Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Programa 1
>> Pedido de cassação do Deputado Luís André
>> Severino na berlinda
>> Jornais defendem a liberdade. Para todos?
>> A África fica longe

Nesta quarta-feira, quatro de maio, estréia o Observatório da Imprensa na Rádio Cultura FM de São Paulo. É mais uma etapa de uma trajetória que começou há nove anos na internet e há sete anos na televisão.

Mas no noticiário de hoje uma das questões que chamam a atenção é a votação do pedido de cassação do deputado federal André Luís, acusado de tentar extorquir o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Ontem a Câmara livrou o deputado Pedro Correa, de Pernambuco, presidente nacional do PP, e os deputados ouvidos pela imprensa estão desanimados com esta votação de hoje do pedido de cassação de André Luis.

André Luis é um deputado do Estado do Rio. Era do PMDB, agora está sem partido. No passado, foi segurança de um famoso bicheiro do Rio de Janeiro, Castor de Andrade.

Os jornais não fazem a menor ligação entre esse pedido de cassação do deputado André Luis e a chacina de Nova Iguaçu, Baixada Fluminense, no início de abril. Mas há quem interprete aquele crime horroroso como um ato deliberado de afronta ao poder público. Com um agravante. Seus executores teriam sido integrantes do próprio poder público. E teriam feito isso de propósito, de cara limpa, não propriamente para desafiar as autoridades constituídas, mas para desviar a atenção de esquema criminoso que tem a participação de autoridades do Executivo, do Legislativo e do Judiciário. O deputado André Luís seria, segundo as acusações, um exemplo vivo desse processo de institucionalização da criminalidade.

Severino na berlinda

A Câmara, então, livrou ontem de cassação o presidente do Partido Progressista, que é o partido do presidente da Casa, Severino Cavalcanti. Severino foi, por incrível que pareça, o grande personagem das comemorações do Primeiro de Maio. Saiu na primeira página da Folha de São Paulo e do Estado.

Os jornais noticiaram que ele foi vaiado. Falam criticamente de Severino, mas falam dele com uma constância constrangedora. Ontem, terça-feira, Severino estava novamente na primeira página da Folha. Hoje, Severino está na primeira página do Globo. A manchete é “Câmara de Severino não pune deputados acusados de crime”. A Câmara não é de Severino. É dos representantes do eleitorado brasileiro.

A mídia transformou Severino em estrela. Claro, ele derrotou o candidato do presidente Lula. Por isso, em quarenta e quatro (44) dias de meados de fevereiro ao final de março, a Folha de São Paulo pôs Severino na primeira página dezesseis (16) vezes. Severino é presidente da Câmara, casa mais importante do Poder Legislativo federal. Mas usá-lo como atração poderá ter conseqüências indesejadas. Quem era mesmo que dizia: Falem mal, mas falem de mim?

Jornais defendem a liberdade. Para todos?

O Estado de São Paulo dá com destaque notícia de reunião da ANJ, a Associação Nacional de Jornais, em que representantes de jornais, revistas e tevê reclamam ação para evitar controle e intervenção do governo no setor.

O conceito de liberdade dos empresários de mídia às vezes é relativo, não é, Alberto Dines?

Dines:
Mauro, o que hoje me chama a atenção é a continuação do descaso da mídia com relação à decretação da prisão do jornalista Jorge Kajuru. É prisão domiciliar, menos penosa. Mas é prisão. Talvez a primeira imposta a um jornalista desde o fim da ditadura. O mais grave é que o autor do processo contra o jornalista é um importante empresário de jornal. Asssociado a ANJ, entidade que vive denunciando os crimes contra a liberdade de expressão. Agora ela se omite completamente. Paradoxos da mídia brasileira.

A África fica longe

Sem trocadilho, passou em branco no noticiário a visita ao Brasil do presidente de Angola, José Eduardo dos Santos. Angola é um dos mais países da África negra com os quais o Brasil tem vínculos especiais. E terá cada vez mais. A mídia não pode ignorar isso.