Salgado demais
A direção do jornal Valor Econômico não concorda com os termos do comentário feito quarta-feira neste Observatório, sob o título “mau jornalismo”, a respeito da notícia sobre os resultados das perfurações da Petrobras na camada de pré-sal.
Esclarece que a informação publicada na segunda-feira, dia 28, de que 32% dos poços perfurados pela Petrobras na camada de pré-sal na Bacia de Santos são secos ou pouco produtivos, é rigorosamente fiel ao que estava exposto no site que reúne informações da Agência Nacional de Petróleo.
Informa ainda que, ao ser procurada pela reportagem, a Petrobras não quis se manifestar, o mesmo acontecendo com a ANP.
Isso posto, observemos a notícia em si.
De fato, os dados pinçados pelo jornal estão corretos, se tomados isoladamente, mas eles não retratam a realidade do projeto de exploração da reserva recentemente revelada.
As publicações especializadas consideram que pode levar anos para se conhecer o potencial real dos campos do pré-sal e, mesmo depois de iniciada a extração, há uma série de intercorrências que podem alterar as previsões dos estoques de óleo que realmente podem ser comercializados.
Mas o conjunto isolado de dados não é suficiente para sugerir um número de ocorrências de poços secos fora do padrão do setor.
Como foi publicada, a notícia induzia o leitor a entender que há muito menos petróleo na camada de pré-sal do que aquilo que foi anunciado.
Aliás, a maior parte da mídia interessada no tema petróleo não discute essa questão, mas o modelo de exploração proposto pelo governo.
Trata-se de um bom exemplo de notícia correta inserida em contexto incorreto.
Tanto que não apenas a Petrobras, mas também outros jornais, como o Estado de S.Paulo, acabaram desmentindo a especulação de que a camada de pré-sal é um fiasco.
A Petrobras e a ANP ainda não responderam todas as questões feitas pelo Valor Econômico, segundo informa a direção do jornal de negócios, mas as informações trazidas pela reportagem não justificavam o teor pessimista da notícia.
Tanto que sua publicação afetou o valor das ações da Petrobras.
Digamos que o jornal salgou demais a pouca informação que possuía ou que escolheu publicar.
Fora de controle
Segundo os jornais desta semana, está declarada a guerra no Congresso Nacional.
Já são onze as representações encaminhadas ao Conselho de Ética contra o presidente do Senado, José Sarney.
As acusações vão desde o escandaloso amontoado de decisões administrativas secretas até a omissão de imóveis na declaração de bens do senador à Justiça Eleitoral.
Sarney tem uma justificativa do tipo “não sei, não sabia”, para cada denúncia, ou, através de aliados, observações de que “todo mundo faz”, como no caso das nomeações de parentes e protegidos para cargos de confiança.
Mas, no conjunto, não há como negar que a reputação do velho cacique da política está caindo de podre.
O pior dessa guerra é que o emaranhado de declarações e vazamentos leva o leitor a concluir que todo integrante do Congresso teve, tem ou terá alguma história escabrosa em seu prontuário.
Nesta quinta-feira, o Estado de S.Paulo revela que 70% dos membros do Conselho de Ética do Senado, aqueles que estarão encarregados de julgar José Sarney, são réus em ações penais, estão sendo investigados em inquéritos autorizados pelo Supremo Tribunal Federal ou estão envolvidos em casos de nepotismo ou com os próprios atos secretos.
Essa constatação quase dá razão aos defensores do presidente do Senado: “Sou, mas quem não é?”
Principalmente quando se observa que um dos mais agressivos acusadores de Sarney e um dos líderes da oposição se vê obrigado a devolver mais de R$ 200 mil pagos a um assessor-fantasma.
O problema, quando o noticiário se revela incapaz de fazer a triagem das acusações e propor uma hierarquia dos pecados de cada um, é que o maior prejuízo vai para as instituições da Repúblia.
Uma olhada nas áreas de comentários dos blogs de jornalistas e outros observadores da política chama atenção para o significativo número de cidadãos que defendem o simples fechamento do Congresso como medida de limpeza ética.
E no meio do noticiário escandaloso, uma pergunta não quer calar: qual é o critério de cada editor para destacar esta ou aquela denúncia?