Fábricas de criminosos
Em entrevista à Época desta semana, o juiz Sérgio Mazina, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, diz que o Congresso, antes de acirrar ainda mais a legislação, deve dizer onde vai colocar mais presos. E raciocina: “Se hoje já temos organizações criminosas perigosíssimas instaladas nos presídios, imagine se aumentarmos o encarceramento”.
No início do primeiro governo de Paulo Hartung no Espírito Santo, a força do crime organizado era tamanha que a administração decidiu não buscar um aumento da arrecadação de impostos, porque isso significaria melhorar a arrecadação do crime organizado capixaba.
Essa situação foi relatada em junho de 2003 pelo então secretário de Segurança Pública do estado, Rodney Miranda, num debate promovido pelo Instituto Fernand Braudel. O delegado federal Rodney Miranda é hoje secretário de Defesa Comunitária do município de Caruaru, Pernambuco, onde também foi secretário estadual de Segurança. Em entrevista dada no final de janeiro ao Observatório da Imprensa, Miranda colocou em questão o papel da mídia.
Miranda:
– Tratar a questão da violência só na parte policial é um grande equívoco para mim e eu acho que a mídia tem um papel importante, porque ela costuma maximizar essas ações mais violentas, vamos colocar assim: banalizar. Não estou falando de toda a mídia, logicamente, tem aqueles canais específicos, mas acaba-se banalizando a violência.
Eu vi esses dias uma notícia num jornal aqui de Recife que era, na capa, um acidente de trânsito com três pessoas. Uma pessoa saiu pelo vidro, [ficou] pendurada morta, um jornal de grande circulação. Que efeito isso – esse tipo de fotografia, e aí a gente vê também corpos estendidos no chão, crianças jogando bola em volta, esse tipo de manifestação – tem nas crianças, nos nossos jovens, hoje?
Começa-se a achar que isso é uma coisa normal. Eu acho que a mídia tem uma responsabilidade social muito grande. Eu não estou falando que com isso está aumentando ou diminuindo a violência, mas eu acho que nós poderíamos ter sido poupados de certas cenas que são colocadas no intuito único e exclusivo de aumentar a audiência, mas que acaba trazendo prejuízos bem maiores para a população, isso no meu entendimento.
Mauro:
– Rodney Miranda havia feito o mesmo questionamento do juiz Mazina a respeito dos resultados de jogar mais gente nas prisões.
Miranda:
– Não tem como a gente resolver o problema de segurança pública se não der um jeito de resolver o problema do sistema prisional, porque, hoje, os sistemas prisionais só estão servindo para acabar com o resto de auto-estima das pessoas que entram lá e torná-los muito mais perigosos do que entraram. A nossa culpa, como sociedade, é de ter considerado que somente empilhando essas pessoas nesse depósito de presos mais tempo, estava resolvido o problema. Desde que eles saiam do nosso meio, está resolvido. O problema é que a gente esqueceu que eles estão voltando, eles voltam e, quando eles voltam, voltam muito mais perigosos, muito mais letais.
Eu até falo, proporcionalmente, a violência não tem crescido tanto. O que tem crescido é a audácia, a mentalidade das pessoas, dos criminosos. Antes, eles não chegavam na nossa porta, hoje, eles estão chegando. Ontem, eles não entravam na casa, agora, estão entrando.
Mauro:
– Clique aqui para ler a entrevista completa de Rodney Miranda.
Jornais seguem TVs
Dia após dia, os grandes jornais submeteram-se à ditadura das imagens carnavalescas que dominam a programação de TV. Estadão e Folha chegam hoje à patética situação de abrir na primeira página a foto da mesma personagem, Juliana Paes. As revistas, cujas edições foram preparadas antes do Carnaval, tratam de assuntos sérios. Segurança pública na Veja e na Época. Na IstoÉ, características preocupantes da composição do Congresso Nacional na nova legislatura. A IstoÉ deu ao ex-deputado Professor Luizinho um novo mandato, que o eleitorado não deu.
Irmãos menores
Nota publicada ontem na coluna de Ancelmo Gois informa que, segundo pesquisa realizada na Região Metropolitana do Rio, 20 por cento do público que assiste ao Big Brother Brasil têm entre 10 e 14 anos de idade.
O canal de Gugu
Gugu Liberato, processado por ter forjado um quadro com o PCC no SBT, conseguiu seu canal de televisão. Em Cuiabá.
Venezuela em transe
O jornalista venezuelano Boris Muñoz diz que a situação atual da imprensa no país é verdadeiramente alarmante. Muitas das piores profecias sobre o controle dos meios de comunicação estão se cumprindo, e ninguém sabe muito bem como reagir.