Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

>>Protestos ignorados
>>O jornal e o coronel

Protestos ignorados

Os jornais apenas registraram, e depois abandonaram, deixando sem cobertura, os protestos de moradores de cidades paulistas que não aceitam ser incluidas como sedes das novas penitenciárias planejadas pelo governo do Estado.

Entre domingo e quarta-feira passada, o prefeito de Porto Feliz caminhou 132 quilômetros com uma comitiva de cidadãos desde a sede da sua prefeitura até o Palácio dos Bandeirantes, na capital, para levar um abaixo-assinado contra a instalação de um presídio na cidade.

Também há movimentos na cidade de Jurucê, pólo turístico na região de Ribeirão Preto conhecido pela culinária típica, e em Registro, a principal cidade do Vale do Ribeira, onde os protestos começaram em março e ainda se repetiam nesta semana.

O governador José Serra planejou construir estabelecimentos penais em 49 regiões do Estado, e resiste a rediscutir o projeto.

A Assembléia Legislativa se omite e a imprensa finge que o problema não existe.

Enquanto isso, cresce o descontentamento nas regiões escolhidas para abrigar os novos presídios.

No Vale do Ribeira, autoridades, comerciantes, agricultores e líderes comunitários lembram que a região, uma das mais carentes do Estado, não conta com sistema oficial de saúde em condições de atender as necessidades da população.

O hospital regional do Estado, sediado no município de Pariquera-Açu, não dá conta da demanda e em Registro, a principal cidade da região, o sistema de saúde é controlado por uma instituição privada.

A mesma carência é denunciada no sistema escolar e na segurança pública.

O Vale do Ribeira fica a meio caminho entre os Estados de São Paulo e Paraná, abriga descendentes da primeira leva de imigrantes do Japão e já foi o principal centro produtor do chá tipo assan, um dos componentes do blend consumido e exportado pela Inglaterra.

Os líderes do movimento contra a construção da penitenciária não conseguem ser recebidos pelo governo e reclamam que a chamada grande imprensa não dá atenção a sua reivindicação.

Alguns de seus integrantes já ameaçam interromper o tráfego na rodovia que é a principal ligação entre a região metropolitana de São Paulo e o sul do continente se as obras forem iniciadas.

Normalmente, quando falha o diálogo entre autoridades e a sociedade, os jornais assumem o papel da mediação, reproduzindo as opiniões conflitantes.

No caso dos presídios, o silêncio da imprensa chega a ensurdecer.

O jornal e o coronel

Alberto Dines:

– Quanto mais complicada fica a situação de José Sarney, presidente do Senado, mais desconfortável fica a situação da Folha de S. Paulo. Sarney cometeu uma grave infração ética, quebrou o decoro parlamentar, pediu desculpas públicas. Agora não adianta devolver os quase 80 mil de auxílio-moradia que recebeu desde maio de 2007. Sua imagem está definitivamente comprometida, não tem mais condição de presidir o Legislativo.

Há muitos anos tem mansão no Lago Sul em Brasília e, além disso, na qualidade de presidente do Senado, mora em outra mansão, esta mantida pelo Estado brasileiro. Não contente, resolveu embolsar os cerca de 3.800 reais que o cidadão brasileiro paga mensalmente aos congressistas que não têm casa na Capital Federal. (Veja Camata chora no plenário do Senado e pede afastamento do Conselho de Ética, FSP, 21/4, só para assinantes).

E o que tem a Folha de S. Paulo a ver com o novo vexame cometido pelo Vice-Rei do Brasil? Sarney é colunista do jornal há décadas. Contrariando sua própria linha de conduta, a Folha o manteve como colunista mesmo quando passou a ocupar tão alta posição no Estado brasileiro.

Contrariando o senso comum, contrariando a opinião pública, contrariando as normas de transparência e credibilidade exigidas de uma grande empresa de comunicação, Sarney é mantido na honrosa Página Dois apesar da sucessão de escândalos iniciada no dia seguinte à sua posse na presidência da Câmara Alta.

Hoje, sexta-feira, dia de Sarney na Folha, é dia dos leitores perguntarem outra vez qual a razão desta fidelidade do jornal a um ex-presidente da República conhecido pela generosidade em distribuir obséquios e oferecer favores.