Repetindo a História
Duas notícias sobre economia convivem nas páginas dos jornais nesta quarta-feira e podem fazer o leitor imaginar que voltou no tempo.
A primeira delas informa que a agência americana de classificação de risco Moody’s concedeu ao Brasil o grau de investimento, ou seja, aponta o Brasil como destino seguro para investidores internacionais.
A outra notícia, destacada como manchete no Estado de S.Paulo, revela que o endividamento dos brasileiros no cartão de crédito passou de R$ 14 bilhões em julho, um recorde histórico.
As duas informações, combinadas, remetem ao começo do ano passado, quando, em abril e maio, o Brasil ganhou a mesma classificação através das agências Standard & Poors e Fitch, respectivamente.
No mesmo período, a imprensa noticiava o alto grau de endividamento individual dos brasileiros, ainda um rescaldo do festivo Natal de 2007.
Depois vieram os dois trimestres de crescimento, a euforia tresloucada na Bolsa de Valores e por fim a eclosão da crise internacional.
A concessão do grau de investimento pela terceira agência de avaliação de risco consolida a condição privilegiada do Brasil na competição global pelo dinheiro de grandes investidores avessos a risco, como os fundos de pensão estrangeiros.
O fato de essa avaliação ser a única concedida por uma agência conservadora como a Moody’s em meio à crise aumenta sua importância, apesar de as agências em geral terem perdido muita credibilidade por não terem sido capazes de prever a crise financeira no ano passado.
Mas o outro lado do noticiário – o endividamento dos brasileiros no cartão de crédito – deveria colocar em pé as orelhas dos administradores da economia nacional e da imprensa.
Sabe-se que o cartão de crédito cobra juros de mais de 230% ao ano e que, num momento de retração dos financiamentos, tende a ser largamente utilizado pelos consumidores animados com as notícias de fim da crise.
Os jornais já anunciam que teremos um fim de ano pleno de gastança.
O consumismo irresponsável foi uma das causas da quebra da economia americana.
Filme antigo
Luiz Egypto, editor do Observatório da Imprensa:
– Começou a tramitar anteontem no Senado argentino a nova Lei de Radiodifusão, proposta pelo governo de Cristina Kirchner e aprovada na Câmara dos Deputados na quinta-feira passada. A oposição reclama do açodamento do processo que levou à aceitação do projeto pela Câmara e quer tomar todas as precauções durante o rito legislativo no Senado. O presidente da Casa Julio Cobos, também vice-presidente da República e adversário do projeto, está impedido de qualquer interferência neste momento pelo fato de ocupar a Presidência da República, em razão da viagem de Cristina Kirchner aos Estados Unidos. Mas a bancada oficialista no Senado promete jogar todas as fichas para que: 1) o projeto não sofra modificações que o obriguem a ser examinado novamente pela Câmara dos Deputados; 2) que seja submetido a apenas duas comissões – e não quatro ou cinco, como quer a oposição – antes de ir a votação em plenário; e 3) que tudo se resolva ainda nesta legislatura, antes da posse do novo Congresso eleito em junho, no qual o governo perdeu a maioria.
Sem entrar no mérito da pressa governista, impossível não comparar o trâmite no Congresso argentino, iniciado em fins de agosto, com a velocidade de cágado com que se arrasta, no Parlamento brasileiro, a apreciação do Projeto de Lei 29/07, do deputado Paulo Bornhausen (DEM-SC), que trata da convergência de mídias e estabelece novas regras para o setor de televisão paga ao instituir cotas para a programação nacional e, o mais importante, permitindo que empresas de telecomunicações possam atuar no segmento de TV por assinatura. Faz quase três anos que o texto não consegue passar das comissões temáticas do Congresso. O atual relator da proposta, deputado Paulo Lustosa (PMDB-CE), promete um parecer para a segunda quinzena de outubro com suficiente grau de consenso para ser levado a voto. Então o ano legislativo estará no fim, depois vem o recesso parlamentar, 2010 é um ano eleitoral e… já vimos esse filme antes.