Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Pausa na baixaria
>>Fatos, factóides e versões

Pausa na baixaria

Os principais diários do País, aqueles considerados de circulação nacional, voltam à velha rotina de cobrir a campanha eleitoral à base de declarações especialmente selecionadas.

Ou seja, a imprensa tradicional brasileira segue sendo pautada pelos marqueteiros de campanha, embora pareça que a campanha de verdade para o segundo turno ainda não tenha esquentado.

Explica-se: enquanto não se define para que lado vai a senadora Marina Silva e seu Partido Verde, qualquer movimento mais agressivo pode significar a perda de votos.

A senadora acreana continua agindo como a evangelizadora em casa de tolerância.

Segundo os jornais, ela chegou a ironizar a ânsia de alguns de seus correligionários por ministérios, na negociação iniciada por uma oferta de cinco bons empregos pelo candidato do PSDB, José Serra.

Para o nível de alguns dirigentes do Partido Verde, brincou Marina, basta pensar num conselho de estatal que já estaria bom.

Como se vê, é bem provável que a candidata opte por uma direção, ou por se manter neutra e calada, enquanto seu partido se divide como sempre esteve, optando por se manter agarrado a cargos tanto federais como estaduais.

Com exceção de Marina, de seu candidato a vice, o empresário Guilherme Leal, do ex-candidato a senador Ricardo Young e mais uns dois ou três figurantes, não se distinguem no palco verde protagonistas capazes de personificar a reserva moral identificada na candidatura que provocou o segundo turno.

Portanto, muito provavelmente a própria imprensa vai esquecer os temas que a candidatura da senadora agregou à campanha.

Marina Silva já sonhou mediar uma convergência entre partidos de esquerda e centro-esquerda, composta por um núcleo de petistas e tucanos, com parcelas do PMDB e de partidos menores, capaz de ressuscitar a aliança que conduziu o processo de redemocratização, com um programa de desenvolvimento sustentável como meta principal.

Mas essa idéia não passou de um delírio. A imprensa não lhe deu a menor atenção e o personalismo das lideranças partidárias, de qualquer maneira, não permitiria que a proposta avançasse.

Nos próximos dias, o discurso ambientalista volta ao segundo plano e a campanha cai de novo na baixaria.

Com a ponderável contribuição da imprensa.

Fatos, factóides e versões

Enquanto os partidos reorganizam seus discursos, a imprensa engajada faz sua parte.

Até a falta de acontecimento pode virar notícia.

O lançamento do livro do jornalista Merval Pereira, marcado para este sábado, dia 9, na Livraria Cultura, em São Paulo, é um evento cultural, jornalístico, ou parte da campanha eleitoral?

Pereira, colunista do Globo dedicado quase exclusivamente a criticar diariamente o governo do presidente Lula da Silva, juntou seus artigos em um livro intitulado ‘O Lulismo no Poder’, no qual defende a tese predominante na imprensa sobre supostos pendores autoritários do atual chefe do governo.

Lançado na Academia Brasileira de Letras, dia 28 de setembro, com ampla cobertura da imprensa, o livro será o ponto de partida para uma palestra do autor seguida de debate com o público, com transmissão ao vivo pela rádio CBN, do grupo Globo.

Até aí, registrado o senso de oportunidade da editora, pode-se especular quanto um evento como esse se confunde com os fatos da campanha eleitoral.

Considere-se também a possibilidade de militantes petistas comparecerem em grande número ao evento e temos aí os ingredientes para algo mais do que um debate.

O engajamento da imprensa em uma das candidaturas, oficializado pelo jornal O Estado de S.Paulo e demonstrado diariamente pelos outros grandes veículos de circulação nacional, autoriza todo tipo de especulação em torno do noticiário durante o período eleitoral.

Também funciona como um antídoto para o próprio noticiário, de modo que, no clima de desconfiança na imprensa criado pela própria imprensa, prepara-se o terreno até mesmo para mistificações em torno das realizações do governo.

Como a imprensa age claramente como um partido de oposição, extrapolando seu papel de crítica dos poderes, a propaganda governamental acaba por empurrar como verdade absoluta tudo que sai do Planalto.

O trabalho dos marqueteiros completa o quadro.

E os eleitores vão às urnas movidos mais por emoção e preconceito do que pela informação.