A lei e a vida
Mudanças de legislação foram feitas nos últimos 17 anos, desde o seqüestro do publicitário Roberto Medina no Rio de Janeiro, e a situação só se agravou. Em editorial chamado “Falsa solução”, o Globo anota que a legislação tem falhas, mas afirma que a mudança da maioridade penal “será apenas antecipar o adestramento desses jovens no banditismo, despachando-os para penitenciárias que funcionam como escolas de pós-graduação para marginais”.
Clima de “nunca mais”
Alberto Dines diz que a hora de comoção deve ser aproveitada para que se enxerguem urgências da vida brasileira.
Dines:
– Pode entrar para a história a entrevista da jornalista Fátima Bernardes com os pais de João Hélio, a criança martirizada pelos bandidos no Rio, apresentada domingo no Fantástico e parcialmente repetida ontem no Jornal Nacional e no Jornal da Globo. A jornalista cumpriu uma missão difícil, a Rede Globo foi decisiva, mas quem tocou na alma do país inteiro foram os país da criança. Ou melhor, as suas palavras. Destroçados pela barbaridade, conseguiram apelar para a razão. Articulados, conseguiram superar as emoções. Tocaram os corações, tocaram as mentes e alguma coisa começou a se mexer no coração da sociedade brasileira. Há um clima de “Nunca Mais” no ar que precisa ser aproveitado. Juristas e magistrados acham perigoso mexer na legislação em momentos dramáticos, mas o Brasil mexe nas leis, nos códigos e até na Constituição com uma facilidade e uma freqüência que beira a irresponsabilidade. Não cabe à mídia decidir o que precisa ser feito, mas cabe a ela colocar urgências e premências na agenda nacional.
Mauro:
– Alberto Dines estará hoje no programa de televisão do Observatório, às 10h30 da noite, ao vivo, na TV E, e às 11h40 na TV Cultura de São Paulo.
Cocaína em Diadema
A Globo navegou entre sensacionalismo e seriedade no noticiário dos últimos dias sobre a violência. A Bandeirantes exibiu ontem um espantoso vídeo sobre uma festa do PCC em Diadema, na Grande São Paulo, com muita cocaína. Uma espécie de celebração do crime.
Polícia bandida
É sintomático e preocupante o silêncio sobre reportagem publicada domingo no Globo a respeito da enorme votação obtida por ex-autoridades da segurança pública em comunidades dominadas pelas chamadas milícias, grupos de extermínio integrados por políciais e ex-policiais. Saiu apenas um editorial na Folha de hoje. A repórter do Globo Elenilce Bottari, co-autora da reportagem, atribui à carga de tragédias do fim de semana a desatenção geral.
Elenilce:
– O factual acabou atropelando essa discussão, que eu acho também que seria importante, sobre a criação cada vez maior de currais eleitorais que visam, na verdade, perpetuar o crime. Há também muito essa preocupação, não sei se é por causa da nova concorrência… Assuntos às vezes de muita importância, mas aí nem todos os órgãos vão repercutir, não sei se por uma questão de concorrência ou se por falta, sei lá, de atenção a um assunto que eu acho cada dia mais grave no estado.
Mauro:
– Elenilce opina sobre os passos seguintes nessa investigação.
Elenilce:
– Tem dois pontos que eu acho que são importantes. Há um lado que tem que ser investigado, seja pelo Ministério Público Eleitoral, seja também pelo próprio Ministério Público Estadual, e isso na esfera de crime, porque o que a gente vê é que em algumas dessas comunidades eles podem conseguir votos de forma honesta, mas em outras é através da coação. Isso é muito claro. Que há muita coação em áreas dominadas, por parte desses milicianos, para que a população vote em seus representantes. Então, acho que isso é uma questão de polícia, sim. E o outro lado é a questão ética. Porque é muito difícil um candidato entrar numa comunidade dessa, dominada, sem passar por essa milícia, sem conversar com ela, sem saber exatamente do que se trata.
Mauro:
– O jornal O Dia destaca hoje a preparação de uma megainvasão da Cidade de Deus por milícias.
Censura e fuso horário
Aumenta a pressão das emissoras de televisão para mudar a portaria sobre classificação indicativa de programação publicada ontem. As emissoras falam em ameaça de censura, que o Ministério da Justiça nega. A obrigação de seguir os fusos horários do país mexe com todo o sistema de transmissão em rede e de venda de publicidade. Mas é de se perguntar se no Acre, por exemplo, que durante o horário de verão fica com três horas menos que Brasília, as escolas, os hospitais, o serviço público, o jantar da família, a missa seguem o horário local ou o da capital federal.