Renan atrapalha o governo
Os jornais de ontem induziam o leitor a acreditar que a carreira política do senador Renan Calheiros seria interrompida nesta quinta-feira.
Os jornais de hoje dizem que Renan só vai a julgamento no plenário do Senado no começo de dezembro.
Desta vez, ele estará sendo julgado por supostamente haver comprado duas emissoras de rádio em Alagoas em nome de terceiros e sem esclarecer a origem do dinheiro.
Mas o senador Arthur Virgílio, relator do processo, resolveu esticar o prazo para atrapalhar os planos do governo de colocar em votação no Senado o projeto que prorroga a CPMF até 2011.
O processo já passou pelo Conselho de Ética, que aprovou o relatório do senador amazonense Jefferson Peres, recomendando a cassação.
É quase certo que também a Comissão de Constituição e Justiça vai dar continuidade ao julgamento.
Mas e esperança – e a agonia – de Renan não têm hora para acabar.
Os jornais afirmam que o governo vai mobilizar suas forças para tentar salvar seu aliado.
O argumento é que não há provas de que as emissoras tenham sido compradas por Renan, mas as conversas dos bastidores são outras.
Aliados de Renan Calheiros estão assombrando alguns senadores com a seguinte possibilidade: se ele for cassado pelo fato de ter uma ou duas emissoras de rádio em nome de terceiros, outros parlamentares poderão ser acusados da mesma irregularidade.
A exploração de concessões de rádio e televisão por parte de deputados e senadores é proibida pela Constituição.
Segundo levantamento feito em 2005 pelo pesquisador Venício Lima, que é colaborador deste Observatório da Imprensa, pelo menos 51 deputados são concessionários diretos.
Outros fazem a mesma coisa que pode custar o mandato de Renan Calheiros: colocam as emissoras em nome de ‘laranjas’ e as usam para arregimentar eleitores.
O que os aliados de Renan andam sussurrando é que o Congresso Nacional não é propriamente um conclave de santos.
Fontes de alto risco
A Folha de S.Paulo é o único dos grandes jornais que ainda persegue quase diariamente o caso das fraudes que envolve a multinacional Cisco Systems.
O interesse do jornal é louvável, já que a prática geral da imprensa é fazer muito barulho e depois abandonar o assunto sem mais explicações aos leitores.
Mas a publicação de notícias não significa, necessariamente, que o jornal tem se dedicado a investigações com mais afinco que seus concorrentes.
Hoje, por exemplo, a Folha revela que as últimas notícias que vem publicando sobre o caso Cisco tem como fonte um dos acusados.
Dines:
– Vazamentos costumam molhar muita gente. Tanto os vazamentos hidráulicos como os jornalísticos. Quando no domingo passado a Folha reproduziu as denúncias sopradas pela Polícia Federal contra empresas ligadas à multinacional Cisco sem qualquer trabalho prévio de apuração, deveria ter pressentido os graves riscos que corria. Ontem, duas edições depois, a Folha foi obrigada a reproduzir na íntegra e com chamada na primeira página, duas contestações à sua primeira matéria nada confortáveis. Nenhuma fonte está acima de suspeitas, a não ser quando o jornal e os jornalistas verificam antes a veracidade das informações que oferece. A Folha confiou cegamente na PF e agora paga uma multa por sua ingenuidade. Qualquer que seja o desfecho final do caso Cisco, o desastrado vazamento teve uma função didática: mostrou aos jornalistas que não existe jornalismo investigativo sem investigações.