Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Retórica antielite
>>Dirceu sem resposta

Retórica antielite

 

Não se sabe direito qual é o alvo do presidente Lula em sua retórica antielite. Ele mesmo transitou da elite sindical para a elite política, onde ocupa hoje o pináculo.

 

Um dos alvos não declarados é a mídia. A imprensa, como todos os setores que têm responsabilidades públicas, fez exatamente o contrário do que acusaram primeiro o ex-ministro José Dirceu e agora o presidente Lula. Evitou colocar lenha na fogueira.

 

Mas os fatos são teimosos. E, ao cumprir seu papel, a mídia toca em feridas dolorosas. Foi assim ontem no Estado de S. Paulo, onde reportagem exemplar de Angélica Santa Cruz mostrou a estreita ligação do ex-tesoureiro Delúbio Soares com o presidente Lula.

 

 

Dirceu sem resposta

 

Se o presidente foi elíptico, o ex-ministro José Dirceu foi explícito em nota de contra-ataque divulgada na noite de sábado. O Alberto Dines destaca dois comportamentos diferentes em face do pronunciamento.

 

Dines:

 

− Vale a pena refletir sobre o protesto do ex-ministro José Dirceu apresentado no sábado no Jornal Nacional e publicado ontem na Folha. Em primeiro lugar pela forma com que os dois veículos o apresentaram. Foi lido no telejornal da Globo e respondido pelo âncora de plantão, Renato Machado. Mas na Folha foi espremido num pé de página e composto num corpo praticamente ilegível de tão pequeno. Não é assim que se faz. Uma declaração formal do ex-todo-poderoso, quase primeiro-ministro, é antes de tudo uma notícia. Com notícia não se briga, dizia-se antigamente nas redações, notícia não pode ser manipulada.

 

O ministro José Dirceu protestou contra um linchamento moral a que estaria sendo submetido por parte da imprensa. Reclamou de episódios específicos. Talvez tenha razão, talvez não tenha razão. Mas os leitores da Folha mereciam tomar conhecimento da resposta do jornal. A imprensa está desempenhando um papel-chave não apenas no desvendamento dos sucessivos escândalos mas, sobretudo, no acompanhamento dos trabalhos da CPI. Mais do que nunca seus procedimentos devem ser impecáveis − mesmo num plantão de sábado.

 

Metralhadora verbal

 

Nesta segunda-feira, 25 de julho, a Folha publica carta em que o leitor Eduardo Jorge Caldas Pereira, secretário-geral da Presidência no governo Fernando Henrique Cardoso, estranha a falta de reação do jornal à nota de José Dirceu. A Folha se limita a responder que a nota chegou na noite de sábado. Mas hoje também não publica resposta. O Jornal do Brasil é o único que noticia com detalhes o que Dirceu chama de “linchamento moral”. Reproduz críticas à TV Globo, à Veja, à Folha e ao Correio Braziliense.

 

Discrição cubana

 

Da mídia cubana José Dirceu não pode se queixar.

 

Em 72 dias de crise dos Correios e 49 do “mensalão”, o Granma, órgão oficial do Partido Comunista de Cuba, deu uma única e solitária notícia sobre o assunto. Foi em 3 de julho. O jornal de Fidel Castro publicou trechos da fala do presidente Lula no Foro de São Paulo, uma reunião de partidos de esquerda realizada no Parlamento Latino-Americano. Dizia a nota que a crise política havia sido gerada “por partidos de oposição a partir de denúncias de suposta corrupção”.

 

Matérias pagas

 

A Petrobrás e a empresa GDK publicam hoje matérias pagas nos jornais negando que a estatal tenha favorecido em licitações a empresa amiga de Silvio Pereira. Com a palavra, os repórteres.

 

“Guerra contra guerra”

 

A IstoÉ publicou no fim de semana entrevista do secretário de Segurança do Estado do Rio, Marcelo Itagiba. Trata-se de operação de pré-lançamento da candidatura de Itagiba à sucessão da governadora Rosinha Matheus.

 

IstoÉ repercute o discurso ineficaz da “Guerra contra guerra”, como diz o título da reportagem. A politização da segurança pública na mídia sempre teve resultados lamentáveis. No Rio de Janeiro, a mídia não consegue fazer a crítica da velha e insistente promessa de usar a força, não a inteligência.