PP e PT
Termina em opróbrio, como diria Tancredo Neves, o Partido Progressista, PP, herdeiro em linha direta da ditadura militar, via PPB, PDS e Arena. Termina num movimento de pinça em que duas pontas se unem por denúncias de corrupção. Em Brasília, são 110 mil reais que supostamente Severino Cavalcanti teria recebido do dono de restaurante Sebastião Buani. Em São Paulo, onde a escala é outra, são quase 5 bilhões de reais que o Ministério Público que ver Paulo Maluf restituir ao erário. Apesar da idade, Delfim Netto agilmente já abandona o navio. No meio do caminho, os José Janene, Pedro Corrêia, Pedro Henry e assemelhados, encurralados, alguns, por pedidos de cassação de mandato.
O que nem as mentes mais criativas poderiam imaginar seria, no momento em que o partido herdeiro da ditadura, o PP de Maluf e Severino, se estilhaça, a derrocada ética de um partido que encarnou muitas esperanças quando a ditadura entrou em declínio, há vinte e cinco anos. A foto de Sérgio Buarque de Holanda ao lado de Olívio Dutra e Lula na fundação do PT é uma dor na parede. Que o diga Antonio Candido de Mello e Souza.
Os Malufes
A Justiça pode decidir hoje se aceita a decretação da prisão de Paulo e de Flávio Maluf. Se acontecer, garantirá farto material na mídia no fim de semana.
Terrorismo em Marília
O partido da ditadura agoniza, mas alguns métodos usados pela linha dura militar reaparecem, ou são copiados. O Alberto Dines chama a atenção para a gravidade do ataque ao Diário de Marília e às rádios Diário FM e Dirceu AM, no interior de São Paulo.
Dines:
– Mauro, este atentado em Marília a um jornal e duas rádios é fato da maior gravidade. Desde o golpe militar de 1964 (e antes dele o suicídio de Getúlio Vargas) que não assistíamos a um atentado à democracia tão ostensivo e com esta dimensão. No passado, os jornais foram destruídos – ou empastelados, como se dizia – por turbas atiçadas por agentes provocadores. Agora temos um pequeno grupo de bandidos, treinados para arrasar as instalações de uma empresa de comunicações e silenciar os seus veículos. Significa que ao lado do processo de aperfeiçoamento da nossa imprensa e das nossas instituições desenvolvem-se tenebrosas forças empenhadas no seu retrocesso.
Ainda não se conhecem os motivos que levaram os agentes da subversão a praticar tamanho crime. Não há indícios de que a crise instalada na praça dos Três Poderes em Brasília tenha acionado ou esteja vinculada ao vergonhoso atentado. Mas não se pode eliminar a hipótese de que interesses escusos estejam se aproveitando da turbulência política para criar um clima generalizado de intimidação. No momento em que desvendam-se tantos descalabros e caem por terra tantas impunidades, não é impossível que as forças do mal estejam maquinando a interrupção do gigantesco processo de saneamento que assistimos. Há outros indícios de desordem que não devem ser minimizados. De qualquer forma nós, jornalistas, devemos usar as palavras apropriadas. O que aconteceu em Marília foi puro terrorismo.
Temporada de lambanças
Se o governo tivesse deliberadamente procurado uma maneira de se atritar com a classe média, não teria inventado nada melhor do que anunciar redução de alíquota do imposto de renda e depois voltar atrás. É manchete da Gazeta Mercantil e do Jornal do Brasil desta sexta-feira, 9 de setembro, e está nas primeiras páginas do Globo, da Folha e do Estadão. O noticiário dá conta de que o erro decorreu de uma trapalhada de técnicos da Receita Federal. Mas isso é como erro em jornal: o leitor não quer saber se o redator estava passando mal, ou se a máquina encrencou. Vale o escrito.
Foto contestada
O Palácio do Planalto diz que uma foto da parada de Sete de Setembro em que o presidente Lula aparece em segundo plano, e uma bandeira com a palavra impeachment em primeiro plano, publicada ontem na capa do Estadão, é um truque fotográfico. O Estadão comenta: “Salvo melhor juízo, esta é a primeira vez na história da imprensa em que se tenta desmentir uma foto.”
Salvo melhor juízo, não é, não. Houve muitas contestações a fotos. Mas o Planalto parece não ter mais o que fazer.
Golpe na rede
Atenção: há criminosos dando golpes com doações via internet para vítimas do furacão Katrina. A notícia está hoje no Estadão.
Gripe aviária
O alerta da Organização Mundial da Saúde sobre a ameaça de pandemia de gripe está no caderno Eu& que o Valor publica hoje. A reportagem não traz informações sobre providências específicas que estejam sendo tomadas pelo governo brasileiro. França, Inglaterra, Canadá e Austrália começaram a estocar vacinas e fazer planos para proteger em primeiro lugar as equipes médicas que entrariam em contatos com doentes.