Repercussão do Roda Viva
O Roda Viva com o presidente Lula não mexeu muito no ibope da TV Cultura. Isso seria impossível no horário em que vai ao ar. Mas teve uma repercussão espetacular, que continua hoje em numerosas páginas de jornais. O vice-presidente da República, José Alencar, deu uma contribuição ao anedotário: disse que dormiu quase o tempo todo e ainda assim avaliou que Lula estava tranqüilo e seguro.
Globo põe Lula após o PFL
Houve um festival de capas de revistas e jornais no programa de propaganda obrigatória do PFL na televisão, ontem à noite. Manchetes usadas como peças acusatórias contra o governo e o PT. O Jornal Nacional se programou para evitar que Lula e o PT apanhassem demais do PFL. Deixou para depois da interrupção de 20 os trechos do presidente Lula no Roda Viva número mil. A defesa da política do governo ocupou menos de dez por cento do tempo.
Linha da lei e da ordem
No programa de televisão do Observatório da Imprensa de ontem à noite, dedicado ao tema das favelas, o editor de cidade do Globo, Paulo Motta, defendeu a linha editorial do jornal, que há semanas denuncia a existência de irregularidades e cobra a volta das remoções. Motta disse que o Globo luta pela ordem e pela lei há 80 anos.
O professor Jailson de Souza e Silva, coordenador do Observatório de Favelas do Rio de Janeiro, entrevistado ontem à tarde, denuncia que o Globo manipulou a seção de cartas para engrossar o coro pela remoção de favelas.
Jailson:
– O grande problema que nós temos nessa forma como está sendo coberta a política habitacional é que ela foi reduzida simplesmente à questão de se remove ou não as favelas, e no caso se desconhece que são pessoas humanas que estão ali, das áreas nobres da cidade. Alguns jornais, especialmente o Globo, têm tido uma postura profundamente contraditória.
Certa vez, quando o Globo apresentou um jovem criminoso que tinha sido preso e espancado pela polícia, botou 26 cartas de leitores criticando aquela postura do jornal. E o jornal assumiu uma posição editorial clara de que era impossível conviver com esse tipo de violência, que se tinha que respeitar o direito à legalidade.
Nessa questão das remoções, ao contrário, o Globo apresentou durante semanas apenas cartas criticando a presença das favelas nessas áreas nobres, criticando a presença desses moradores, defendendo a remoção, reforçando, portanto, a linha editorial do jornal. E isso me parece profundamente antiético em termos de cobertura jornalística. Vários pesquisadores do Observatório de Favelas tentaram inclusive apresentar outra versão, mandaram cartas, mandaram e-mails, e nenhuma foi publicada. Isso me parece que não dá espaço ao contraditório, não dá espaço ao debate, termina assumindo uma linha claramente política, e o jornal perde toda a sua capacidade de informação.
Mauro:
– Esse foi Jailson de Souza e Silva, do Observatório de Favelas.
Palavras antigas
Toda vez que o sistema social francês é abalado em suas profundezas surge na boca das autoridades uma palavra velha. Em 1968, o general De Gaulle teria usado o famoso “chienlit”, “baderna”, do século XVI. Agora, o ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, lançou a palavra “racaille”, do século XII. Está sendo traduzida no Brasil como “escória”. Talvez fosse mais apropriado traduzir como “gentalha”. Na boca de uma autoridade, não foi apenas uma palavra. Foi um coquetel Molotov verbal.
Cursos sem qualidade
O editor do Observatório da Imprensa Online, Luiz Egypto, fala da leniência do governo em face de cursos de jornalismo sem qualidade.
Egypto:
– Cursos de Jornalismo funcionam sem controles, sem avaliação, sem critérios. No domingo passado, universitários brasileiros fizeram o exame que veio substituir o antigo Provão – agora Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes).
Dentre as principais mudanças havidas nos últimos anos, uma impôs a avaliação por amostra de estudantes (não mais pela totalidade dos formandos, como no Provão), e outra modificou o quadro dos cursos a serem avaliados. Como ocorreu uma explosão na criação de novos cursos, em 2002 o MEC optou por priorizar a avaliação desses cursos novos, que tinham apenas autorização de funcionamento e cujos diplomas não seriam emitidos sem o devido reconhecimento.
Quem duvida que o lobby do ensino privado faturou mais esta, que aponte um único curso que não tenha sido reconhecido. O sistema é tão eficiente que um curso que merece ser fechado é tolerado por dois anos. Um com muitos problemas pode funcionar por três anos. E a ilegalidade continua.
Raízes municipais
O nome do ministro Antonio Palocci cada vez mais é mencionado no contexto de uma “República de Ribeirão”. Continua sendo cogitada a motivação política dos assassinatos dos prefeitos petistas de Campinas e de Santo André.
Uma coisa é certa. Foi nos municípios que petistas começaram a aposentar a ética e a transparência.