Partidos e democracia
Que os mandatos são dos partidos já se sabe desde que Getúlio Vargas, em 1945, encarregou Agamenon Magalhães de fazer uma lei eleitoral para eleições que se anunciavam inevitáveis com a queda iminente da ditadura do Estado Novo. O problema é que os partidos brasileiros foram deixando de ser partidos. Hoje a Folha condena em editorial a decisão do TSE de punir a infidelidade, mas o noticiário a aplaude. Sem o empenho do Legislativo a reforma da política brasileira não avançará. Mas quem disse que os integrantes do Legislativo estão interessados em aprimorar a democracia?
Valerioduto desencavado
Alberto Dines saúda a retomada da investigação do valerioduto.
Dines:
– Ontem, a Folha de S. Paulo destacou uma informação da maior gravidade: um laudo do Instituto de Criminalística encaminhado à Polícia Federal confirmou o uso de dinheiro do Banco do Brasil para alimentar o valerioduto entre 2001 e 2005. A imprensa andava esquecida do mensalão. Esquecida, sobretudo, de que nas últimas eleições o governo e o partido do governo não perdiam uma oportunidade para denunciá-la como “golpista” por ter insistido na cobertura do escândalo, alias um dos maiores da República. O silêncio da mídia sobre o valerioduto por tanto tempo sugeria um mea-culpa, parecia que ela enfiava a carapuça. Agora, finalmente, dois repórteres da Folha, Leonardo Souza e Andréa Michael, revelam que a nossa imprensa recuperou a sua garra. Tudo indica que o mensalão saiu da toca. Justamente no momento em que a Polícia Federal está em estado de greve por melhores salários e o seu Diretor, Paulo Lacerda, não sabe se vai ou se fica. Vamos ver se o assunto não vai novamente para o fundo da gaveta.
Ainda na gaveta
O Jornal Nacional, da Rede Globo, repercutiu a reportagem da Folha. Ouviu representantes de diferentes partes envolvidas, assim como o deputado Gustavo Fruet, sub-relator da CPI dos Correios. Fruet explicou que a Polícia Federal teve mais tempo e recursos técnicos para fazer sua investigação. Hoje, a Folha publica carta de assessor de imprensa do Banco do Brasil. Diz que a empresa Visanet, não o banco, é apontada como financiadora do valerioduto. Nada sobre o assunto nos outros jornais. A mídia provavelmente voltará ao tema quando o inquérito for adiante.
Crime organizado
A repórter Márcia Brasil, do jornal O Dia, voltou a mostrar, na semana passada, a conexão entre o tráfico no morro da Mangueira, no Rio, a guerrilha colombiana e o narcotráfico. É um panorama diferente, muito mais pesado, do que apresentava, quando era inspetora da Polícia do Rio, a deputada Marina Maggessi.
Márcia:
– Evidentemente que existem locais hoje no Rio de Janeiro onde existe isso que a inspetora fala: um bando de alucinados que não têm o menor comando e saem praticando atrocidades, não há dúvida. Em razão de vários motivos que a gente conhece. Várias lideranças, se a gente pode chamar assim, do tráfico estão presas, e outras morreram. Agora, tem outros lugares, como a Mangueira, por exemplo, onde a coisa é extremamente organizada, não tem como negar. Entre outros lugares. Não só no Rio. A coisa se alastrou de uma forma que no interior de Pernambuco já tem, se a gente fosse brincar um pouco com essas novidades de terrorismo, células do CV [Comando Vermelho]. Eles alugam, levam armas de porte, fuzis, metralhadoras antiaéreas, para poder realizar assaltos. Isso tudo está documentado.
Mauro:
– Márcia Brasil fala da contradição entre a cobertura das conseqüências e a análise das causas.
Márcia:
– A gente tem às vezes matérias que ficam quase um mês e meio para serem publicadas, num domingo, e a gente não consegue, o dia-a-dia não permite. É tanta coisa acontecendo, uma atrás da outra, que a gente fica só na ponta e não consegue subir um pouco mais. Mostrar a ponta, a conseqüência, é muito importante, é o nosso dia-a-dia. Agora, tem uma hora que tem que parar para poder pensar, subir um pouco mais para mostrar a causa. E a gente até tem dificuldade de fazer isso.
Racismo em ação
Jornalistas devem no mínimo tentar, em seus relatos da realidade, estabelecer relações de causa e efeito. Ontem na televisão, salvo na Bandeirantes, e hoje nos jornais não se faz a conexão do atentado contra estudantes negros em Brasília e as declarações feitas na véspera pela ministra da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro. O Estadão conseguiu a proeza de repercutir o debate racial sem nem sequer dar a notícia do incêndio no alojamento da Universidade de Brasília.
Defesa do turista
O vereador de São Paulo Agnaldo Timóteo defende a liberdade de garotas de 16 anos serem objeto de turismo sexual. Está preocupado com a repressão aos turistas que o praticam. A notícia está no Estadão de hoje.