumpridos na forma da venda de serviços ou produtos depois da posse.
Considerando-se os valores informados pelo Estadão, trata-se de um grande negócio para as empresas doadoras, pois cada real destinado ao candidato pode se reproduzir em milhões de reais em contratos públicos.
Só quem perde é a população.
Com as cartas marcadas, outras empresas são excluídas desse mercado, e nada assegura que as licitações não sejam de alguma forma manipuladas para garantir o cumprimento dos acordos.
Quando ganha a oportunidade de recuperar o dinheiro investido em doações de campanha, a tendência da empresa doadora é apertar ao máximo os custos e aumentar o quanto possível os recebimentos, para, como se diz no jargão dos negócios, maximizar os resultados.
Para a população, essa equação quase sempre resulta em maus serviços, em produtos de menor valor, em menos qualidade na prestação dos serviços públicos.
O sistema eleitoral transforma a população brasileira em refém dessas negociações obscuras.
Os jornais contam parte da história, noticiam as decisões judiciais, as declarações a favor e contra, mas nunca mergulham no sistema que está por trás.
No terreno pantanoso onde a iniciativa privada encontra os cofres públicos, todas as ideologias se dissolvem, desaparece a controvérsia sobre o tamanho do Estado e esvaziam-se os dogmas liberais que a imprensa costuma tratar como temas sagrados.
Reaquecendo o debate
A prisão do governador licenciado do Distrito Federal, a ameaça de cassação do prefeito de São Paulo e outros assuntos quentes da política, afastaram os jornais do debate sobre o 3o. Programa Nacional dos Direitos Humanos.
O decreto governamental, que abrange um amplo espectro de temas essenciais ao bom funcionamento da democracia brasileira, acabou sendo debatido em apenas alguns aspectos, aqueles mais ruidosos e polêmicos.
Com isso, perde-se a oportunidade de colocar sobre a mesa questões como o sistema eleitoral, metas da educação e o modelo de desenvolvimento do País.
A impressão que fica é de que a imprensa nem chegou a ler o decreto.
Alberto Dines:
O “Observatório da Imprensa” volta hoje com suas edições ao vivo depois da reapresentação dos especiais produzidos em 2009. Começaremos com o surpreendente caso do 3º Programa Nacional de Direitos Humanos. Anunciado pelo governo no final do ano passado, semanas depois foi convertido em celeuma nacional simplesmente porque a imprensa esqueceu de estudá-lo antes da publicação. Em seguida, aferrada a uma questão insignificante tentou-se desqualificar o programa inteiro. A idéia de considerar a baixaria televisiva como violação dos direitos humanos foi apresentada numa das primeiras edições do “Observatório”, ainda em 1998, pelo então secretário-geral dos direitos humanos. Vamos rever este depoimento, ouvir novamente José Gregori, seu sucessor, o ministro Paulo Vanucci, jornalistas da grande imprensa e especialistas. Este é um caso que não pode ser esquecido. Na TV-Brasil, em rede nacional, às 11 da noite. Em S.Paulo pelo Canal 4 da Net e 181 da TVA.