Reforçando o muro
Nas edições de hoje, como nos últimos dias, as atenções dos jornais brasileiros seguem voltadas para os debates nos Estados Unidos sobre o pacote de ajuda financeira proposto pelo presidente George Bush para salvar os bancos ameaçados de inadimplência.
Mas a imprensa começa a refletir as preocupações com os riscos que essa crise representa para o Brasil.
Os jornais dão como manchete ou sub-manchete o primeiro movimento importante do governo brasileiro para se prevenir contra uma possível contaminação do sistema financeiro nacional pela crise americana.
A decisão do Banco Central do Brasil de reduzir o valor do depósito compulsório devido pelos bancos representa a injeção de mais de 13 bilhões de reais no crédito.
Ao mesmo tempo, deve beneficiar principalmente os bancos menores e mais vulneráveis, facilitando a concorrência.
Todos os grandes jornais interpretaram a medida como o reconhecimento de que as condições da economia já não são tão favoráveis por aqui.
Mas para entender o significado completo da decisão seria preciso ler todos eles e mais os jornais especializados.
Dessa leitura ampla se deduz que o Banco Central está depositando um voto de confiança nos gestores do sistema financeiro nacional, ao abrir mão de parte do depósito compulsório.
O compulsório é um instrumento do BC para controlar o volume de dinheiro no mercado.
Normalmente, os bancos são obrigados a manter recolhidos no Banco Central 45% dos depósitos à vista, 15% dos depósitos a prazo e 10% da poupança, além de recolher mais 8% sobre o dinheiro que está nas contas-correntes.
Ao reduzir o compulsório, o governo garante certa liquidez do sistema, ou seja, mantém mais dinheiro em circulação, sustenta o crédito e evita uma contração brusca da economia.
Afinal, o Natal está chegando, a popularidade do presidente continua em alta, o comércio quer vender, a imprensa quer anúncio e o consumidor quer continuar a farra do consumo.
E ninguém quer recessão.
Sinal amarelo na mídia
A agência de pesquisa de opinião e marketing TNS-Sofres, sediada na França, traz hoje uma má notícia para a mídia em geral: no primeiro semestre deste ano, os investimentos em publcidade cairam nos Estados Unidos comparados ao mesmo período de 2007.
A queda foi mais acentuada no segundo trimestre deste ano, o pior desde 2001, a despeito das Olimpíadas de Pequim e do aquecimento da campanha eleitoral americana.
A tendência pode se repetir em outros países, seguindo o aumento da cautela das grandes empresa diante da possibilidade de uma recessão.
O instituto acompanha os investimentos em publicidade em vinte segmentos de mídia.
A televisão aberta, que sempre liderou a partilha, teve uma queda de 2,4%, enquanto a internet apresentou um movimento inverso, crescendo 8% no semestre.
No entanto, a maior fatia desse aumento vai para as novas empresas que misturam tecnologia e mídia, como Google e Yahoo!, enquanto apenas uma fração vai para os sites e portais das empresas tradicionais de comunicação.
Revistas e jornais continuam perdendo participação na receita geral.
As revistas tiveram uma queda de 1,8% e os diários perderam 7,4% da receita publicitária nos primeiros seis meses deste ano.
Grandes companhias, como a Procter & Gamble e General Motors, anunciantes tradicionais na mídia americana e importantes fatores de receita na imprensa de todo o mundo, estão entre as empresas que mais reduziram seus investimentos em propaganda.
Elas estão entre as dez marcas com maior presença na mídia que, combinadas, foram responsáveis por uma queda de 3% no bolo publicitário do primeiro semestre de 2008.
Segundo a análise do TNS-Sofres, a pesquisa pode estar revelando os temores dos principais anunciantes com o estado da economia global.
A notícia é um sinal amarelo para as empresas brasileiras de mídia.
Embora a maioria dos especialistas consultados pela imprensa acredite que o Brasil não será muito afetado pela crise financeira global, o mercado publicitário ainda sofre muita influência de decisões tomadas nas matrizes das empresas transnacionais.
A saída das empresas é apostar num fim de ano gordo – alimentado por aquela nova classe média nascida das políticas sociais que a imprensa adorava criticar.