Presidente busca confrontação
O caminho de confronto sistemático com a imprensa adotado pelo presidente Lula é preocupante. Ontem, Lula disse que a mídia, no mundo inteiro, gosta de valorizar coisas ruins. Como as televisões ontem à noite, os jornais desta quarta-feira, 3 de agosto, dão destaque à belicosa declaração.
Existe uma inclinação geral para filtrar os conflitos mais dolorosos, mas os fatos teimam em tornar a situação mais grave. Na manchete da Folha de S. Paulo de hoje o nome do presidente aparece vinculado a uma revelação feita por Roberto Jefferson sobre tratativas com a Portugal Telecom em Lisboa. No Estado de S. Paulo, a manchete também envolve um assunto muito grave, o assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel, em 2002.
Projeções para 2006
A consultoria Tendências divulgou ontem previsão de segundo turno em 2006. Rogério Schmitt assina o texto, segundo o qual o panorama indica que haverá cinco candidatos com chance de ter pelo menos 5% no primeiro turno. Desde 1989, toda vez que isso aconteceu houve segundo turno. É premissa de Schmitt que o presidente Lula será candidato à reeleição.
Carlos Chagas antecipou
O editor do Observatório da Imprensa online, Luiz Egypto, resume o extraordinário caso da reportagem de Carlos Chagas que antecipou, em fevereiro de 2004, todo o esquema das relações de Marcos Valério com o PT.
Egypto:
− Faz hoje 81 dias que a mídia vem seguidamente tratando da maior pauta dos últimos anos – a crise política e os seus desdobramentos. Ontem, o país parou para assistir ao depoimento do deputado José Dirceu na Comissão de Ética da Câmara.
Mas um ponto passou despercebido. A história das relações escabrosas entre o lobista Marcos Valério e o PT, cuja revelação derrubou a cúpula do partido e, de quebra, o ex-ministro Dirceu, foi contada pela primeira vez na imprensa, e em detalhes que depois se confirmaram, no dia 28 fevereiro do ano passado.
Num artigo curto, de 404 palavras, no jornal Tribuna da Imprensa, o jornalista Carlos Chagas escancarou todo o esquema cujos pormenores só viríamos conhecer 15 meses depois.
Por que a imprensa, à época, não foi atrás do furo de Chagas? Por que não produziu suítes? Os pauteiros cochilaram. Este e outros assuntos estão na edição do Observatório na Web.
Tanta coisa nos jornais
Pois é. Não foi por acaso que o general Golbery do Couto e Silva deu como tarefa aos agentes do SNI, logo após sua criação, em 1964, colecionar recortes de jornais. A quantidade de fatos revelados nos jornais, muitas vezes sem continuidade, está além da capacidade de apreensão não só de um indivíduo, mas de grupos inteiros, como redações de jornais.
E há ainda os fatos apurados, mas sem condições de publicação, como se lê hoje na Folha a respeito do caso da Portugal Telecom. Roberto Jefferson tinha mencionado o assunto sem autorizar a divulgação.
Parlamentares donos de mídia
Eunício Oliveira tinha concessão de emissoras de rádio e televisão, Hélio Costa tem. Ambos ministros das Comunicações, ambos parlamentares. Em frontal desrespeito à lei. No Observatório da Imprensa de ontem na televisão foi debatido o problema do controle de meios de comunicação eletrônicos, que dependem de concessão, por parlamentares.
O Alberto Dines relembrou que ficou esquecida no noticiário da crise do mensalão uma reportagem da revista Época que mostrava como o deputado Roberto Jefferson tinha usado um “laranja” para controlar emissoras de rádio. O caso acabou resvalando para o folclórico. O “laranja” é um ex-segurança de Jefferson que virou dono de sorveteria na cidade fluminense de Cabo Frio.
Oeste baiano
O jornal Valor noticia hoje a chegada da cana-de-açúcar ao Oeste baiano, onde o Cerrado foi conquistado por sulistas para a plantação de soja, milho, algodão e outras culturas. O Congresso dos Estados Unidos concluiu um projeto de lei sobre energia que determina a mistura de 28,8 bilhões de litros de etanol na gasolina em 2012. Foi uma vitória do lobby dos fazendeiros do Meio-Oeste e da indústria americana de etanol, mas pode beneficiar agricultores brasileiros, porque o volume, muito alto, parece estar além da capacidade local de produção prevista para aquela data.