Wednesday, 25 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Programa 15
>> A TV no lugar do júri
>> CPI só é palco com ajuda da mídia
>> Jornalismo de uma nota só
>> Rádios sem independentes
>> Imprensa e publicidade

A TV no lugar do júri

 

Nesta terça-feira, 24 de maio, vai a julgamento no Rio de Janeiro Elias Pereira da Silva, conhecido como Elias Maluco. É acusado de chefiar os bandidos que torturaram e mataram o repórter Tim Lopes, da TV Globo, há quase três anos.

 

Ontem à noite, o Jornal Nacional promoveu uma espécie de julgamento prévio do acusado. Um repórter chegou a aparecer diante da barra do júri, como se fosse um promotor. Provavelmente os jornalistas da TV Globo estão convencidos de que uma condenação exemplar de Elias Maluco seria entendida por criminosos como um sinal de força da lei contra o crime.

 

Mas os princípios da Justiça não podem ser atropelados.

 

Confiem no júri popular.

 

Análises qualificadas indicam que o maior problema brasileiro diante da violência e do crime organizado não seriam as falhas da repressão, embora gritantes, e sim o mau funcionamento da Justiça.

 

CPI só é palco com ajuda da mídia

 

Editoriais da Folha de S. Paulo e do Estado pedem ao Congresso Nacional que deixe de utilizar Comissões Parlamentares de Inquérito como palanques, palco de medidas arbitrárias, manobras espúrias, quando não de ameaças e chantagens.

 

Pedem que se restaure a credibilidade dessas investigações. Faltou dizer que a mídia, maior aliada dos que manipulam a exposição aos holofotes, deve dar sua contribuição.

 

 

 

Jornalismo de uma nota só

 

O Alberto Dines mostra como a fixação da mídia na CPI dos Correios afasta do panorama temas igualmente relevantes.

 

Dines:

 

− Compreende-se que o governo esteja aflito com a instalação da CPI. É a primeira desde que o PT passou a ser vidraça. Mas o que não se entende é a fixação da mídia nesta CPI. O país está em suspenso, literalmente, porque há pelo menos meia dúzia de questões transcendentais paralisadas no Congresso e que por causa da CPI vão para as calendas.

 

Uma destas questões cruciais é o referendo sobre o desarmamento. Se não for aprovado pelo Congresso até o fim de maio, não haverá tempo hábil para ser realizado em outubro. A questão da segurança afeta o Brasil inteiro, não pode ser escamoteada. Há gente séria que defende o porte de armas e há gente séria que é a favor do desarmamento. O assunto precisa ser discutido, não pode ficar engavetado. Com ou sem CPI dos Correios, temos que decidir em outubro se o cidadão pode armar-se.

 

A mídia parece uma barata tonta. Mas hoje na TV-Cultura, às 22h30, o Observatório da Imprensa vai apertá-la.

 

Rádios sem independentes

 

O segundo caderno do Globo de ontem noticiou em boa hora o lançamento de uma caixa de dez CDs com música brasileira para piano executada por Miguel Proença. Aqui, na Cultura FM, Gilberto Tinetti já tocou algumas faixas.

 

Os selos independentes se tornaram responsáveis pela maioria dos lançamentos de discos no Brasil. Mas seus produtos ocupam uma ínfima porcentagem da programação da maioria das emissoras de rádio, onde o popularesco das grandes gravadoras é martelado incessantemente, na base do jabá; quer dizer: pagou, tocou.

 

Imprensa e publicidade

 

O Estado de S. Paulo noticia que a agência de publicidade África (ou ‘Afríca’, porque escrevem o nome sem o devido acento) foi condenada em primeira instância a pagar indenização, à agência Fischer, por ‘danos morais e materiais resultantes do uso indevido do cantor e compositor Zega Pagodinho em campanha da cerveja Brahma’.

 

Seria auspicioso que o caso colocasse em evidência outras mazelas da publicidade. Para começar, toda a apelação usada sem o menor escrúpulo para vender cerveja a jovens.

 

Mas quem disse que a imprensa tem independência para examinar com olho crítico a publicidade?