Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Política policialesca
>>Discrição da mídia ajudou João Paulo

Política policialesca


Mattoso versus Palocci é o grande duelo do noticiário policial estampado nas páginas de política de hoje. Sinal dos tempos.


Duelo na mídia


O ministro do Trabalho, Luís Marinho, faturou ontem em rede nacional o aumento do salário mínimo. A Petrobrás fará campanha milionária em torno da auto-suficiência na produção de petróleo. O presidente Lula usa cerimônias oficiais como palanques dia sim, o outro também.


Não espanta que a oposição vá procurar criar manchetes para se contrapor a essa artilharia.


A conta-gotas


Registre-se que o Jornal Nacional tem procurado não dar palanque ao presidente Lula. Ontem, a passagem de Lula pela fábrica da Ford na Bahia foi registrada numa nota de 60 palavras. E a notícia da conversa com o astronauta não chegou a 70 palavras.


Discrição da mídia ajudou João Paulo


O Alberto Dines aponta responsabilidade da mídia na absolvição do deputado João Paulo Cunha.


Dines:


– A absolvição do ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha, vai aumentar com toda a certeza o nível da indignação popular mas a votação já era previsível um dia antes através do noticiário dos jornalões. Ontem nenhum deles destacou na primeira página a importância do julgamento que ocorreria naquele dia. A notícia ficou confinada às páginas internas e, sobretudo, sem os elementos que a tornariam relevante. João Paulo Cunha presidiu a Câmara no auge do mensalão, sua participação no escandaloso valerioduto só perde para o desempenho de Roberto Jefferson e José Dirceu, padrinhos e mentores do vergonhoso processo, ambos cassados. João Paulo Cunha introduziu Marcos Valério na vida íntima da Câmara, favoreceu-o fraudulentamente num contrato de publicidade e, ainda por cima, desmoralizou a Casa do Povo ao convertê-la em tema de uma campanha de anúncios como se fosse marca de cerveja ou loja de geladeiras. E justamente por causa desta inédita campanha na TV, nos jornais e nas revistas é que a mídia não pode minuciar todas as infrações cometidas por João Paulo Cunha. Ela foi a beneficiaria da fraude. Punir aquele que usou recursos públicos para promover uma instituição desmoralizada implicaria numa punição para aqueles que não tiveram escrúpulos em embolsar o dinheiro – a mídia. Um pouco mais de ênfase no noticiário de ontem e João Paulo Cunha não estaria inocentado no noticiário de hoje.


O pioneiro da operação-abafa


Não dá para ter cem por cento de certeza de que uma posição mais firme da imprensa teria resultado na cassação de João Paulo Cunha. Mas teria tornado mais difícil a vida do deputado.


João Paulo mandou processar o Jornal do Brasil quando este publicou, em setembro de 2004, a primeira denúncia sobre o mensalão, feita pelo deputado Miro Teixeira. João Paulo instaurou um inquérito pró-forma, Miro negou que tivesse informações sobre o assunto e em outubro daquele ano o JB foi obrigado pela Justiça a publicar um direito de resposta assinado pelo então presidente da Câmara. A mídia foi silenciada ali. Só acordou em junho seguinte, quando Roberto Jefferson celebrizou o mensalão, na primeira entrevista à Folha de S. Paulo.


João Paulo, que havia sido o primeiro grande responsável pela operação-abafa, ontem atacou a imprensa. O país perdeu mais uma batalha na Câmara dos Deputados.


Essa absolvição recoloca em questão o voto secreto no plenário da Câmara.


O que foi retirado na CPI


Comemorações e agressões verbais à parte, é interessante estudar o que foi retirado da versão final do relatório da CPI dos Correios. É uma pequena amostra do sistema de pressões no Congresso, um retrato minimalista da política, do Estado e da economia do país.


Jornalistas e poder


Só hoje sai num grande jornal, a Folha, um perfil profissional do jornalista Marcelo Netto. A primeira notícia sobre sua possível participação no vazamento do sigilo bancário do caseiro Francenildo foi publicada há 15 dias pelo Correio Braziliense.


Seja qual for a verdade, ou a versão final sobre o vazamento, a troca de informações entre a jornalista Helena Chagas, do Globo, e o ministro Palocci é mais um dado, com o perfil de Marcelo Netto, para a análise do jornalismo em Brasília.


Bizarro nacionalismo de esquerda


O professor Demétrio Magnoli chama a atenção nesta quinta-feira, 6 de abril, na Folha, para o fato de que o candidato à presidência do Peru Ollanta Humala é o que de mais próximo do fascismo existe na América do Sul. O nacionalismo de esquerda, uma espécie de aberração latino-americana, suscita confusões. Vale citar, por exemplo, a trajetória do coronel Juan Domingo Perón na Argentina.


# # #


Leitor, participe: escreva para noradio@ig.com.br.