Indenização para tortura?
O ombudsman da Folha de São Paulo, Marcelo Beraba, aponta com propriedade, na edição de ontem, domingo, que o jornal de uma semana antes publicou uma manchete errada. A reportagem destacada na primeira página da Folha continha revelações importantes de ex-militares sobre a prática sistemática de tortura e execuções no combate à guerrilha do Araguaia. Mas o título foi para uma reivindicação de indenização feita por esses ex-soldados.
Faltou questionar por que o jornal repassou sem senso crítico essa pretensão inteiramente descabida, de transformar algozes em vítimas.
E foi um insulto comparar a atuação deles com a dos pracinhas da Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial.
Vamos ouvir o que nos traz hoje Alberto Dines.
Dines:
– Mauro, todo o mundo sabe que o Dia das Mães é uma promoção comercial. E isto não impede que tenha se transformado numa autentica festa da família, homenagem às mulheres em geral e à mulher-mãe em particular. Virou tradição. Não faz mal algum entrar no clima do almoço familiar, do presente para as mamans e das flores nos túmulos das que já se foram. O que beira o ridículo é o malabarismo da mídia e, inventar matérias sobre mães-e-filhas, mães-solteiras, mães-célebres, mães-anônimas, mães-estudantes, mães-milionárias, mães assim e mães assado. Este esforço da mídia para parecer original e espontânea evidencia o desgaste da criatividade. Não há mais o que inventar em matéria jornalística para o Dia das Mães. Melhor deixar que os anúncios falem sozinhos.
Veja
promete voltar
De gosto duvidoso seria a forma benévola de classificar a capa da revista Veja desta semana, em que aparecem dois pés juntos e, como numa etiqueta de necrotério, um recado: ‘Volto já.’
O assunto está mais para falta de assunto. A ‘vida após a morte’. A reportagem não explica nada. Como dizia o Barão de Itararé, de onde menos se espera, daí é que não sai mesmo nada. A Veja vestiu a camisa daquele personagem de Nelson Rodrigues, o Sobrenatural de Almeida.
Quanto à capa, não há como resistir à tentação de deduzir, usando de legítima psicologia de botequim, que ela é um recado da própria revista: ‘Volto já.’
Mas está demorando a voltar, a Veja.
Sonegação com carimbo legal
A revista Época integra o pelotão das capas aleatórias, com a pergunta: ‘Você é normal?’. A resposta é conhecida. Mas a Época traz chamada para reportagem da maior importância: uma denúncia do Ministério Público segundo a qual a Fiat foi beneficiada em 1999 com a edição de uma Medida Provisória na qual dois funcionários da Receita Federal introduziram uma cláusula que a livrava, assim como a outras empresas, de pagar contribuições atrasadas.
Assunto importantíssimo. A mídia ainda está longe de revelar todas as mazelas do sistema tributário brasileiro. No Brasil, ao contrário do que acontece em países desenvolvidos, o hábito é ‘dar um jeitinho’. E a distorção nas chamadas práticas de mercado é tremenda. Contra o consumidor.
Brasil e Argentina em padrão de várzea
Quem quiser um bom apanhado das rusgas entre Brasil e Argentina não deve perder o artigo de hoje do professor Marcelo de Paiva Abreu no caderno de Economia do Estado de São Paulo. De passagem, Abreu expõe uma batatada do jornal argentino Clarín, que colocou uma foto de Murilo Portugal Gouvêa, presidente do São Paulo Futebol Clube, como sendo de Murilo Portugal, o novo secretário executivo do Ministério da Fazenda.