Muito além dos Correios
A mídia começou no último fim de semana a dar uma visão panorâmica do enfeudamento de empresas estatais por interesses político-partidários escusos.
Agora já não se fala apenas nos Correios e no Instituto de Resseguros do Brasil. Entraram no noticiário também Furnas, a Infraero e a Eletronuclear. E uma agência reguladora, a Agência Nacional do Petróleo. Mas ainda falta muita coisa nessa lista.
O governo não quer a generalização das apurações. Mas não tem o menor sentido lógico que qualquer denúncia sobre corrupção deixe de ser investigada e acompanhada pela mídia.
De um ponto de vista construtivo, nada se resolverá sem reforma política e, em especial, uma mudança dos métodos de financiamento de campanhas, assuntos que a mídia teima em não abordar sistematicamente.
Os talentosos produtores do vídeo
O Alberto Dines constata que está faltando no noticiário a identificação dos talentosos autores do vídeo da propina nos Correios divulgado pela Veja.
Dines:
− Há uma questão no escândalo dos Correios que interessa particularmente à mídia e que a mídia faz questão de deixar de lado. Mas essa questão também interessa muitíssimo ao governo e o governo igualmente deixa de lado. A questão é esta: quem eram os empresários que armaram o flagrante e o entregaram à Veja? O funcionário flagrado evidentemente se lembra com quem falou, e se o governo ou o PTB obtivessem o nome de todos os interlocutores da conversa teríamos no banco dos réus não apenas o corrupto mas também os corruptores.
O governo não se mexe porque está atarantado ou porque teme que o primeiro denunciado ligue o ventilador. A mídia não se mexe porque ficaria evidente para a sociedade a linha direta que alimenta o chamado ‘jornalismo investigativo’. Uma coisa é certa: a CPI acabou sendo convocada porque antes ninguém teve curiosidade em descobrir os talentosos produtores do imperdível vídeo de propina.
Todo cuidado é pouco
O Fantástico, da Rede Globo, retomou ontem notícia dada no Jornal Nacional de terça-feira, 24 de maio, sobre como a Polícia Federal prendeu indevidamente, em Brasília, Cibele de Paula e Silva, acusada de fazer parte de uma quadrilha que fraudava concursos públicos.
Um telefone celular antigo de Cibele veio a ser usado pela quadrilha e fez a polícia cometer um erro. Cibele foi mostrada sendo presa, algemada.
Cada caso desses deveria recolocar em discussão a maneira como a Polícia permite a exibição triunfal pela mídia de suspeitos, e como a mídia divulga essas imagens sem critério.
Festival de horrores em Guantánamo
O governo americano fez carga contra a revista Newsweek por ter publicado informações sem confirmação sobre um exemplar do Alcorão que teria sido jogado numa latrina na prisão de Guantánamo.
Agora, fontes do Pentágono admitem que houve fatos muito mais graves em Guantánamo. A realidade sempre ultrapassa a ficção. Se é que era ficção. Mas a mídia séria continua obrigada a trabalhar escrupulosamente e com isenção jornalística.
O dinheiro dos aposentados
Há um ano foi lançado o crédito consignado para aposentados. Depois começaram a proliferar na televisão e alhures anúncios publicitários desse tipo de empréstimo.
Era preciso estar em outro mundo para não desconfiar que isso iria causar confusões e dores de cabeça. Só ontem O Globo, na sua Revista, tratou dos ‘riscos do empréstimo para idosos’.
Nesta segunda-feira, a Folha mostra que o estoque de clientes já está chegando ao limite de trinta por cento (30%) do universo de 12 milhões de potenciais tomadores de crédito. Daí o acirramento da concorrência entre os bancos.