Os meninos mimados
O indiciamento e a prisão do goleiro Bruno Fernandes, atleta do Flamengo, traz à tona uma questão relevante sobre como a imprensa trata, ou deve tratar, as celebridades do mundo esportivo.
O colunista Luiz Garcia, do Globo, aborda o tema nesta terça-feira, cobrando dos clubes que cuidem melhor da formação moral e cívica de seus atletas, se não por uma questão ética e humanitária, pelo menos por interesse de preservar seu patrimônio.
A jornalista Ruth de Aquino, que assina a página “Nossa antena”, na revista Época, também comenta na presente edição os danos financeiros sofridos pelo Flamengo com o envolvimento do goleiro Bruno no desaparecimento da jovem Eliza Samudio.
E observa que os clubes costumam transformar jogadores em astros mimados, vaidosos, indisciplinados e sem limites.
Os dois jornalistas fazem a ressalva de que o caso que envolve o goleiro é um episódio extremo, mas faz parte de um contexto que inclui a omissão dos clubes no acompanhamento da vida privada de seus atletas.
Ruth de Aquino lembra outras histórias de mau comportamento, como o do atacante Edmundo, que em dezembro de 1995 se envolveu num acidente de trânsito, no qual morreram três pessoas.
Bruno Fernandes era o capitão da equipe, o que demandaria ainda maior cobrança por parte da direção técnica do Flamengo, por sua ascendência e influência sobre os demais atletas.
Seu substituto, o goleiro Marcelo Lomba, também foi acusado, no ano passado, de agredir uma ex-namorada.
Segundo a Folha de S.Paulo, a diretoria do Flamengo está dando sinais de que irá cuidar melhor de seus atletas fora de campo.
A presidente do clube, a ex-nadadora olímpica Patrícia Amorim, reuniu os jogadores nesta segunda-feira para lhes pedir maior cuidado com o comportamento.
Ocupada em relatar os detalhes do crime atribuído ao goleiro Bruno Fernandes, a imprensa ainda não entrou para valer nesse aspecto da questão.
Afinal, até onde deve ir a privacidade das celebridades do futebol?
Até onde vai a responsabilidade dos clubes, que normalmente prendem esses jovens a contratos rigorosos ainda na adolescência, submetendo-os ao regime de reclusão das concentrações?
Onde se aplica, nesse caso, o Estatuto da Criança e do Adolescente?
Perguntas que os jornais deveriam estar fazendo, na reabertura do Campeonato Nacional, que vai lançar novos candidatos a celebridades.
A nova Copa vem aí
Os olhos do mundo esportivo se voltam para o Brasil, escolhido para sede da próxima Copa do Mundo, em 2014.
As notícias desta terça-feira dão conta de que as obras de estádios, rodovias, aeroportos e de toda a infra-estrutura necessária para abrigar um evento dessa magnitude estão atrasadas.
Claramente, o noticiário esportivo, nesse caso, começa a ser contaminado pela disputa eleitoral, com políticos sendo convidados a dar suas opiniões.
É função da imprensa manter os olhos da população abertos para desvios e sinais de irregularidades.
No entanto, é preciso definir o que são atribuições de autoridades públicas e o que é papel de entidades privadas, como a CBF e a Fifa.
Se a cobertura da Copa que vai acontecer daqui a quatro anos começar enviezada, pode terminar errante como a trajetória da “jabulani”.
A seleção volta a campo, renovada, dentro de um mês, em jogo amistoso.
Os torcedores estarão de olho, para formar suas opiniões e renovar suas esperanças de um novo título.
Mas é preciso também observar a imprensa.
Alberto Dines:
– A cobertura da Copa foi quadrada e os balanços foram pífios. E antes mesmo de entrar no ritmo de 2014 é preciso examinar os grandes fracassos de 2010. Em campo e fora dele. O presidente Lula deu o tom: tocou no problema crucial e tabu – a renovação no comando da CBF.
A mídia não esteve bem nesta Copa e o culpado não foi o técnico Dunga. Quer fazer um replay crítico ? Então assista à edição de hoje do Observatório da Imprensa. Às dez da noite, pela TV-Brasil, ao vivo, em rede nacional. Em S. Paulo, Canal 4 da NET e 181 da TVA.