Pesos e medidas
A crise aérea é o problema que mais diretamente afeta as camadas da população que lêem jornal, mas nas edições de hoje o assunto perde de goleada para a xaroposa novela de Renan Calheiros. No Globo, para dar o exemplo mais clamoroso, a manchete é da crise aérea, mas enquanto esta ocupa uma página e meia na Economia, Renan e seus pares ganham quase quatro na Política.
A pauta sofre
Um dos argumentos do presidente do Senado para se defender é afetar suposta normalidade dos trabalhos na Casa. Mas o jornal Valor afirma hoje que a crise ameaça a pauta de votações, em especial assuntos de grande interesse do governo, como prorrogação da CPMF e da Desvinculação das Receitas da União, Orçamento para 2008 e recursos do PAC.
Voadoras
A mídia demorou para começar a explicar por que as empresas aéreas têm parte da responsabilidade na crise dos aeroportos.
Televisão influencia
A psicanalista Maria Rita Kehl participou no fim de semana passado do seminário Mídia e Psicologia, promovido no Rio de Janeiro pelo Conselho Federal de Psicologia. Ela fala sobre o argumento de que a televisão não produz nenhuma influência sobre o comportamento dos telespectadores, quando se sabe que a publicidade passa o tempo todo pesquisando como isso acontece.
Maria Rita:
– Eu acho esse argumento puramente cínico. Eu não acredito que mesmo as pessoas que falem isso acreditem no que falam. Em primeiro lugar, por essa razão. A televisão comercial depende da publicidade e os gastos das empresas com publicidade atestam que eles acreditam que a publicidade muda o comportamento. Se muda o comportamento no sentido de indicar objetos para compra – você é da Nike, ou da Coca-Cola –, se a influência de você exibir aquela marca e associar aquela marca com atitudes, festa, etc., se isso muda, por que a gente há de imaginar que só o que é explícito do incentivo da compra da marca é que vai influenciar? E todo o resto que vem junto com a publicidade?
Então, uma publicidade de carro, em que a virtude é o cara correr que nem um louco, passar na frente de todo mundo, quem disse que está sendo vendida ali a marca Volkswagen, ou a marca Ford, e não está sendo vendida ali, também, a valorização de ultrapassar limites de velocidade. Um exemplo bem banal. Está tudo no mesmo pacote. Na forma de imagens atraentes, interessantes. E são as mesmas imagens que aparecem também nas telenovelas. É evidente que aí a influência não é só aquilo que vem através de um imperativo: Compre tal coisa, você vai gostar. A influência é aquilo que vai produzindo um campo de identificações. Você começa a ver o Brasil pela TV. Como você deve ser, o que é desejável, o que é bonito, o que é feio, o que é bom… Tudo isso vai passando por esse campo.
Então, assim como a gente dizia que um professor que desse bom exemplo influenciaria seus alunos, hoje, que as crianças passam mais tempo na frente da televisão do que com os pais, com os professores, o maior campo de influência é esse. Não quer dizer que seja o único. Felizmente.
Ecos franceses
O editor do Observatório da Imprensa Online, Luiz Egypto, fala da luta de redações de jornais franceses pela independência editorial.
Egypto:
– O anúncio da venda do maior jornal econômico da França, o diário Les Échos, para o magnata Bernard Arnault mobilizou os jornalistas franceses organizados em torno do Fórum Permanente das Sociedades de Jornalistas. A informação é de Leneide Duarte-Plon, de Paris, em matéria para a edição online deste Observatório [ver aqui].
O Fórum foi criado quatro anos atrás como defesa contra as diferentes formas de intervenção que limitam o trabalho independente das Redações. Os jornalistas temem que o controle do mais importante diário francês de economia e negócios pelo homem mais rico da França possa comprometer o pluralismo da imprensa econômica. E consideram que isso é uma questão de Estado. Tanto que, na quarta-feira passada, enviaram uma carta ao presidente da República, Nicolas Sarkozy, solicitando audiência para apresentar “propostas concretas” que permitam “garantir a independência das Redações sem interferir no poder legítimo dos editores”.
Essa moda está longe de ser copiada por aqui: na França, as Redações são muito ciosas de sua autonomia.
Águas obscuras
O noticiário sobre a transposição das águas do Rio São Francisco é escasso e tem conotação policial, centrado na expulsão de manifestantes. Debate sobre a natureza e a validade da obra, que é bom, não se encontra.