O ‘mensalão’ esquecido
A denúncia feita pelo deputado Roberto Jefferson na Folha de São Paulo desta segunda-feira, 6 de junho, sobre o pagamento de uma mesada para deputados da base aliada do governo, o ‘mensalão’, não é um furo. O próprio Jefferson menciona de passagem na entrevista que o esquema já havia sido denunciado pelo ex-ministro das Comunicações, Miro Teixeira, ao Jornal do Brasil. Foi no dia 24 de setembro passado.
A trajetória dessa denúncia é sintomática do torpor da mídia, sob pressão judicial. Mais de um mês depois, o JB foi obrigado a publicar um direito de resposta em que Miro Teixeira diz que não disse o que disse.
Nem o próprio JB se preocupou em reexaminar o assunto desde o início da crise dos Correios, em meados de maio.
E, no entanto, eram citados vários personagens importantes: além do próprio Jefferson, a senadora Heloísa Helena e o deputado José Carlos Aleluia. Também aparecia na reportagem o notório Waldomiro Diniz.
A reação do PT na época foi desmentir. Miro Teixeira recuou no mesmo dia. No dia seguinte, o JB cita o ministro Aldo Rebelo, a quem o presidente Lula teria dito que ‘do ponto de vista do governo, o assunto está superado’.
E o ‘mensalão’ foi esquecido.
Volta agora, quando Roberto Jefferson, acuado, passa à ofensiva.
Como era previsível, a operação-abafa CPI não poupou o governo de novas denúncias de corrupção. A única coisa que funciona, nesses casos, é luz, mais luz.
A lógica das revistas
O Alberto Dines chama a atenção para o fato de, em meio ao despertar da imprensa, especialmente das revistas Veja e Época, a IstoÉ e a Carta Capital manterem certa distância do noticiário sobre casos de corrupção. Fala, Dines.
Dines:
− IstoÉ de repente está sossegada e agora fala no ‘tédio’ das acusações entre governo e oposição. Na sua principal matéria política, a questão da CPI vem depois da queda do PIB, dos juros, dos impostos. Carta Capital é uma revista de análise, não está obrigada a ser noticiosa, mas é estranho que ainda não tenha tido tempo para analisar os assuntos que galvanizam a opinião pública há quatro semanas.
Revistas têm lógicas estranhas, por isso dão-se ao luxo de brigar com a notícia.
Furo pela internet
Um fato raro, se não inédito, foi o uso da internet por um veículo da grande imprensa. A revista Veja usou seu site para contra-atacar o ex-presidente do Instituto de Resseguros do Brasil, Lídio Duarte, que deu declarações por telefone, gravadas, e diante da Polícia Federal as negou. A revista colocou no site trechos da gravação. Isso teve repercussão imediata no Jornal Nacional de sexta-feira e foi para os jornais de sábado.
Banco Santos e mídia
Uma reportagem do suplemento de Negócios da revista Época mostra como o Banco Central deixou o Banco Santos, de Edemar Cid Ferreira, fazer repasses irregulares para uma corretora laranja enquanto os fiscais do governo estavam plantados dentro do banco fazendo investigações.
Em várias passagens, a reportagem mostra também que o Banco Santos usou a mídia para transmitir à opinião pública uma imagem falsa de sua situação.
Seria interessante saber quantas outras empresas, do mercado financeiro ou não, iludem o público sob as barbas das autoridades… e da mídia.
Exército no São Francisco
O Valor dá hoje importante notícia sobre a pretensão do governo de usar o Exército para iniciar as obras45 de transposição do Rio São Francisco.
Também mostra, em reportagem na mesma página, que empreiteiras do Nordeste estão preocupadas com a hipótese de não poderem participar das obras.
Assunto a ser acompanhado de perto.