Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Reescrevendo a História
>>O Estadão se renova

Reescrevendo a História


O Globo dedicou a manchete do domingo a registrar a passagem dos vinte anos do Plano Collor, aquele que ficou na História do Brasil como o maior confisco de patrimônio privado por parte do governo.


Sob o título “uma ferida aberta”, a ampla reportagem de oito páginas começa pelo trauma do congelamento dos depósitos bancários, que rendeu 900 mil ações na Justiça, cujo ganho de causa poderia, segundo o jornal, desestabilizar o sistema financeiro nacional.


Relata ainda as reuniões secretas realizadas em Brasília e Roma, quando o então presidente eleito Fernando Collor de Mello consultou economistas e banqueiros, entre eles Daniel Dantas, que duas décadas depois viria a celebrizar-se por sua ficha policial.


A reportagem do Globo traz ainda uma inevitável entrevista do ex-presidente e outra, mais instigante, respondida por email pela ex-ministra da Economia Zélia Cardoso de Mello, que vive em Nova York.


Collor, que provocou, além do confisco, um processo atabalhoado de privatizações, causando graves distorções no sistema econômico nacional, hoje defende a maior presença do Estado na economia e se diz arrependido de ter feito o bloqueio das contas bancárias.


Zélia Cardoso de Mello, na época uma economista inexperiente, prefere se queixar de ingratidão e falta de reconhecimento e tenta defender o plano econômico, que na sua opinião foi um ato de ousadia necessário.


O ex-ministro Delfim Netto, também entrevistado pelo Globo, afirma o contrário: foi uma experiência de laboratório e os ratinhos eram os brasileiros, comparou.


No meio da longa cobertura, uma revelação interessante: a inflação de 80% que se debita ao governo de José Sarney, que se encerrava em 1989, foi agravada pelo fato de a equipe econômica que deixava o governo ter aceitado aumentar os preços pouco antes da posse de Collor, para que este pudesse fazer o congelamento planejado.


O último ministro da Economia de Sarney, Maílson da Nóbrega, mesmo sem ter tido nenhuma reunião com a equipe que o sucederia, concordou com o realinhamento de preços e a inflação chegou aos 80% mensais.


A reportagem tenta dar algum caráter positivo às medidas econômicas do governo Collor, como no caso do projeto de privatizações, que quase quebrou a indústria nacional.


Visto de longe, vinte anos depois, o retrato é o de um grupo de políticos e tecnocratas arrogantes que virou o país de pernas para o ar e saqueou as economias de milhões de brasileiros.


O Estadão se renova


Alberto Dines:


– O Estadão de ontem era uma festa e a festa foi comemorada com alegria pela legião de adeptos da mídia impressa. Em plena temporada de presságios sobre o fim da Era Gutenberg, um jornalão centenário teoricamente agonizante, revitaliza-se dos pés à cabeça, retoma a sua elegância e, ainda por cima, não se deixa seduzir pela modernidade vazia do mundo fashion.


A reforma do Estado de S. Paulo começou na realidade um dia antes com o lançamento do caderno “Sabático” voltado para a leitura, onde brilhava Umberto Eco advertindo os leitores para não apostar no fim do livro: “Eletrônicos duram 10 anos, livros duram cinco séculos”. Na edição do dia seguinte estava a materialização da proposta: um visual limpo, aberto, capaz de valorizar textos analíticos mais densos. E nenhum, nenhum infográfico. Viva!


A Folha de S. Paulo, que também está preparando a sua reforma visual, tentou antecipar-se ao concorrente no sábado com uma primeira página “clean” mas no domingo não teve jeito: foi obrigada a voltar aos cubículos coloridos, berrantes e à velha fascinação pelos modismos com uma reportagem de pagina inteira sobre a mania do pôquer que estaria tomando conta de S. Paulo. Mais jovem do que o concorrente, a Folha de repente ficou parecendo muito mais velha. Já mudou o comando da redação, talvez troque também a onipotência que a fez perder os dois últimos ouvidores (Mario Magalhães e Carlos Eduardo Lins da Silva).


O portal de notícias do Estadão também foi redesenhado mas mantém-se no mesmo patamar dos demais: o jornalismo digital brasileiro só decolará quando seu conteúdo for melhor do que o da mídia impressa. Falta muito.


Preparando a mudança


O Observatório da Imprensa continua fora do ar na Rádio Cultura FM, temporariamente, para ajuste de sua inserção na programação da emissora. Enquanto isso, continua acessível também através do site www.teste.observatoriodaimprensa.com.br.