Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Por motivo de força maior, não houve programa no dia 14 de julho.

O texto abaixo reproduz o comentário de Alberto Dines que iria ao ar nesta sexta-feira, 14 de julho, mas não pôde ser reproduzido, bem como o restante do conteúdo

Continua a vergonhosa exploração eleitoral da nova onda de ataques do PCC. Tanto o governo como a oposição não parecem ter pudor em tirar proveitos desta tragédia cívica. E alguém precisa dizer isso.


Os jornalões nacionais só noticiaram a ofensiva, ontem, quinta-feira, mas a função da imprensa, sobretudo nesta Era da Internet, não consiste apenas em informar. Cabe a ela analisar, contribuir para a formação de juízos já que o cidadão está hoje mais desnorteado do que nunca.


Na quinta-feira, o Estadão simplesmente não se manifestou a respeito da nova ofensiva terrorista. A Folha identificou o ponto crucial: a retórica dos políticos confunde e ofende a opinião pública. O Globo tocou igualmente na questão central: se as autoridades não se entenderem a crise se converterá em barbárie.


Mas em situações de emergência como esta, se a imprensa quer influir precisa falar mais alto. Gritar.


O leitor médio não costuma ler os editoriais, a não ser quando eles vão para a primeira página. Em momentos como este é que a imprensa torna-se indispensável. Por isso não pode ficar aos sussurros.


Programa 310
>>Bomba de ação retardada
>>Eleições em risco


Bomba de ação retardada


Mais uma vez, a cidade de São Paulo amanhece em silêncio, sem ônibus. O governador Claudio Lembo, que herdou de Geraldo Alckmin uma bomba de ação retardada, não tem como controlar a situação a curto prazo. Não há solução sem desarticulação do PCC. E isso provoca reações fortíssimas. É uma espécie de guerra que vai se prolongar.


A lista da Folha


A Folha de S. Paulo afirma hoje que o surto atual começou antes da circulação da edição de ontem com uma lista de presos que iriam para a prisão federal do Paraná. De fato, o governo do estado já havia anunciado que haverá transferências.


A lista foi passada à Folha por gente do governo com intenções obscuras. Não foi inventada.


Eleições em risco


Alberto Dines pede que a questão da violência seja enfrentada imediatamente, antes das eleições.


Dines:


– Quando se pedia que a mídia convocasse antes das eleições todas as partes e todos partidos para um pacto nacional contra a violência acharam que a idéia não fazia sentido, a idéia era ingênua, a idéia era despropositada. A mídia cobriu a violência e lavou as mãos, não era com ela. Ontem, diante da nova ofensiva do PCC, ficou evidente que este pacto contra a violência é imperioso, este pacto é inadiável. As jogadas politiqueiras tanto do governo federal como do governo paulista comprovam o que foi dito aqui: Marcola vai ganhar todas as paradas enquanto a questão da violência for tratada eleitoralmente. Deixar a questão da violência para depois das eleições é capitular diante da força de Marcola. Só a mídia tem condições de obrigar os candidatos e os partidos a comportarem-se de forma responsável. A luta contra a violência tem que ficar fora da agenda eleitoral. Caso contrário, até as eleições correm perigo.



Império da manipulação


A união contra o crime é o ideal, é imperiosa, mas as partes, governo federal e governos estaduais, preferem manipular politicamente a crise, mentir, tergiversar, ao invés de assumir suas responsabilidades.


Ontem as redes de televisão resolveram ocultar, mais do que mostrar a extensão dos ataques.


A mídia não consegue tirar a máscara dos governos federal e estaduais. Autoridades paulistas prevêem que a crise vai durar até o fim do ano. Por que o fim do ano? Porque é quando se encerra o mandato do atual governador. É uma data política.


A imprensa não consegue cumprir sua tarefa enquanto se limita a divulgar e repercutir declarações oficiais. Nenhuma declaração pode ser aceita sem crítica.


Leis e cárceres frágeis


O repórter Cícero Affonso, do jornal Oeste Notícias, de Presidente Prudente, cobre polícia há quase vinte anos. Seu diagnóstico mostra a fragilidade das leis e dos cárceres.


Afonso:


– O nosso código penal arcaico oferece situações para advogados espertos. A gente sabe que há algumas situações em que o cidadão é preso com um carregamento de droga, ele sai em muito pouco tempo da cadeia, dependendo da atuação do seu advogado. Isso dentro das brechas que são encontradas no Código Penal. Deveria, sim, ser modificado, com muita urgência. O sistema penitenciário, há algum tempo atrás, acabou oferecendo uma oportunidade para que algumas pessoas pudessem ter alguns privilégios, e esses privilégios acabaram levando à situação que nós estamos passando neste exato momento em todo o estado de São Paulo, e que às vezes até acaba vazando para outros estados do país.



O Estado deve


O ponto de partida da crise é o descumprimento, pelo Estado, de suas obrigações legais. Por isso o governo paulista há muito negocia com presos. Mesmo o Código Penal arcaico permitiria algum controle da segurança e da violência, caso fosse observado.


Marco da politização


Em 1990, o então governador Orestes Quércia conseguiu eleger para sucedê-lo seu secretário de Segurança Pública, um ex-oficial da Polícia Militar e promotor de Justiça, Luís Antônio Fleury Filho. Daí em diante todos os ocupantes de cargos estratégicos na segurança pública tiveram ambição política redobrada. É só ver, a cada eleição, o número de candidatos egressos das polícias civil e militar e do Ministério Público. A visão técnica foi substituída pelo apetite político.


Não há vagas


Em meio ao mandato de Fleury, em 1992, houve o massacre do Carandiru. A população carcerária paulista era na época de pouco mais de 50 mil presos. Hoje está em 140 mil presos, e oficialmente as vagas não passam de 93 mil.


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