Renan sitiado
A situação do senador Renan Calheiros, descrita hoje nos jornais, é de total isolamento.
Sem a sua ‘tropa de choque’, que ontem não compareceu ao plenário para defendê-lo, o presidente do Senado tem ainda contra si a indicação do senador amazonense Jefferson Peres como relator do próximo processo.
Peres é tido como uma das últimas reservas morais do Congresso.
Caberá a ele examinar o caso em que Renan Calheiros é acusado de haver comprado duas emissoras de rádio em Alagoas, em nome de ‘laranjas’ e sem comprovação da origem do dinheiro.
O Congresso contra
Renan conseguiu o que nenhum outro político havia alcançado: mobilizou contra si até mesmo a Câmara dos Deputados, onde nasceu um movimento por sua cassação.
Formado por deputados de oito partidos, o movimento é ainda mais ruidoso do que as manifestações dos adversários de Renan no Senado.
O movimento ‘Fora Renan’ anunciou que todas as semanas vai promover a ‘quarta-feira da indignação’, até que o presidente do Senado seja retirado de sua cadeira.
O governo se preocupa
A crise provocada pelas manobras do presidente do Senado, ao ameaçar com denúncias quem o acusasse, levou o governo a um beco sem saída.
Com todo o planejamento orçamentário dependente da arrecadação da CPMF, o Executivo não quer correr o risco de ver interrompida ou reduzida a receita desse tributo.
O projeto de prorrogação volta ao Senado, onde a oposição tem mais força do que na Câmara.
E embora o Executivo tenha a seu favor o interesse de muitos governadores na manutenção da CPMF, estes não querem se indispor com suas bancadas por causa das eleições municipais do ano que vem.
A Folha de S.Paulo e o Estadão dizem que, para manter a CPMF, o governo já se comprometeu a antecipar receitas dos Estados e liberou quase um bilhão de reais em emendas de interesse de parlamentares.
Muitos Renans
A retirada de cena dos apoiadores de Renan Calheiros também afasta do noticiário alguns parlamentares que os leitores gostariam de conhecer melhor.
O cabeludo senador Wellington Salgado, por exemplo, que aparecia tão agitado nas telas durante o primeiro julgamento de Renan, revelou-se devedor na Justiça, processado por desvio de recursos do Imposto de Renda.
O isolamento de Renan Calheiros deve dar um alívio ao senador Salgado e outros integrantes da ‘tropa de choque’, mas seria um bom trabalho se os jornais não os abandonassem.
Há muito mais Renans no Congresso do que caberia numa edição de jornal.
Mortes nas estradas
O duplo acidente numa rodovia de Santa Catarina, ocorrido na noite de terça-feira, entrou no notifciário online e nos telejornais durante o dia de ontem como uma ocorrência a mais.
Só hoje, nas edições dos jornais, o Brasil tem idéia da extensão da tragédia.
Ela aconteceu a poucas horas do leilão que deverá resultar nos projetos de recuperação das nossas rodovias, onde morrem todos os anos milhares de pessoas.
Os acidentes rodoviários compõem uma longa estatística de mortos e mutilados.
Mas a imprensa parece não se indignar tanto com aquilo que ocorre em terra como com os desastres aéreos.
Dines:
– Os dois jornalistas entre os 27 mortos na dupla tragédia rodoviária em Santa Catarina talvez mudem a atitude dos seus colegas nas redações dos grandes veículos do Rio e S.Paulo. Morrem por dia nas estradas e ruas do Brasil 98 pessoas, foram 35 mil em 2005, aumento de 8% com relação a 2002. É o nosso Iraque, onde já morreram 37 mil. Catástrofe desta dimensão, mas em doses homeopáticas, não comove nem indigna ninguém, a não ser quando uma vítima ou o motorista responsável é uma celebridade. Nos programas radiofônicos matinais, os repórteres de trânsito estão mais preocupados em informar aos motoristas se as vias já foram desimpedidas e os corpos removidos depois de um desastre do que em chamar a atenção para as trágicas estatísticas. Sempre se imaginou que jornalista e médico seriam os únicos profissionais que não poderiam aceitar a banalização do mal. Agora só os médicos resistem à rotina, salvo as honrosas e raras exceções. Os dois jornalistas catarinenses foram mortos quando cobriam um desastre rodoviário que com toda a certeza resultaria numa breve notícia sem grande destaque. Talvez agora – como aconteceu com Tim Lopes morto pelo narcotráfico – seus colegas se sensibilizem para uma guerra para a qual pareciam imunes.
Luciano:
Uma saída para Renan
As últimas notícias do Congresso dão conta de que apenas o feriado salva Renan Calheiros.
Com mais um dia de debates, seu destino estaria selado.
Em sua edição eletrônica, o Globo garante que o presidente do Senado não tem mais votos para permanecer no cargo e que sua cassação depende apenas da apresentação do próximo relatório em sua longa lista de processos.
O jornal carioca assegura que até o presidente da República se juntou ao conselho informal dos estrategistas que ainda pensam em uma saída honrosa para Renan.
Segundo o Globo, ele deu sinal verde para que seus operadores políticos iniciem os entendimentos com a oposição para extirpar o presidente do Senado de sua cadeira.
Renan sai por suas próprias pernas ou será conduzido até a porta.
Todos por um
Tanto fez Renan Calheiros, que conseguiu o que parecia impossível até poucos meses atrás: governo e oposição sentaram-se à mesma mesa, na noite de ontem, e trocaram opiniões cavalheirescamente.
O prato servido era ele mesmo, o presidente do Senado.
A moeda de troca era simplesmente a retomada das atividades parlamentares.
O governo quer ver aprovada a CPMF, a oposição vai resistir quanto puder, mas no fim o que os dois lados querem é fazer o jogo político acontecer.
O executivo tem ainda na fila seu pacote de projetos para acelerar o crescimento econômico.
A oposição não quer ver a pauta avançando pelo recesso do final do ano.
Nova composição
Com a popularidade em alta, o presidente Lula é considerado o grande eleitor nas disputas municipais do próximo ano.
Mas ele já declarou que não vai se envolver nos casos em que sua base parlamentar estiver dividida.
Para a oposição, essa é a oportunidade para recompor suas forças e tentar melhorar as chances de um bom desempenho na sucessão de Lula e dos atuais governadores, em 2010.
No meio do caminho havia uma pedra, que se chamava Renan.