Quem ganha com essa briga
No mais novo capítulo da guerra entre a Folha de S.Paulo e a Igreja Universal do Reino de Deus, aparentemente nenhum dos lados leva vantagem.
Para os fiéis do negócio de almas comandado pelo empresário Edir Macedo, a Folha foi desmascarada pelas reportagens da Rede Record afirmando que carros da frota do jornal foram usados no tempo da ditadura para a repressão aos opositores do regime militar.
Para os fiéis leitores da Folha, as reportagens sobre os empreendimentos de Edir Macedo desmascaram uma rede de negócios suspeitos abrigados sob o manto de uma seita religiosa.
O lance mais recente mostra a secretária de Redação da Folha distribuindo nota para desmentir comentários veiculados pela Record dando conta da queda na circulação do jornal nos últimos dez anos.
Segundo a nota da Folha, “as acusações feitas pela Record são falsas. A Folha não compactuou com o regime militar, nunca foi condescendente com casos de tortura e esteve à frente dos demais órgãos de comunicação na campanha pelas Diretas Já. Quando a Folha erra – como ocorreu no uso do termo ‘ditabranda’ – o jornal reconhece”, acrescenta a manifestação oficial distribuída a alguns órgãos de imprensa.
Há muita controvérsia nas manifestações da Record, por enquanto jogando no ataque, entre as quais algumas que exigiriam estudos mais acurados para serem confirnadas, como a declaração de que a Folha vem perdendo credibilidade.
Mas para confirmar ou desmentir a acusação de que a Folha colaborou com o regime militar alguns anos antes de se engajar na luta pela redemocratização, bastam depoimentos de alguns jornalistas que trabalharam no jornal naquele período.
A verdade histórica pode ser estabelecida a qualquer momento.
O que fica mais difícil é limpar o estrago que a lavação de roupa suja em público deve estar produzindo na imprensa em geral.
Aparentemente, os dois oponente têm muito a perder com essa Guerra.
Mas o público tem muito a ganhar com esclarecimento dos fatos.
Um trimestre de censura
Alberto Dines:
– Três meses de ilegalidade: ontem se completaram 90 dias desde que o desembargador Dácio Vieira, do STJ de Brasília, decidiu impor a censura prévia ao O Estado de S. Paulo impedindo que continuasse a publicação dos relatórios sigilosos da Polícia Federal sobre os negócios da família Sarney.
Enquanto a Comissão de Relações Exteriores do Senado discutia se o regime venezuelano preenche os requisitos de uma democracia plena de modo a ser admitida no Mercosul, nosso país completava um trimestre de arbítrio e deixava de atender a um dos requisitos fundamentais do Estado de Direito: a liberdade de expressão.
A infração cometida no Brasil é ainda mais grave porque o mesmo STJ decidiu tirar o desembargador do caso por considerá-lo suspeito e, mesmo assim, não foi anulado o vergonhoso ato censóreo que coloca o nosso país no nível de uma “banana-republic”. Pior ainda: o investigado pela Polícia Federal e diretamente beneficiado pela censura é um senador da República e chefe do Poder Legislativo. Trata-se de uma rachadura nos fundamentos do regime que o passar dos dias agrava ainda mais. Na entrevista que concedeu à Folha de S. Paulo, o presidente Lula foi taxativo ao declarar que a permanência do senador Sarney na presidência do Senado é uma questão de “segurança institucional”. Sem reparar nas implicações, transformou a censura ao jornalão em algo que transcende o erro ou a má-fé de um magistrado. A mordaça imposta há três meses ao Estadão foi uma decisão de Estado. Sendo assim, a Venezuela agora pode entrar no Mercosul e nós, teoricamente, podemos ser expulsos.